A
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
(1643–46)
CAPÍTULO 1: DA SAGRADAS ESCRITURAS
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Ainda
que a luz da natureza e as obras da criação e da providência
manifestam de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que
os homens sejam inescusáveis, todavia não são suficientes para
dar aquele conhecimento de Deus e de sua vontade, necessário à
salvação; por isso agradou ao Senhor, em diversos tempos e
diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua
vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da
verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja
contra a corrupção da carne e contra a maldade de Satanás e do
mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna as
Escrituras Sagradas indispensável, tendo cessado aqueles antigos
modos de Deus revelar a sua vontade ao seu
povo.
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Sob
o nome de Escrituras Sagradas, ou Palavra de Deus escrita,
incluem-se agora todos os livros do Antigo e do Novo Testamento, que
são os
seguintes:
O ANTIGO TESTAMENTO
Gênesis Êxodo Levítico Números Deuteronômio Josué
Juízes Rute
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Samuel
-
Samuel
-
Reis
-
Reis
1 Crônicas
2 Crônicas Esdras Neemias Ester
Jó Salmos
Provérbios Eclesiastes Cantares Isaías Jeremias Lamentações
Ezequiel
Daniel Oséias Joel Amós Obadias Jonas Miquéias Naum
Habacuque Sofonias Ageu Zacarias Malaquias
Mateus Marcos Lucas João Atos Romanos
1Coríntios 2Coríntios Gálatas Efésios Filipenses Colossenses
1Tessalonicenses 2Tessalonicenses
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Timóteo
-
Timóteo
Tito Filemom Hebreus Tiago
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Pedro
-
Pedro
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João
-
João
-
João
Judas Apocalipse
Todos eles são dados por inspiração de Deus para serem a regra de
fé e prática.
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Os
livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração
divina, não fazem parte do Cânon das Escrituras; não são,
portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem
ser aprovados ou empregados senão como escritos
humanos.
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A
autoridade das Escrituras Sagradas, razão pela quais deves ser
cridas e obedecidas, não depende do testemunho de qualquer homem ou
igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o
Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de
Deus.
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Pelo
Testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e
reverente apreço pelas Escrituras Sagradas; a suprema excelência
do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu
estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo
(que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do
único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências
incomparáveis e completas perfeição são argumentos pelos quais
abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de Deus; contudo, a
nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina
autoridade provêm da operação interna do Espírito Santo que pela
Palavra e com a Palavra testifica em nossos corações.
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Todo
o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a
sua glória e para a salvação, fé e vida do homem, ou é
expressamente declarado nas Escrituras ou pode ser lógica e
claramente delas deduzido. Às Escrituras nada se acrescentará em
tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por
tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a
iluminação interior do Espírito de Deus para a salvadora
compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas
circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja,
comuns às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser
ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as
regras da Palavra, que sempre devem ser observadas.
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Nas
Escrituras não são todas as coisas em si, nem do mesmo modo
evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas,
cridas e observadas para a salvação, em uma ou outra passagem das
Escrituras são tão claramente expostas e aplicadas, que não só
os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios comuns,
podem alcançar uma suficiente compreensão
delas.
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O
Antigo Testamento em hebraico (língua nativa do antigo povo de
Deus) e o Novo Testamento em grego (a língua mais geralmente
conhecida entre as nações no tempo em que foi escrito), sendo
inspirados imediatamente por Deus, e pelo seu singular cuidado e
providência conservados puros em todos os séculos, são, por isso,
autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja
deve apelar para eles como um supremo tribunal; mas, não sendo
essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e
interesse nas Escrituras, e que deve, no temor de Deus, lê-las e
estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas comuns
de todas as nações aonde chegarem, a fim de que, permanecendo
nelas abundantemente a Palavra de Deus, adorem a Deus de modo
aceitável e possuam a esperança pela paciência e conforto das
Escrituras.
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A
regra infalível de interpretação das Escrituras é as próprias
Escrituras; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e
pleno sentido de qualquer texto das Escrituras (sentido que não é
múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido
por outros textos que falem mais
claramente.
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O
Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de
ser determinadas, e por quem serão examinados todos os decretos de
concílios, todas as opiniões particulares, o Juiz Supremo, em cuja
sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito
Santo falando nas Escrituras.
CAPÍTULO 2: DE DEUS E DA SANTÍSSIMA TRINDADE
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Há
um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e em
perfeição. Ele é um Espírito puríssimo, invisível, sem corpo,
sem membros, não sujeito a paixões; é imutável, imenso, eterno,
incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo, completamente
livre e absoluto, e tudo faz segundo o conselho da sua própria
vontade, que é reta e imutável, e para a sua própria glória. É
cheio de amor, gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e
verdadeiro galardoador dos que o buscam, e, contudo, justíssimo e
terrível em seus juízos, pois odeia todo o pecado; de modo algum
terá por inocente o
culpado.
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Deus
tem, em si mesmo, e de si mesmo, toda a vida, glória, bondade, e
bem- aventurança. Ele é todo-suficiente em si e para si, pois não
precisa das criaturas que trouxe à existência; não deriva delas
glória alguma, mas somente manifesta a sua glória nelas, por elas,
para elas e sobre elas. Ele é a única origem de todo ser; dele,
por ele e para ele são todas as coisas e sobre elas tem ele
soberano domínio para fazer com elas, para elas e sobre elas tudo
quanto quiser. Todas as coisas estão patentes e manifestas diante
dele; o seu saber é infinito, infalível e independente da
criatura, de sorte que para ele nada é contingente ou incerto. Ele
é santíssimo em todos os seus conselhos, em todas as suas obras e
em todos os seus preceitos. Da parte dos anjos e dos homens e de
qualquer outra criatura lhe são devidos todo culto, todo serviço e
toda obediência, que ele houve por bem exigir
deles.
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Na
unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância,
poder e eternidade: Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito
Santo. O Pai não é de ninguém: não é gerado, nem procedente; o
Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente
procedente do Pai e do
Filho.
CAPÍTULO 3: DOS
ETERNOS DECRETOS DE DEUS
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Desde
toda a eternidade e pelo mui sábio e santo conselho de sua própria
vontade, Deus ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece,
porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é
à vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência
das causas secundárias, antes
estabelecidas.
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Ainda
que sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as
circunstâncias imagináveis, Deus não decreta coisa alguma por
havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer
em tais condições.
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Pelo
decreto de Deus e para a manifestação da sua glória, alguns
homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros
preordenados para a morte
eterna.
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Esses
homens e esses anjos, assim predestinados e preordenados, são
particular e imutavelmente designados; o seu número é tão certo e
definido, que não pode ser nem aumentado nem
diminuído.
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Segundo
o seu eterno e imutável propósito, e segundo o santo conselho e
beneplácito de sua vontade, antes que fosse o mundo criado, Deus
escolheu em Cristo, para a glória eterna, os homens que são
predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça ele
os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão
de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra
coisa na criatura que a isso o movesse,
como condição
ou
causa.
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Assim
como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo
eterno e mui livre propósito de sua vontade, preordenou todos os
meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são eleitos,
achando-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são
eficazmente chamados para a fé em Cristo, pelo seu Espírito que
opera no tempo devido, são justificados, adotados, santificados e
guardados pelo seu poder, por meio da fé salvadora. Além dos
eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo,
eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo.
-
Segundo
o inescrutável conselho de sua própria vontade, pela qual ele
concede ou recusa
misericórdia,
como
lhe
apraz,
para
a
glória
de
seu
soberano
poder
sobre
as
suas
criaturas, para louvor de sua gloriosa justiça, o resto dos homens
foi Deus servido não contemplar e ordená-los para a desonra e ira
por causa de seus pecados.
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A
doutrina deste alto mistério de predestinação deve ser tratada
com especial prudência e cuidado, a fim de que os homens, atendendo
à vontade de Deus, revelada em sua Palavra, e prestando obediência
a ela, possam, pela evidência de sua vocação eficaz,
certificar-se de sua eterna eleição. Assim, a todos os que
sinceramente obedecem ao Evangelho, esta doutrina traz motivo de
louvor, reverência e admiração para com Deus, bem como de
humildade, diligência e abundante
consolação.
CAPÍTULO 4: DA CRIAÇÃO
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Ao
princípio aprouve a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para
manifestação da glória de seu eterno poder, sabedoria e bondade,
criar ou fazer do nada, no espaço de seis dias, e tudo muito bom, o
mundo e tudo o que nele há, quer as coisas visíveis quer as
invisíveis.
-
Depois
de haver feito as outras criaturas, Deus criou o homem, macho e
fêmea, com as almas racionais e imortais, e dotou-os de
inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo a sua própria
imagem, tendo a lei de Deus escrita em seus corações e o poder de
cumpri-la, mas com a possibilidade de transgredi-la, sendo deixados
à liberdade de sua própria vontade, que era mutável. Além dessa
escrita em seus corações, receberam o preceito de não comerem da
árvore da ciência do bem e do mal; enquanto obedeceram a este
preceito, foram felizes em sua comunhão com Deus e tiveram domínio
sobre as
criaturas.
CAPÍTULO 5: DA
PROVIDÊNCIA
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Pela
mui sábia e santa providência, segundo a sua infalível
presciência e o livre e imutável conselho de sua própria vontade,
Deus, o grande Criador de todas as coisas, para o louvor da glória
de sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia,
sustenta, dirige, dispõe e governa todas as criaturas, todas as
ações delas e todas as coisas, desde a maior até a menor.
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Posto
que, em relação à presciência e ao decreto de Deus, que é a
causa primária, todas as coisas acontecem imutável e
infalivelmente, contudo, pela mesma providência, Deus ordena que
elas sucedam, necessária, livre ou contingentemente, conforme a
natureza das causas
secundárias.
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Na
sua providência comum, Deus emprega meios; todavia, ele é livre
para operar sem eles, sobre eles ou contra eles, segundo o seu
beneplácito.
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A
onipotência, a sabedoria inescrutável e a bondade infinita de
Deus, de tal maneira se manifestam na sua providência, que esta se
estende até a primeira queda e a todos os outros pecados dos anjos
e dos homens, e isto não por uma mera permissão, mas por uma
permissão tal que, para os seus próprios e santos desígnios,
sábia e poderosamente os limita, regula e governa em uma múltipla
dispensação; mas essa permissão é tal, que a pecaminosidade
dessas transgressões procede tão somente da criatura e não de
Deus, que, sendo santíssimo e justíssimo, não pode ser o autor do
pecado e nem pode
aprová-lo.
-
O
muitíssimo sábio, justo e gracioso Deus muitas vezes deixa, por
algum tempo, seus filhos entregues a muitas tentações e à
corrupção de seus próprios corações, para castigá-los pelos
seus pecados anteriores ou fazer-lhes conhecer o poder oculto da
corrupção e dolo de seus corações, a fim de que eles sejam
humilhados; para animá-los a dependerem mais íntima e
constantemente do apoio dele e torná-los mais vigilantes contra as
futuras ocasiões de pecar, bem como para vários outros fins justos
e
santos.
-
Quanto
aos homens perversos e ímpios que Deus, como justo juiz, cega e
endurece em razão de pecados anteriores, ele não só lhes recusa a
graça pela qual poderiam ser iluminados em seus entendimentos e
movidos em seus corações, mas às vezes tira os dons que já
possuíam,
e
os
expõe
a
objetos
que,
por
sua
corrupção,
tornam
ocasiões
de
pecado;
além
disso, os entrega às suas próprias paixões, às tentações do
mundo e ao poder de Satanás; assim, acontece que eles se endurecem
sob as influências dos meios que Deus emprega para o abrandamento
dos outros.
-
Como
a providência de Deus se estende, em geral, a todas as criaturas,
assim, pois, de um modo muitíssimo especial, essa mesma providência
cuida de sua igreja e tudo dispõe a bem
dela.
CAPÍTULO 6: DA QUEDA
DO HOMEM, DO PECADO E DO SEU CASTIGO
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Nossos
primeiros pais seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás,
pecaram ao comerem o fruto proibido. Segundo o seu sábio e santo
conselho, foi Deus servido permitir este pecado deles, havendo
determinado ordená-lo para a sua própria
glória.
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Por
este pecado eles decaíram de sua retidão original e da comunhão
com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente
corrompidos em todas as faculdades e partes do corpo e da
alma.
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Sendo
eles o tronco de toda a humanidade, o delito de seus pecados foi
imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua
natureza corrompida, foram transmitidas a toda a sua posteridade,
que deles procede por geração
comum.
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Desta
corrupção original, pela qual ficamos totalmente indispostos,
incapazes e adversos a todo o bem e inteiramente inclinados a todo o
mal, é que procedem todas as transgressões
atuais.
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Esta
corrupção da natureza persiste, durante esta vida, naqueles que
são regenerados; e embora seja ela perdoada e mortificada por
Cristo, todavia ela como os seus impulsos são real e propriamente
pecado.
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Todo
pecado, tanto original como atual, sendo transgressão da justa lei
de Deus e a ela contrário, torna culpado o pecador, em sua própria
natureza, e por essa culpa está sujeito à ira de Deus e à
maldição da lei, e, portanto, sujeito à morte, com todas as
misérias espirituais, temporais e
eternas.
CAPÍTULO 7: DO PACTO DE DEUS COM O HOMEM
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Tão
grande é à distância entre Deus e a criatura, que, embora as
criaturas racionais lhe devam obediência como seu Criador, nunca
poderiam fruir nada dele, como bem-aventurança e recompensa, senão
por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual
agradou-lhe expressar por meio de um
pacto.
-
O
primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras; nesse pacto
foi a vida prometida a Adão e, nele, à sua posteridade, sob a
condição de perfeita e pessoal
obediência.
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Tendo-se
o homem tornado, pela sua queda, incapaz de ter vida por meio deste
pacto, o Senhor dignou-se a fazer um segundo pacto, geralmente
chamado de pacto da graça; neste pacto da graça ele livremente
oferece aos pecadores a vida e salvação através de Jesus Cristo,
exigindo deles a fé, para que sejam salvos, e prometendo o seu
Santo Espírito a todos os que estão ordenados para a vida, a fim
de dispô-los e habilitá-los a
crer.
-
Este
pacto da graça é freqüentemente apresentado nas Escrituras pelo
nome de testamento, em referência à morte de Cristo, o Testador, e
à eterna herança, com tudo o que lhe pertence, legada neste pacto.
-
Este
pacto, no tempo da Lei, não foi administrado como no tempo do
Evangelho. Sob a Lei, foi administrado por meio de promessas,
profecias, sacrifícios, da circuncisão, do cordeiro pascal e de
outros tipos e ordenanças dados ao povo judeu, tudo prefigurando
Cristo que havia de vir. Por aquele tempo, essas coisas, pela
operação do Espírito Santo, foram suficientes e eficazes para
instruir e edificar os eleitos na fé do Messias prometido, por quem
tinham plena remissão dos pecados e a salvação eterna; este se
chama o Antigo
Testamento.
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Sob
o Evangelho, quando Cristo, a Substância, se manifestou, as
ordenanças, nas quais este pacto é ministrado, passaram a ser a
pregação da Palavra e a administração dos Sacramentos do Batismo
e da Ceia do Senhor; por estas ordenanças, posto que em número
menor e administradas com mais simplicidade e menos glória externa,
o pacto se manifesta com mais plenitude, evidência e eficácia
espiritual, a todas as nações - tanto aos judeus como aos gentios.
Isto é chamado Novo Testamento. Não há, pois, dois pactos da
graça diferentes em substância, mas um e o mesmo sob várias
dispensações.
CAPÍTULO 8: DE CRISTO,
O MEDIADOR
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Aprouve
a Deus, em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus,
seu Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o homem, o
Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e Salvador de sua Igreja, o
Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do mundo; e deu-lhe, desde toda
a eternidade, um povo para ser sua semente, e para, no tempo devido,
ser por ele remido, chamado, justificado, santificado e
glorificado.
-
O
Filho de Deus, a segunda Pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e
eterno Deus, da mesma substância do Pai e igual a ele, quando
chegou o cumprimento do tempo, tomou sobre si a natureza humana com
todas as suas propriedades essenciais e enfermidades comuns, contudo
sem pecado, sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre
da Virgem Maria, e da substância dela. As duas naturezas inteiras,
perfeitas e distintas - a Divindade e a Humanidade - foram
inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão,
verdadeiro homem, porém um só Cristo, o único Mediador entre Deus
e o
homem.
-
O
Senhor Jesus, em sua natureza humana unida à divina, foi
santificado e sem medida ungido com o Espírito Santo, tendo em si
todos os tesouros da sabedoria e da
ciência.
Aprouve ao Pai que nele habitasse toda a plenitude, a fim de que,
sendo santo, inocente, incontaminado e cheio de graça e verdade,
estivesse perfeitamente preparado para exercer o ofício de Mediador
e Fiador. Este ofício ele não tomou para si, mas para ele foi
chamado pelo Pai, que lhe pôs nas mãos todo o poder e todo o
juízo, e lhe ordenou que os
exercesse.
-
Este
ofício o Senhor Jesus empreendeu mui voluntariamente. Para que
pudesse exercê- lo, ele se fez sujeito à lei, a qual cumpriu
perfeitamente, padeceu imediatamente em sua alma os mais cruéis
tormentos, e em seu corpo, os mais penosos sofrimentos; foi
sepultado e ficou sob o poder da morte, mas não viu a corrupção;
ao terceiro dia ressuscitou dois mortos, com esse corpo subiu ao
céu, onde está sentado à destra do Pai, fazendo intercessão; de
lá voltará no fim do mundo para julgar os homens e os
anjos.
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O
Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si
mesmo, sacrifício que, pelo Eterno Espírito, ofereceu a Deus uma
só vez, satisfez plenamente à justiça de seu Pai, e, para todos
aqueles que o Pai lhe deu, adquiriu não só a reconciliação, como
também uma herança perdurável no Reino dos
Céus.
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Ainda
que a obra da redenção não fora realmente realizada por Cristo
senão depois de sua encarnação, contudo a virtude, a eficácia e
os benefícios dela, em todas as épocas sucessivas desde o
princípio do mundo foram comunicados aos eleitos por meio das
promessas, tipos e sacrifícios, pelos quais ele devia esmagar a
cabeça da serpente, como o cordeiro morto desde o princípio do
mundo, sendo ele o mesmo ontem, hoje e para
sempre.
-
Cristo,
na obra de mediação, age de conformidade com as suas duas
naturezas, fazendo cada uma o que lhe é próprio; contudo, em razão
da unidade de uma pessoa, o que é próprio de uma natureza é, às
vezes, nas Escrituras, atribuído à pessoa denominada pela outra
natureza.
-
Cristo,
com toda certeza e de forma eficaz, aplica e comunica a salvação a
todos aqueles para quem a adquiriu. Isto ele consegue, fazendo
intercessão por eles e revelando-lhes na Palavra e pela Palavra os
mistérios da salvação, persuadindo-os, eficazmente, pelo seu
Espírito, subjugando todos os seus inimigos por meio de sua
onipotência e sabedoria, da maneira e pelos meios mais condizentes
com a sua admirável e inescrutável
dispensação.
CAPÍTULO 9: DO LIVRE-ARBÍTRIO
-
Deus
dotou a vontade do homem de tal liberdade natural, que ela nem é
forçada para o bem nem para o mal, nem a isso é determinada por
qualquer necessidade absoluta de sua natureza.
-
O
homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de
querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus; mas era
passível de mudança, de sorte que pudesse cair dessa liberdade e
poder.
-
O
homem, ao cair no estado de pecado, perdeu inteiramente todo o poder
de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a
salvação; de sorte que um homem natural, inteiramente contrário a
esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder,
converter-se ou mesmo preparar-se para
isso.
-
Quando
Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, ele
o liberta de sua natural escravidão ao pecado e, somente por sua
graça, o habilita a querer e a fazer com toda a liberdade o que é
espiritualmente bom, mas isso de tal modo que, por causa da
corrupção ainda existente nele, o pecador não faz o bem
perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas também o que é
mau.
-
É
no estado de glória que a vontade do homem se torna perfeita e
imutavelmente livre para o bem
só.
CAPÍTULO 10: DA
VOCAÇÃO EFICAZ
-
Todos
aqueles a quem Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele
servido chamar eficazmente pela sua Palavra e pelo seu Espírito, no
tempo por ele determinado e aceito, tirando-os daquele estado de
pecado e morte em que estão por natureza para a graça e salvação,
em Jesus Cristo. Isto ele o faz, iluminando os seus entendimentos,
espiritual e salvificamente, a fim de compreenderem as coisas de
Deus, tirando-lhes os seus corações de pedra e dando-lhes corações
de carne, renovando as suas vontades e determinando-as, pela sua
onipotência, para aquilo que é bom, e atraindo-os eficazmente a
Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo
para isso dispostos pela sua
graça.
-
Esta
vocação eficaz provém unicamente da livre e especial graça de
Deus, e não de qualquer coisa prevista no homem; nesta vocação, o
homem é inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado pelo
Espírito Santo, fica habilitado a corresponder a ela e a receber a
graça nela oferecida e
comunicada.
-
As
crianças eleitas que morrem na infância são regeneradas e salvas
por Cristo por meio do Espírito que opera quando, onde e como lhe
apraz. Do mesmo modo são salvas todas as outras pessoas eleitas
incapazes de serem exteriormente chamadas pelo ministério da
palavra.
-
Os
não eleitos, ainda que chamados pelo ministério da Palavra e
tenham algumas das operações comuns do Espírito, contudo jamais
chegam a Cristo e, portanto, não podem ser salvos; muito menos
poderão ser salvos por qualquer outro meio os que não professam a
religião cristã, por mais diligentes que sejam em padronizar suas
vidas de acordo com a luz da natureza e com a lei da religião que
professam; asseverar e manter que o podem é muito pernicioso e
detestável.
CAPÍTULO 11: DA
JUSTIFICAÇÃO
-
Os
que Deus chama eficazmente, também livremente justifica. Esta
justificação não consiste em Deus infundir neles a justiça, mas
em perdoar os seus pecados e em considerar e aceitá-los como
justos. Deus não os justifica em razão de qualquer coisa neles
operada ou por eles feita mas somente em consideração à obra de
Cristo; não lhes imputando como justiça à própria
fé,
o
ato
de
crer,
ou
qualquer
outro
ato
de
obediência
evangélica,
mas
imputando-lhes
a obediência e a satisfação de Cristo, quando eles o recebem e se
firmam nele pela fé, fé esta que possuem não como oriunda de si
mesmos, mas como dom de Deus.
-
A
fé, assim recebendo e assim repousando em Cristo e em sua justiça,
é o único instrumento da justificação; contudo, não está
sozinha na pessoa justificada, mas sempre acompanhada de todas as
demais graças salvíficas; não é uma fé morta, mas a fé que age
através do amor.
-
Cristo,
por meio de sua obediência e morte, pagou plenamente a dívida de
todos que são assim justificados, e, em favor deles, fez à justiça
de seu Pai uma satisfação própria, real e plena. Contudo, como
Cristo foi pelo Pai dado em favor deles, e como a obediência e a
satisfação dele foram aceitas em lugar deles, ambas livremente e
não por nada que neles existe, a justificação deles provém
unicamente da livre graça, a fim de que tanto a perfeita justiça
como a graça abundante de Deus possam ser glorificadas na
justificação dos pecadores.
-
Deus,
desde toda a eternidade, decretou justificar todos os eleitos; e
Cristo, no cumprimento do tempo, morreu pelos pecados deles e
ressuscitou para a justificação deles; contudo, eles não são
justificados até que o Espírito Santo, no tempo próprio e de
fato, comunica-lhes
Cristo.
-
Deus
continua a perdoar os pecados dos que são justificados. Embora eles
nunca possam
cair do estado de justificação, poderão, contudo, por seus
pecados, incorrer no paternal desagrado de Deus e ficar privados da
luz de sua graça, até que se humilhem, confessem os seus pecados,
peçam perdão e renovem a sua fé e o seu
arrependimento.
-
A
justificação dos crentes sob o Antigo Testamento era, em todos
estes aspectos, uma e a mesma justificação dos crentes sob o Novo
Testamento.
CAPÍTULO 12: DA ADOÇÃO
1. A todos os que são justificados, Deus se digna fazer
participantes da graça da adoração em e por seu único Filho Jesus
Cristo. Por essa graça, eles são recebidos no número e gozam a
liberdade e privilégios dos filhos de Deus, têm sobre si o nome
dele, recebem o Espírito de adoração, têm acesso, com ousadia, ao
trono da graça, e são habilitados e clamam: “Aba, Pai”; são
tratados com piedade, protegidos, providos e corrigidos por ele, como
por um Pai; nunca, porém, abandonados, mas selados para o dia da
redenção, e recebem as promessas como herdeiros da eterna
salvação.
CAPÍTULO 13: DA SANTIFICAÇÃO
-
Os
que são eficazmente chamados e regenerados, tendo sido criado neles
um novo coração e um novo Espírito, são, além disso,
santificados, real e pessoalmente, pela virtude da morte e
ressurreição de Cristo, por sua Palavra e por seu Espírito, que
neles habita; o domínio de todo o corpo do pecado é destruído, as
suas várias concupiscências são mais e mais enfraquecidas e
mortificadas, e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em
todas as graças salvadoras, para a prática da verdadeira santidade
sem a qual ninguém verá o
Senhor.
-
Esta
santificação é no homem todo, porém imperfeita nesta vida; ainda
subsiste em todas as partes dele restos da corrupção, e daí
nasceu uma guerra contínua e irreconciliável: a carne lutando
contra o Espírito, e o Espírito contra a
carne.
-
Nesta
guerra, embora prevaleçam por algum tempo as corrupções que
restam, contudo, pelo contínuo socorro da eficácia do santificador
Espírito de Cristo, à parte regenerada conquista a vitória, e
assim os santos crescem em graça, aperfeiçoando a sua santidade no
temor de
Deus.
CAPÍTULO 14: DA FÉ SALVADORA
-
A
graça da fé, por meio da qual os eleitos são habilitados a crer
para a salvação das suas almas, é a obra que o Espírito de
Cristo faz nos corações deles, e é sempre operada pelo ministério
da Palavra, por esse ministério, bem como pela administração dos
sacramentos e pela oração, ela é aumentada e
fortalecida.
-
Por
esta fé o cristão, segundo a autoridade do mesmo Deus que fala em
sua Palavra, crê ser verdade tudo quanto nela é revelado, e age de
conformidade com aquilo que cada passagem contém em particular,
prestando obediência aos mandamentos, temendo as ameaças e
abraçando as promessas de Deus para esta vida e para a futura;
porém, os principais atos de fé salvadora são: aceitar e receber
Cristo e descansar só nele para a justificação, santificação e
vida eterna, isto em virtude do pacto da
graça.
-
Esta
fé é de diferentes graus: é fraca ou forte, pode ser muitas vezes
e de muitos modos assaltada e enfraquecida, mas sempre alcança a
vitória, desenvolvendo-se em muitos até à plena segurança em
Cristo, que é tanto o Autor como Consumador da
fé.
CAPÍTULO 15: DO
ARREPENDIMENTO PARA A VIDA
-
O
arrependimento para a vida é uma graça evangélica, doutrina esta
que deve ser pregada por todo ministro do Evangelho, tanto quanto a
fé de
Cristo.
-
Movido
pelo reconhecimento e sentimento, não só do perigo, mas da
impureza
e odiosidade de
seus pecados, como contrários à santa natureza e justa lei de
Deus, e se conscientizando da misericórdia divina manifesta em
Cristo aos que são penitentes, o pecador, pelo arrependimento, de
tal maneira sente e aborrece os seus pecados que, deixando-os, se
volta para Deus, tencionando e procurando andar com ele em todos os
caminhos de seus mandamentos.
-
Ainda
que não devamos confiar no arrependimento como sendo de algum modo
uma satisfação pelo pecado, ou em qualquer sentido a causa do
perdão dele, o que é ato da livre graça de Deus em Cristo,
contudo ele é de tal modo necessário aos pecadores, que sem ele
ninguém poderá esperar o
perdão.
-
Assim
como não há pecado tão pequeno que não mereça a condenação,
também não há pecado tão grande que possa trazer a condenação
sobre os que se arrependem verdadeiramente.
-
Os
homens não devem se contentar com um arrependimento geral, mas é
dever de todos procurar arrepender-se particularmente de cada um dos
seus
pecados.
-
Assim
como cada homem é obrigado a fazer a Deus confissão particular de
seus pecados pedindo-lhe o perdão deles, e abandonando-os, achará
misericórdia; também aquele que escandaliza o seu irmão ou a
Igreja de Cristo deve estar pronto, por meio de uma confissão
particular ou pública de seu pecado e do pesar que por ele sente, a
declarar o seu arrependimento aos que estão ofendidos; isto feito,
estes devem reconciliar-se com o penitente e recebê-lo em
amor.
CAPÍTULO 16: DAS BOAS
OBRAS
-
As
boas obras são somente aquelas que Deus ordena em sua santa
Palavra, não as que, sem a autoridade dela, são aconselhadas pelos
homens movidos por um zelo cego ou sob qualquer outro pretexto de
boa intenção.
-
Estas
boas obras feitas em obediência aos mandamentos de Deus são o
fruto e as evidências de uma fé viva e verdadeira; por elas os
crentes manifestam a sua gratidão, robustecem a sua confiança,
edificam os seus irmãos, adornam a profissão do Evangelho, fecham
a boca aos adversários e glorificam a Deus, de quem são feitura,
criados em Jesus Cristo para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu
fruto em santidade, tenham no final a vida eterna.
-
A
capacidade de fazer boas obras de modo algum provém dos crentes,
mas inteiramente do Espírito Santo para operar neles tanto o querer
como o realizar segundo o seu beneplácito; contudo, não devem, por
isso, tornar-se negligentes, como se não fossem obrigados a cumprir
qualquer dever senão quando movidos especialmente pelo Espírito;
pelo contrário, devem esforçar-se por dinamizar a graça de Deus
que neles
está.
-
Os
que alcançam, pela sua obediência, a maior perfeição possível
nesta vida estão longe de exceder as suas obrigações e fazer mais
do que Deus requer, e são deficientes em muitos dos deveres
obrigados a
fazer.
-
Não
podemos, pelas nossas melhores obras, merecer das mãos de Deus
perdão de pecado ou vida eterna, em razão da grande desproporção
que há entre elas e a glória por vir, e da infinita distância que
existe entre nós e Deus, a quem não podemos ser úteis por meio
delas, nem saldar a dívida dos nossos pecados anteriores; e porque,
como boas, procedem de seu Espírito; e, como nossas, são impuras e
misturadas com tanta fraqueza e imperfeição, que não podemos
suportar a severidade do juízo de Deus; assim, depois que tivermos
feito tudo quanto podemos, temos cumprido tão somente o nosso
dever, e somos servos
inúteis.
-
Não
obstante, as pessoas dos crentes sendo aceitas por meio de Cristo,
suas obras são também aceitas por ele, não como se fossem, nesta
vida, inteiramente perfeitas e irreprováveis à vista de Deus, mas
porque Deus, considerando-as em seu Filho, é servido aceitar e
recompensar aquilo que é sincero, embora seja acompanhado de muitas
fraquezas e imperfeições.
-
As
obras feitas pelos não regenerados, embora sejam, quanto à
matéria, coisas que Deus ordena, e úteis tanto a eles mesmos
quanto aos outros, contudo, porque procedem de corações não
purificados pela fé, não são feitas devidamente segundo a
Palavra; nem para um fim justo a glória é de Deus; são, portanto,
pecaminosas e não podem agradar a Deus, nem preparar o homem para
receber a graça de Deus; não obstante, o negligenciá-las é ainda
mais pecaminoso e ofensivo a
Deus.
CAPÍTULO 17: DA PERSEVERANÇA DOS SANTOS
-
Os
que Deus aceitou em seu Amado, eficazmente chamados e santificados
pelo seu Espírito, não podem cair do estado de graça, nem total
nem finalmente; mas com toda a certeza hão de perseverar nesse
estado até ao fim, e estarão eternamente
salvos.
-
Esta
perseverança dos santos depende, não do próprio livre-arbítrio
deles, mas da imutabilidade do decreto da eleição, procedente do
livre e imutável amor de Deus Pai, da eficácia do mérito e
intercessão de Jesus Cristo, da permanência do Espírito e da
semente de Deus neles, da natureza do pacto da graça e de tudo o
que gera também a sua exatidão e infalibilidade.
-
Eles,
porém, pelas tentações de Satanás e do mundo, pelo predomínio
da corrupção restante deles e pela negligência dos meios de sua
preservação, podem cair em graves pecados e, por algum tempo,
continuar neles; incorrem, assim, no desagrado de Deus, entristecem
o seu Santo Espírito e, em alguma medida, vêm a ser privados de
suas graças e confortos; têm seus corações endurecidos e suas
consciências feridas; prejudicam e escandalizam os outros e atraem
sobre si juízos
temporais.
CAPÍTULO 18: DA CERTEZA DA GRAÇA E DA SALVAÇÃO
-
Ainda
que os hipócritas e os demais não regenerados possam iludir-se em
vão com falsas esperanças e com a carnal presunção de se acharem
no favor de Deus e em estado de salvação, esperança essa que
perecerá, contudo os que verdadeiramente crêem no Senhor Jesus e o
amam com sinceridade, procurando andar diante dele em toda a boa
consciência, podem nesta vida certificar-se de se acharem em estado
de graça, e podem regozijar-se na esperança da glória de Deus,
esperança que jamais os
envergonhará.
-
Esta
certeza não é uma simples persuasão conjectural e provável,
fundada numa esperança falha, mas uma segurança infalível da fé,
fundada na divina verdade das promessas de salvação, na evidência
interna daquelas graças nas quais essas promessas são feitas, no
testemunho do Espírito de adoção que testifica com o nosso
espírito que somos filhos de Deus, sendo esse Espírito o penhor de
nossa herança, e por meio de quem somos selados para o dia da
redenção.
-
Esta
segurança infalível não pertence de tal modo à essência da fé,
que um verdadeiro crente, antes de possuí-la não tenha de esperar
muito e de lutar com muitas dificuldades; contudo, sendo pelo
Espírito capacitado a conhecer as coisas que lhe são livremente
dadas por Deus, ele pode obtê-la sem revelação extraordinária,
no devido uso dos meios comuns. É, pois, dever de cada um ser
diligente e tornar certas sua vocação e eleição, a fim de que,
por esse modo, seja o seu coração, no Espírito Santo, dilatado em
paz e em deleite, em amor e em gratidão para com Deus, no vigor e
na alegria, nos deveres da obediência que são os frutos próprios
desta segurança. Longe esteja isto de predispor os homens à
negligência.
-
Os
verdadeiros crentes podem ter, de diversas maneiras, a segurança de
sua salvação abalada, diminuída e tornada intermitente,
negligenciando a conservação dela, caindo em algum pecado especial
que fira a consciência e entristeça o Espírito Santo, cedendo a
fortes e repentinas tentações, retirando Deus a luz de seu rosto e
permitindo que andem em trevas e não tenham luz mesmo os que o
temem; contudo, eles nunca ficam inteiramente privados daquela
semente de Deus e da vida da fé, daquele amor a Cristo e aos
irmãos, daquela sinceridade de coração e consciência do dever;
daí, a certeza da salvação poderá, no tempo próprio, ser
restaurada pela operação do Espírito, e por meio dessas bênçãos
são sustentados para não caírem em total
desespero.
CAPÍTULO 19: DA LEI DE
DEUS
-
Deus
outorgou a Adão uma lei, como um pacto de obras. Por este pacto
Deus o obrigou, bem como a toda a sua posteridade, a uma obediência
pessoal, plena, exata e perpétua; prometeu-lhe a vida sob a
condição de ele cumprir a lei, e o ameaçou com a morte caso a
violasse, e dotou-o com poder e capacidade para
guardá-la.
-
Essa
lei, depois da queda do homem, continua sendo uma perfeita regra de
justiça. Como tal, foi por Deus entregue no monte Sinai em dez
mandamentos e escrita em duas tábuas de pedra; os primeiros quatro
mandamentos contêm os nossos deveres para com Deus; e os outros
seis, os nossos deveres para com o
homem.
-
Além
dessa lei, geralmente chamada lei moral, quis Deus dar ao seu povo
Israel, considerado uma igreja sob sua tutela, leis cerimoniais que
contêm diversas ordenanças típicas. Essas leis, que em parte se
referem ao culto e prefiguram Cristo, suas graças, seus atos, seus
sofrimentos e seus benefícios, e em parte representam várias
instruções de deveres morais, estão todas abolidas sob o Novo
Testamento.
-
A
esse mesmo povo, considerado um corpo político, Deus concedeu
diversas leis judiciais que deixaram de vigorar quando o país
daquele povo também deixou de existir, e que agora não obrigam a
ninguém além do que exige a sua eqüidade
geral.
-
A
lei moral obriga a todos a prestar-lhe obediência para sempre,
tanto as pessoas justificadas quanto as demais, e isto não somente
por causa da matéria nela contida, mas também pelo respeito à
autoridade de Deus, o Criador, que a deu. Cristo, no Evangelho, de
modo algum desfaz esta obrigação, antes a reveste de maior
vigor.
-
Embora
os verdadeiros crentes não estejam sob a lei como um pacto de
obras, para serem por ela justificados ou condenados, contudo ela
serve de grande proveito, tanto a eles, como aos demais. Como regra
de vida, ela lhes informa da vontade de Deus e do dever que eles
têm; os dirige e os obriga a andar conforme essa vontade;
descobre-lhes também as pecaminosas poluções de sua natureza, de
seus corações e de suas vidas, de maneira que, examinando-se
por
meio
dela,
alcançam
mais
profunda
convicção
de
pecado,
maior
humilhação por causa dele e maior aversão a ele, ao mesmo tempo
lhes dá mais clara visão da necessidade que têm de Cristo e da
perfeita obediência a ele devida. Ela é também
de utilidade aos regenerados a fim de conter a sua corrupção,
pois proíbe o pecado; as suas ameaças servem para mostrar o que
merecem os seu pecados; e quais as aflições que por causa dele
devem esperar nesta vida, ainda que estejam livres da maldição
ameaçada na lei. Do mesmo modo, as suas promessas mostram que Deus
aprova a obediência deles, e que bênçãos podem esperar dessa
obediência, ainda que essas bênçãos não lhes sejam devidas pela
lei considerada pacto de obras, assim como fazer um homem o bem ou
evitar ele o mal, só porque a lei estimula aquilo e proíbe isto,
não prova estar ele sob a lei e não sob a
graça.
-
Os
supracitados usos da lei não são contrários à graça do
Evangelho, mas suavemente se harmonizam com ela, pois o Espírito de
Cristo submete e capacita a vontade do homem a fazer livre e
alegremente aquilo que a vontade de Deus, revelada na lei, exige que
se
faça.
CAPÍTULO
20: DA LIBERDADE CRISTÃ E DA LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA
-
A
liberdade que Cristo, sob o Evangelho, comprou para os crentes
consiste em serem eles libertos da culpa do pecado, da ira
condenatória de Deus, da maldição da lei moral; em serem libertos
deste presente mundo ímpio, do cativeiro de Satanás, do domínio
do pecado, da nocividade das aflições, do aguilhão da morte, da
vitória da sepultura e da condenação eterna; como também em
terem eles livre acesso a Deus, em lhe prestarem obediência, não
movidos de um medo servil, mas de amor filial e de espírito
voluntário. Todos esses privilégios eram comuns também aos
crentes sob a lei; mas, sob o Novo Testamento, a liberdade dos
cristãos está mais ampliada, achando-se eles livres do jugo da lei
cerimonial a que estava sujeita a igreja judaica, e tendo mais
outras ousadias no acesso ao trono da graça e mais plenas
comunicações do gracioso Espírito de Deus, do que normalmente
alcançavam os crentes sob a lei.
-
Só
Deus é Senhor da consciência, e a deixou livre das doutrinas e
mandamentos
humanos que, em qualquer coisa, sejam contrários à sua Palavra, ou
que, em matéria de fé ou de culto, estejam fora dela. Assim, crer
em tais doutrinas ou obedecer a tais mandamentos, por motivo de
consciência, é trair a verdadeira liberdade de consciência; e
requerer para eles fé implícita e obediência cega e absoluta, é
destruir a liberdade de consciência e a própria
razão.
-
Aqueles
que, sob o pretexto de liberdade cristã, cometem qualquer pecado ou
toleram qualquer concupiscência, destroem, por isso mesmo, o fim da
liberdade cristã; pelo contrário, sendo livres das mãos de nossos
inimigos, sem medo sirvamos ao Senhor em santidade e justiça,
diante dele, todos os dias de nossa
vida.
-
Visto
que os poderes que Deus ordenou, e a liberdade que Cristo comprou
não foram por Deus designados para destruir, mas para que
mutuamente nos apoiemos e preservemos uns aos outros, resistem à
ordenança de Deus os que, sob pretexto de liberdade cristã, se
opõem a qualquer poder legítimo, civil ou religioso, ou ao
exercício dele. Se publicarem opiniões ou mantiverem práticas
contrárias à luz da natureza ou aos reconhecidos princípios do
cristianismo concernentes à fé, ao culto ou ao procedimento; se
publicarem opiniões, ou mantiverem práticas contrárias ao poder
da piedade, ou que, por sua própria natureza ou pelo modo de
publicá-las e mantê-las, são destrutivas da paz externa da Igreja
e da ordem que Cristo estabeleceu nela, podem legalmente ser
processados e visitados com as censuras da Igreja.
CAPÍTULO
21: DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO
-
A
luz da natureza mostra que há um Deus, que tem domínio e soberania
sobre tudo, que é bom e faz o bem a todos, e que, portanto, deve
ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o
coração, de toda a alma e de toda a força; mas, o modo aceitável
de adorar o
verdadeiro
Deus
é
instituído
por
ele
mesmo,
e
é
tão
limitado
pela
sua
própria
vontade
revelada que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e
invenções dos homens ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer
representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito
nas Sagradas Escrituras.
-
O
culto religioso deve ser prestado a Deus o Pai, o Filho e o Espírito
Santo e só a ele; não deve ser prestado nem aos anjos nem aos
santos, nem a qualquer outra criatura; nem deve depois da queda ser
prestado a Deus pela mediação de qualquer outro, senão unicamente
a de Cristo.
-
A
oração, com ação de graças, sendo uma parte especial do culto
religioso, é por Deus exigida de todos os homens; e, para que seja
aceita, deve ser feita em nome do Filho, pelo auxílio de seu
Espírito, segundo a sua vontade, e isto com inteligência,
reverência, humildade, fervor, fé, amor e perseverança. Se for em
voz alta, deve ser proferida em uma língua conhecida dos presentes.
-
A
oração deve ser feita por coisas lícitas e por todas as classes
de homens que existem atualmente ou que existirão no futuro; mas
não deve ser feita em favor dos mortos, nem em favor daqueles que
se saiba terem cometido o pecado para a
morte.
-
A
leitura das Escrituras, com santo temor, a sã pregação da Palavra
e a consciente atenção a ela, em obediência a Deus, com
entendimento, fé e reverência, o cântico de salmos, com gratidão
no coração bem como a devida administração e digna recepção
dos sacramentos instituídos por Cristo são partes do culto comum
oferecido a Deus, além dos juramentos religiosos, votos, jejuns
solenes e ações de graça em ocasiões especiais, os quais, em
seus vários tempos e ocasiões próprias, devem ser usados de um
modo santo e
religioso.
-
Agora,
sob o Evangelho, nem a oração, nem qualquer outro ato do culto
religioso é restrito a certo lugar, nem se torna mais aceitável
por causa do lugar em que se ofereça ou para o qual se dirija; mas
Deus deve ser adorado em todo lugar, em Espírito e em verdade,
tanto em família, diariamente, e em secreto, estando cada um
sozinho, como também, mais solenemente, em assembléias públicas,
que não devem ser descuidadas, nem voluntariamente negligenciadas
ou desprezadas, sempre que Deus, pela sua providência, proporcione
ocasião.
-
Como
é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção de tempo
seja destinada ao culto de Deus, assim também, em sua Palavra, por
um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos
os homens, em todas as épocas, Deus designou particularmente um dia
em sete para ser um sábado (= descanso) santificado por ele; desde
o princípio do mundo, até à ressurreição de Cristo, esse dia
foi o último dia da semana; e desde a ressurreição de Cristo, foi
mudado para o primeiro dia da semana, dia que nas Escrituras é
chamado dia do Senhor (= domingo), e que há de continuar até o fim
do mundo como o sábado cristão.
-
Este
sábado é santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente
preparado os seus corações e de antemão ordenado os seus negócios
comuns, não só guardam, durante todo o dia um santo descanso das
suas obras, palavras e pensamentos a respeito de seus empregos
seculares e de suas recreações, mas também ocupam todo o tempo em
exercícios públicos e particulares de culto e nos deveres de
necessidade e de
misericórdia.
CAPÍTULO 22: DOS
JURAMENTOS LEGAIS E DOS VOTOS
-
O
juramento legal é uma parte do culto religioso em que o crente, em
ocasiões próprias e com toda a solenidade, chama a Deus por
testemunha do que assevera ou promete; pelo juramento ele invoca a
Deus a fim de ser julgado por ele, segundo a verdade ou a falsidade
do que jura.
-
O
único nome pelo qual se deve jurar é o nome de Deus, nome que se
pronunciará com todo o santo temor e reverência; jurar, pois,
falsa ou temerariamente por este glorioso e tremendo nome, ou jurar
por qualquer outra coisa é pecaminoso e abominável. Contudo, como
em
assuntos
de
gravidade
e
importância,
o
juramento
é
autorizado
pela
Palavra
de
Deus, tanto sob o Novo Testamento quanto sob o Antigo Testamento, o
juramento, sendo exigido pela autoridade legal, deve ser prestado com
reverência a tais assuntos.
-
Quem
vai prestar um juramento deve considerar refletidamente a gravidade
de um ato tão solene, e nada afirmar senão do que esteja
plenamente persuadido ser a verdade. Ninguém deve obrigar-se por
juramento a qualquer coisa que seja ou que acredite ser boa e justa
e por aquilo que pode e está resolvido a cumprir. É, porém,
pecado recusar prestar juramento concernente a qualquer coisa justa
e boa, sendo exigido pela autoridade
legal.
-
O
juramento deve ser prestado conforme o sentido comum e claro das
palavras, sem equívoco ou reserva mental. Não pode obrigar a
pecar; mas, sendo prestado com referência a qualquer coisa não
pecaminosa, obriga ao cumprimento, mesmo com prejuízo de quem jura.
Não deve ser violado, ainda que feito a hereges ou a
infiéis.
-
O
voto é da mesma natureza que o juramento promissório; deve ser
feito com o mesmo cuidado religioso e cumprido com igual
fidelidade.
-
O
voto não deve ser feito a criatura alguma, mas só a Deus; para que
seja aceitável, deve ser feito voluntariamente, com fé e
consciência de dever, em reconhecimento de misericórdias recebidas
ou para obter o que desejamos. Pelo voto obrigamo-nos mais
restritamente aos deveres necessários ou a outras coisas, até onde
ou quando elas conduzirem a esses
deveres.
-
Ninguém
deve prometer fazer coisa alguma que seja proibida na Palavra de
Deus, ou que impeça o cumprimento de qualquer dever nela ordenado,
nem o que não está em seu poder cumprir e para cuja execução não
tenha promessa ou competência da parte de Deus; por isso, os votos
monásticos, que os papistas fazem, do celibato perpétuo, da
pobreza voluntária e da obediência regular, em vez de serem graus
de maior perfeição, não passam de laços supersticiosos e iníquos
com os quais nenhum cristão deve
embaraçar-se.
CAPÍTULO 23: DO
MAGISTRADO CIVIL
-
Deus,
o Senhor supremo e Rei de todo o mundo, para a sua própria glória
e para o bem público, constituiu sobre o povo magistrados civis, a
ele sujeitos, e para este fim os armou com o poder da espada para
defesa e incentivo dos bons e castigo dos
malfeitores.
-
Aos
cristãos é lícito aceitar e exercer o ofício de magistrado,
sendo para ele chamados; e em sua administração, como devem
especialmente manter a piedade, a justiça e a paz, segundo as leis
salutares de cada estado, eles, sob a dispensação do Novo
Testamento, para esse fim, podem licitamente fazer guerra, havendo
ocasiões justas e
necessárias.
-
Os
magistrados civis não podem tomar sobre si a administração da
Palavra e dos Sacramentos, ou o poder das chaves do Reino do Céu,
nem de modo algum interferir em matéria de fé; contudo, como pais
solícitos, têm o dever de proteger a igreja de nosso comum Senhor,
sem dar preferência a qualquer denominação cristã acima das
outras, de tal maneira que todos os eclesiásticos, sem distinção,
gozem plena, livre e indisputada liberdade
de cumprir
todas as partes das suas sagradas funções, sem violência ou
perigo. Como Jesus Cristo constituiu em sua igreja um governo
regular e uma disciplina, nenhuma lei de qualquer estado deve
interferir, impedir, ou embaraçar o seu devido exercício entre os
membros voluntários de qualquer denominação cristã, segundo a
profissão e crença de cada uma. E é dever dos magistrados civis
proteger a pessoa e o bom nome de todos os que lhe são
relacionados, de modo que a ninguém seja permitido, sob pretexto de
religião ou de incredulidade, ofender, perseguir, maltratar ou
injuriar a quem quer que seja; e bem assim tomar providências para
que todas as assembléias religiosas e eclesiásticas possam
reunir-se sem serem perturbadas ou
molestadas.
-
É
dever do povo orar pelos magistrados, honrá-los, pagar-lhes
tributos e outros impostos, obedecer às suas ordens legais e
sujeitar-se à sua autoridade, e tudo isto por dever de consciência.
Incredulidade ou indiferença em questão de religião não invalida
a justa autoridade
do
magistrado,
nem
isenta
o
povo
da
obediência
que
lhe
deve,
obediência
essa
da
qual não estão excluídos os eclesiásticos. O papa não tem nenhum
poder ou jurisdição sobre os magistrados dentro dos domínios
deles, ou sobre qualquer um de seu povo; e muito menos tem o poder de
privá-los de seus domínios ou de suas vidas por julgá-los hereges
ou sob qualquer outro pretexto.
CAPÍTULO 24: DO
MATRIMÔNIO E DO DIVÓRCIO
-
O
casamento deve ser entre um homem e uma mulher; ao homem não é
lícito ter mais de uma esposa, nem à mulher mais de um marido ao
mesmo
tempo.
-
O
matrimônio foi ordenado para o auxílio mútuo de marido e esposa,
para a propagação da raça humana por uma sucessão legítima, e
da Igreja por uma semente santa, e para evitar- se a
impureza.
-
A
todos os que são capazes de dar um consentimento ajuizado, é
lícito casar, mas é dever dos cristãos casar somente no Senhor;
portanto, os que professam a verdadeira religião reformada não
devem casar-se com infiéis, papistas ou outros idólatras; nem
devem os piedosos prender-se a jugo desigual por meio do casamento
com os que são notoriamente ímpios em suas vidas, ou que mantêm
heresias
perniciosas.
-
Não
devem casar-se as pessoas entre as quais existem os graus de
consangüinidade ou afinidade proibidos na Palavra de Deus; tais
casamentos incestuosos jamais poderão tornar-se lícitos pelas leis
humanas ou pelo consentimento das partes, de modo a poderem viver
juntas como marido e
esposa.
-
O
adultério ou a fornicação cometidos depois de um contrato, sendo
descoberto antes do casamento, dá à parte inocente justo motivo de
dissolver o contrato; no caso do adultério depois do casamento, à
parte inocente é lícito propor divórcio, e, depois de obter o
divórcio, casar com outrem, como se a parte infiel fosse
morta.
-
Posto
que a corrupção do homem seja tal que o incline a procurar
argumentos a fim de indevidamente separar aqueles que Deus uniu em
matrimônio, contudo nada, senão o adultério, é causa suficiente
para dissolver os laços do matrimônio, a não ser que haja
deserção tão obstinada que não possa ser remediada nem pela
Igreja nem pelo magistrado civil. Para a dissolução do matrimônio
é necessário haver um processo público e regular, não se devendo
deixar ao arbítrio e discrição das partes o decidir em seu
próprio
caso.
CAPÍTULO 25: DA IGREJA
-
A
Igreja Católica ou Universal, que é invisível, consiste do número
total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda
serão reunidos em um só corpo, sob Cristo, seu Cabeça; ela é a
esposa, o corpo, a plenitude daquele que enche tudo em todas as
coisas.
-
A
Igreja visível, que também é católica ou universal, sob o
Evangelho (não sendo restrita a uma nação, como antes sob a Lei),
consiste de todos aqueles que, pelo mundo inteiro, professam a
verdadeira religião, juntamente com seus Filhos; é o Reino do
Senhor Jesus Cristo, a casa e família de Deus, fora da qual não há
possibilidade de
salvação.
-
À
Igreja Católica visível Cristo deu o ministério, os oráculos e
as ordenanças de Deus, para a congregação e o aperfeiçoamento
dos santos, nesta vida, até ao fim do mundo, e pela sua própria
presença e pelo seu Espírito os torna eficientes para esse fim,
segundo a sua promessa.
-
Esta
Igreja Católica tem sido ora mais, ora menos visível. As igrejas
particulares, que são membros dela, são mais puras ou menos puras
conforme nelas é, com mais ou menos pureza, ensinado e abraçado o
Evangelho, administradas as ordenanças e celebrado o culto público.
-
As
igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao
erro; algumas têm-se degenerado a ponto de não mais serem igrejas
de Cristo, e, sim, sinagogas de Satanás; não obstante, haverá
sempre sobre a terra uma igreja para adorar a Deus segundo a vontade
dele.
-
Não
há outro Cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo. Em sentido
algum pode ser o papa de Roma o seu cabeça, senão que ele é
aquele anticristo, aquele homem do pecado e filho da perdição que
se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama
Deus.
CAPÍTULO 26: DA
COMUNHÃO DOS SANTOS
-
Todos
os santos que, pelo Espírito de Deus e pela fé, estão unidos a
Jesus Cristo, seu Cabeça, têm comunhão com ele nas suas graças,
nos seus sofrimentos, na sua morte, na sua ressurreição e na sua
glória, e, estando unidos uns ao outros em amor, participam dos
mesmos dons e graças, e estão obrigados ao cumprimento dos deveres
públicos e particulares que contribuem para o seu mútuo proveito,
tanto no homem interior como no
exterior.
-
Os
santos são, pela profissão de fé, obrigados a manter uma santa
sociedade e comunhão no culto de Deus e na realização de outros
serviços espirituais que contribuem para a sua mútua edificação,
bem como a socorrer uns aos outros em coisas materiais, segundo as
suas várias habilidades e necessidades; esta comunhão, conforme
Deus oferecer ocasião, deve estender-se a todos aqueles que, em
todo lugar, invocam o nome do Senhor
Jesus.
-
Esta
comunhão que os santos têm com Cristo não os torna de modo algum
participantes da substância de sua divindade, nem iguais a Cristo
em qualquer sentido; afirmar uma ou outra coisa é ímpio e
blasfemo. A comunhão que os santos mantêm entre si não destrói
nem de modo algum enfraquece o título ou domínio que cada homem
tenha sobre os seus bens e posses.
CAPÍTULO 27: DOS
SACRAMENTOS
-
Os
sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça,
imediatamente instituídos por Deus para representar Cristo e seus
benefícios, e confirmar o nosso interesse nele, bem como fazer uma
diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o restante do
mundo, e solenemente comprometê-los no serviço de Deus em Cristo,
segundo a sua
Palavra.
-
Há
em cada sacramento uma relação espiritual ou uma união
sacramental entre o sinal e a coisa significada; por isso, os nomes
e efeitos de um são atribuídos ao
outro.
-
A
graça revelada nos sacramentos, ou por meio deles, quando
devidamente usados, não é conferida por qualquer poder neles
existente; nem a eficácia de uma sacramento depende da piedade ou
da intenção de quem o administra, mas da obra do Espírito e da
palavra da instituição, a qual, juntamente com o preceito que
autoriza o seu uso, contém uma promessa de benefício aos que
dignamente o
recebem.
-
Há
apenas dois sacramentos ordenados por Cristo, nosso Senhor, no
Evangelho: O Batismo e a Ceia do Senhor, nenhum dos quais pode ser
administrado senão por um ministro da Palavra, legalmente
ordenado.
-
Os
sacramentos do Antigo Testamento, quanto às coisas espirituais por
eles significadas e representadas, eram, em substância, os mesmos
que os do Novo
Testamento.
CAPÍTULO 28: DO
BATISMO
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O
batismo é um sacramento do Novo Testamento, instituído por Jesus
Cristo, não só para solenemente admitir na Igreja visível a
pessoa batizada mas também para servir-lhe de sinal e selo do pacto
da graça, de sua união com Cristo, da sua regeneração, da
remissão dos pecados e também da sua consagração a Deus, por
meio de Jesus Cristo, a fim de andar em novidade de vida. Este
sacramento, segundo a ordenação do próprio Cristo, há de
continuar em sua Igreja até ao final do
mundo.
-
O
elemento exterior, usado neste sacramento é a água, com a qual a
pessoa é batizada em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
por um ministro do Evangelho, legalmente ordenado.
-
Não
é necessário imergir o candidato na água, mas o batismo é
corretamente administrado derramando-se ou aspergindo-se água sobre
a
pessoa.
-
Não
só os que de fato professam a sua fé em Cristo e obediência a
ele, mas também os filhos de pais crentes (ainda que só um deles o
seja) devem ser
batizados.
-
Posto
que seja grande pecado menosprezar ou negligenciar esta ordenança,
contudo a graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente
ligadas a ela, que sem ela uma pessoa não possa ser regenerada e
salva, ou que todos os que são batizados sejam indubitavelmente
regenerados.
-
A
eficácia do batismo não se limita ao momento em que é
administrado; contudo, pelo devido uso desta ordenança, a graça
prometida é não somente oferecida, mas
realmente
manifestada e conferida pelo Espírito Santo àqueles a quem ela
pertence (adultos ou crianças), segundo o conselho da própria
vontade de Deus em seu tempo
determinado.
-
O
sacramento do batismo deve ser administrado uma só vez a uma mesma
pessoa.
CAPÍTULO 29: DA CEIA
DO SENHOR
-
Na
noite em que foi traído, nosso Senhor Jesus instituiu o sacramento
de seu corpo e de seu sangue, chamado Ceia do Senhor, para ser
observado em sua igreja até o fim do mundo, para ser uma lembrança
perpétua do sacrifício que em sua morte ele fez de si mesmo; para
selar, aos verdadeiros crentes, todos os benefícios provenientes
desse sacrifício para o seu nutrimento espiritual e crescimento
nele, e seu compromisso de cumprir todos os seus deveres para com
ele, e ser um vínculo e penhor de sua comunhão com ele e uns com
os outros, como membros de seu corpo
místico.
-
Neste
sacramento, Cristo não é oferecido a seu Pai, nem de modo algum se
faz um sacrifício real para remissão de pecados dos vivos ou dos
mortos, mas apenas se faz uma comemoração daquela única oferenda
que ele fez de si mesmo na cruz, uma vez por todas, e, por meio
dela, uma oblação espiritual de todo o louvor possível a Deus;
assim, o chamado sacrifício papal da missa, como é chamado, é
sobremodo ofensivo ao único sacrifício de Cristo, o qual é a
única propiciação por todos os pecados dos
eleitos.
-
Nesta
ordenança, o Senhor Jesus constituiu os seus ministros para
declarar ao povo a sua palavra de instituição, orar, abençoar os
elementos, pão e vinho, e assim separá-los do uso comum para um
uso sagrado; para tomar e partir o pão, tomar o cálice, dele
participando também, e dar ambos os elementos aos comungantes, e
tão somente aos que se acharem presentes na congregação.
-
A
missa particular ou recepção do sacramento por um só sacerdote ou
por uma só pessoa, bem como a negação do cálice ao povo, a
adoração dos elementos, a elevação ou procissão para serem
adorados, e a sua conservação para qualquer pretenso uso
religioso, são coisas contrárias à natureza deste sacramento e à
instituição de
Cristo.
-
Os
elementos exteriores deste sacramento, devidamente consagrados ao
uso ordenado por Cristo, têm tal relação com o Cristo
crucificado, que, verdadeiramente, embora só num sentido
sacramental, são às vezes chamados pelos nomes das coisas que
representam, a saber, o corpo e o sangue de Cristo; se bem que, em
substância e natureza, conservam-se verdadeira e somente pão e
vinho, como eram
antes.
-
A
doutrina geralmente chamada transubstanciação, que ensina a
mudança da substância do pão e do vinho na substância do corpo e
do sangue de Cristo, mediante a consagração por um sacerdote ou
por qualquer outro meio é algo repugnante não só à vista das
Escrituras, mas também ao senso comum e à razão; destrói a
natureza do sacramento e tem sido a causa de muitas superstições e
até de grosseira
idolatria.
-
Os
que comungam dignamente, participando exteriormente dos elementos
visíveis deste sacramento, também recebem intimamente, pela fé, o
Cristo crucificado, e todos os benefícios de sua morte, e deles se
alimentam, não carnal ou corporalmente, mas real, verdadeira e
espiritualmente;
não
estando
o
corpo
e
o
sangue
de
Cristo,
corporal
ou
carnalmente
nos
elementos, pão e vinho, nem com eles ou sob eles, mas estão,
espiritual e realmente, presentes à fé dos crentes nessa ordenança,
como estão os próprios elementos em relação a seus sentidos
corporais.
-
Ainda
que os ignorantes e os ímpios recebam os elementos visíveis deste
sacramento, todavia não recebem a coisa por eles significada, mas
pela sua indigna participação tornam-se réus do corpo e do sangue
do Senhor, para sua própria condenação. Portanto, todos estes,
como são indignos de gozar comunhão com o Senhor, são também
indignos da sua mesa e não podem, sem grande pecado contra Cristo,
participar destes santos mistérios nem a eles ser admitidos,
enquanto permanecerem nesse
estado.
CAPÍTULO 30: DAS
CENSURAS ECLESIÁSTICAS
-
O
Senhor Jesus, como Rei e Cabeça da sua Igreja, nela instituiu um
governo nas mãos dos oficiais dela; governo distinto da
magistratura
civil.
-
A
esses oficiais estão entregues as chaves do Reino do Céu. Em
virtude disso, eles têm, respectivamente, o poder de reter ou de
cancelar pecados; de fechar este reino a impenitentes, tanto pela
Palavra quanto pelas censuras; de abri-lo aos pecadores penitentes,
pelo ministério do Evangelho e pela absolvição das censuras,
quando as circunstâncias o
exigirem.
-
As
censuras eclesiásticas são necessárias para chamar e ganhar (para
Cristo) os irmãos transgressores, a fim de impedir que outros
pratiquem ofensas semelhantes, para lançar fora o velho fermento
que poderia corromper a massa inteira, para vindicar a honra de
Cristo e a santa profissão do Evangelho, e para evitar a ira de
Deus, a qual, com justiça, poderia cair sobre a Igreja, se ela
permitisse que o pacto divino e seus elos fossem profanados
por ofensores
notórios e
obstinados.
-
Para
a melhor obtenção destes fins, os oficiais da igreja devem
proceder dentro da seguinte ordem, segundo a natureza do crime e
demérito da pessoa: repreensão, suspensão do sacramento da Ceia
do Senhor por algum tempo e exclusão da
Igreja.
CAPÍTULO 31: DOS
SÍNODOS E CONCÍLIOS
-
Para
melhor governo e maior edificação da Igreja, deverá haver as
assembléias chamadas sínodos ou concílios. Em virtude do seu
cargo e do poder que Cristo lhes deu para edificação e não para
destruição, cabe aos pastores e aos outros presbíteros das
igrejas particulares criar tais assembléias e reunir-se nelas
quantas vezes julgarem útil para o bem da Igreja.
-
Aos
sínodos e concílios compete decidir, ministerialmente,
controvérsias quanto à fé e aos casos de consciência; determinar
regras e disposições para a melhor direção do culto público de
Deus e governo de sua Igreja; receber queixas em casos de má
administração e com autoridade decidi-las. Os seus decretos e
decisões, sendo consoantes com a Palavra de Deus, devem ser
recebidos com reverência e submissão, não só pela sintonia com a
Palavra, mas também pela autoridade através da qual são feitos,
visto que essa autoridade é uma ordenação de Deus, designada para
isso em sua
Palavra.
-
Todos
os sínodos e concílios, desde os tempos dos apóstolos, quer
gerais quer particulares podem errar, e muitos têm errado; eles,
portanto, não devem constituir regra de fé e prática, mas podem
ser usados como auxílio em uma e outra
coisa.
-
Os
sínodos e concílios não devem discutir coisa alguma que não seja
eclesiástica; não devem imiscuir-se nos negócios civis do estado,
a não ser por humilde petição em casos extraordinários, ou por
conselhos, em satisfação de consciência, se o magistrado civil os
convidar a
fazê-lo.
CAPÍTULO
32: DO ESTADO DO HOMEM DEPOIS DA MORTE E DA RESSURREIÇÃO DOS MORTOS
-
Os
corpos dos homens, depois da morte, voltam ao pó e vêem a
corrupção; mas as suas almas (que nem morrem nem dormem),
possuindo uma substância imortal, voltam imediatamente para Deus,
que as deu. As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas em
santidade, são recebidas no mais alto dos céus onde contemplam a
face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção de seus
corpos; e as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde
permanecerão em tormentos e em trevas espessas, reservadas para o
juízo do grande dia. Além destes dois lugares destinados às almas
separadas de seus
respectivos
corpos, as Escrituras não reconhecem nenhum outro
lugar.
-
No
último dia, os que estiverem vivos não morrerão, mas serão
transformados; todos os mortos serão ressuscitados com os seus
próprios corpos, e não outros, embora com qualidades diferentes, e
se unirão novamente às suas almas, para
sempre.
-
Os
corpos dos injustos serão, pelo poder de Cristo, ressuscitados para
a desonra; os corpos dos justos serão, pelo seu Espírito,
ressuscitados para a honra e para serem semelhantes ao próprio
corpo glorioso de
Cristo.
CAPÍTULO
33: DO JUÍZO FINAL
-
Deus
já determinou um dia no qual, com justiça, há de julgar o mundo
por meio de Jesus Cristo a quem, pelo Pai, foram dados o poder e o
juízo. Nesse dia não somente serão julgados os anjos apóstatas,
mas igualmente todas as pessoas que tiverem vivido sobre a terra
comparecerão ante o tribunal de Cristo, a fim de darem conta de
seus pensamentos, palavras e feitos, e receberem o galardão segundo
o que tiverem feito, o bem ou o mal, por meio do corpo.
-
O
fim que Deus tem em vista determinando esse dia é manifestar a sua
glória – a glória de sua misericórdia na eterna salvação dos
eleitos, e a glória da sua justiça na condenação dos réprobos,
que são perversos e desobedientes. Os justos irão, então, para a
vida eterna, e receberão aquela plenitude de alegria e refrigério
procedentes da presença do Senhor; mas os ímpios, que não
conhecem a Deus nem obedecem ao Evangelho de Jesus Cristo, serão
lançados nos eternos tormentos e punidos com a destruição eterna,
longe da presença do Senhor e da glória de seu
poder.
-
Assim
como Cristo, para afastar os homens do pecado e para maior
consolação dos justos nas suas adversidades, quer que estejamos
firmemente convencidos de que haverá um dia de juízo, assim também
quer que esse dia não seja conhecido dos homens, a fim de que eles
se despojem de toda a confiança carnal, sejam sempre vigilantes,
não sabendo a que hora virá o Senhor, e estejam prontos a dizer:
“Vem logo, Senhor Jesus!”
Amém.
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