PODER ATRAVÉS DA ORAÇÃO - por E M Bounds



 

“A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos. Elias era homem sujeito  às mesmas paixões que nós, e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e  seis meses, não choveu sobre a terra. E orou outra vez e o céu deu chuva, e a terra  produziu o seu fruto” (E.R.C.). 

Tiago 5:16-18 


1 – O CANAL DIVINO DE PODER  

Estuda a santidade universal da vida. Disso depende a tua utilidade plena, pois teus sermões duram apenas uma ou duas horas; mas tua vida prega durante toda a semana. Se Satanás  puder transformar um ministro cobiçoso em amante de louvor, de  prazer, de iguarias, terá arruinado o seu ministério. Entrega-te à  oração e obtém os teus temas, os teus pensamentos e as tuas  palavras de Deus. Lutero empregava as suas melhores três horas  em oração.  

— Robert Murray McCheyne  

Estamos constantemente empenhados, senão obcecados, em arquitetar novos métodos,  novos planos e novas organizações para fazer a Igreja progredir e assegurar a  divulgação e a eficiência do Evangelho.  

Essa direção hodierna tem a tendência de perder a visão do homem ou afogar o homem  no plano ou na organização. O plano de Deus é usar o homem e usá-lo muito mais do  que qualquer outra coisa. Homens são o método de Deus. A Igreja está procurando  métodos melhores; Deus está buscando homens melhores. “Houve um homem enviado  por Deus cujo nome era João” (Jo. 1:6). A dispensação que anunciou e preparou o  caminho de Cristo, estava confiada àquele homem, João: “Um menino nos nasceu, um  filho se nos deu” (Is. 9:6). A salvação do mundo se originou naquele Filho ainda  menino. Paulo traz à luz o segredo do êxito dos homens que arraigaram o Evangelho no  mundo quando pôs em relevo o caráter pessoal desses homens. A glória e a eficiência  do Evangelho dependem dos homens que o proclamam. Quando Deus declara que  “quanto ao Senhor, Seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com  aqueles cujo coração é perfeito para com Ele” (II Cr. 16:9), declara a necessidade de  homens e o fato de Deus depender de homens que sejam canais por meio dos quais  exerça Seu poder sobre o mundo.  

Essa verdade vital e urgente é o que esta era das máquinas tende a esquecer. Esquecê-la  é funesto para a obra de Deus como seria desastroso se o sol desaparecesse da abóboda  celestial. Seguir-se-iam trevas, confusão e morte.  

O que hoje a Igreja necessita não é de mais e melhor maquinismo, de novas  organizações ou mais e novos métodos, mas homens a quem o Espírito Santo possa usar  — homens de oração, homens poderosos na oração. O Espírito Santo não se derrama  através dos métodos, mas por meio dos homens. Não vem sobre maquinaria, mas sobre  homens. Não unge planos, mas homens — homens de oração.  

Um eminente historiador disse que os acidentes do caráter pessoal têm mais a ver com  as revoluções das nações do que os historiadores, filósofos ou políticos democráticos o  reconhecem. Essa verdade tem aplicação plena ao Evangelho de Cristo, ao caráter e à  conduta dos seguidores de Cristo — Cristaniza o mundo e transforma nações e  indivíduos. Em relação aos pregadores do Evangelho, é eminentemente verdadeiro. 


Tanto o caráter como o sucesso do Evangelho estão confiados ao pregador. Ele faz ou  desfaz a mensagem de Deus ao homem. O pregador é o canal de ouro pelo qual o óleo  divino flui. O canal deve ser não só dourado, mas também aberto e sem rachaduras, para  que o óleo flua bem, sem obstáculo e sem desperdício.  

O homem faz o pregador. Deus deve fazer o homem. O mensageiro é, se possível, mais  do que a mensagem. O pregador é mais que o sermão. O pregador faz o sermão. Como o  leite nutridor do seio materno é a própria vida materna, de igual modo tudo o que o  pregador diz está matizado e impregnado daquilo que o pregador é. O tesouro está nos  vasos de barro e o sabor do vaso nele se impregna e pode descorá-lo. O homem, o  homem todo, jaz atrás do sermão. A pregação não é tarefa de uma hora. É a  manifestação de uma vida. É preciso vinte anos para fazer um sermão, porque são  necessários vinte anos para formar o homem. O verdadeiro sermão é uma obra de vida.  O sermão evoluiu porque o homem se desenvolveu. O sermão é poderoso, porque o  homem tem poder. O sermão é santo, porque o homem é santo. O sermão está cheio de  unção divina, porque o homem está cheio de unção divina.  

Paulo denominou-se “Meu Evangelho”; não que o tenha degradado por suas  excentricidades pessoais ou desviado por apropriação egoísta, mas o Evangelho foi  colocado no coração e no sangue do homem Paulo, como uma responsabilidade pessoal,  para ser executada pelas peculiaridades paulinas, a fim de trazê-lo em chamas e  impulsioná-lo pela ígnea energia da sua alma ardente. Os sermões de Paulo — que eram  eles? Onde estão eles? Esboços, fragmentos esparsos, flutuando no mar da inspiração!  Mas, o homem Paulo, maior que os seus sermões, vive para sempre, em plena forma,  figura e estatura com sua mão modeladora sobre a Igreja. A pregação é apenas uma voz.  A voz silencia, o tema é esquecido, o sermão apaga-se da memória; no entanto, o  pregador vive.  

O sermão não pode elevar-se em suas forças vívificadoras acima do homem. Homens  mortos tiram de si sermões mortos e sermões mortos matam. Tudo depende do caráter  espiritual do pregador. Sob a dispensação judaica, o sumo sacerdote trazia um frontal de  ouro com a inscrição “Santidade ao Senhor” em letras engastadas de jóias. De igual  modo, todo o pregador no ministério de Cristo deve ser moldado e dominado por essa  mesma divisa sagrada. É uma vergonha berrante para o ministério cristão estar abaixo  do sacerdócio judaico na santidade de caráter e na santidade de objetivo. Jonathan  Edwards disse: “Eu continuei com minha busca intensa de mais santidade e  conformidade com Cristo. O céu que eu desejava era o céu de santidade”.  

O Evangelho de Cristo não é movido por ondas comuns. Não tem o poder de  autopropagação. Move-se como se movem os homens que tomaram o encargo disso. O  pregador deve personificar o Evangelho. As características divinas e mais salientes do  Evangelho devem estar nele incorporadas. O poder do amor, que constrange, tem que  estar no pregador como uma força relevante, excêntrica, que o domina todo e o faz  esquecer-se de si mesmo. A energia da abnegação própria tem que constituir seu ser,  coração, sangue e ossos. Ele deve seguir avante entre os homens como homem,  revestido de humildade, cheio de brandura, prudente como a serpente, simples como a  pomba; reunindo em si a sujeição de um escravo e o espírito de um rei, um rei de figura  nobre, real e independente, e a simplicidade e doçura de uma criança. 

O pregador tem de lançar-se a si mesmo, com todo o abandono de uma fé perfeita e  esvaziada de si e dum zelo que o consome, à sua obra pela salvação dos homens.  Sinceros, heróicos, compassivos e intimoratos mártires têm que ser os homens que  conquistam a geração e a moldam para Deus. Se são escravos do tempo, oportunistas,  agradadores de homens, se têm respeito humano, se sua fé em Deus e Sua Palavra tem  pouca profundidade, se sua abnegação pessoal é quebrada por qualquer fase do “eu” ou  do mundo, não podem tomar conta nem da Igreja nem do mundo para Deus.  

A pregação mais penetrante e forte do pregador deveria ser feita a si mesmo. Sua obra  mais difícil, delicada, laboriosa e radical deve ser consigo. A instrução dos doze foi a  grande, difícil e paciente obra de Cristo. Os pregadores não são produtores de sermões,  mas formadores de homens e de santos e só quem fez de si mesmo um homem e um  santo está bem instruído para essa obra. Não é de grandes talentos, de grandes estudos  ou de grandes pregadores que Deus necessita, mas de homens grandes em santidade,  grandes em fé, grandes em amor, grandes em fidelidade, grandes para Deus — homens  que pregam sempre por meio de sermões santos no púlpito e por meio de vidas santas  fora do púlpito. Esses podem moldar uma geração para Deus.  

Os primeiros cristãos foram formados segundo esse princípio. Eram homens de sólida  formação, pregadores conforme o tipo celestial — heróicos, rijos, militantes e santos.  Para eles, a pregação significa uma obra de auto-abnegação, de autocrucificação, séria,  árdua, e de mártir. Aplicaram-se a ela de tal modo que influíram na sua geração e  formavam no seu seio uma geração que haveria de nascer para Deus. O pregador deve  ser homem de oração. A oração é a mais poderosa arma do pregador. É em si mesmo  uma força onipotente e dá vida e força a tudo.  

O sermão real é feito no recinto secreto. O homem — o homem de Deus — é formado  no recinto secreto. Sua vida e suas mais profundas convicções nascem da sua comunhão  secreta com Deus. Suas mensagens mais ricas e doces são alcançadas quando está a sós  com Deus. A oração faz o homem; a oração faz o pregador; a oração faz o pastor.  

O púlpito de hoje é pobre em oração. O orgulho da erudição opõe-se à humilde  dependência da oração. A oração do púlpito é por demais oficial — um desempenho na  rotina do culto. Para o púlpito moderno, a oração não é mais a força poderosa como o  era na vida e no ministério de Paulo. Todo pregador que não faz da oração um poderoso  fator em sua própria vida e ministério é fraco como agente no trabalho de Deus e  impotente para fazer prosperar a Sua causa neste mundo.

2 – NOSSA CAPACIDADE VEM DE DEUS  

Mas acima de tudo, ele sobressaiu na oração. A profundidade e a gravidade do seu espírito, a reverência e a solenidade das suas  maneiras e comportamento, a raridade e a plenitude das suas  palavras impressionaram muitas vezes até os estranhos e estes se  admiraram como essas coisas traziam consolo aos outros. O  quadro mais imponente, vivo e reverente que jamais senti ou  contemplei, devo dizer, foi a sua oração. E verdadeiramente ela  era um testemunho. Conheceu e viveu mais perto do Senhor do  que qualquer outro, porque aqueles que O conhecem mais, têm  maior razão para aproximar-se dEle com reverência e temor.  

— William Penn a respeito de George Fox  

As bênçãos mais doces, por uma leve perversão, podem produzir o mais amargo fruto.  O sol dá vida, mas as insolações matam. Prega-se para dar vida, mas se pode obter  morte. O pregador possui as chaves: tanto para fechar como para abrir. A pregação é  uma grande instituição divina para a semeadura e o amadurecimento da vida espiritual.  Quando convenientemente executada, seus benefícios são incalculáveis; quando  erroneamente realizada, nenhum mal pode superar seus resultados danificadores. É fácil  destruir o rebanho, se o pastor for incauto ou o pasto for destruído; é fácil capturar a  fortaleza, se as sentinelas estiverem adormecidas ou o alimento e a água forem  envenenados. Investido de tais graciosas prerrogativas, exposto a tão grandes males,  envolvendo tão numerosas e graves responsabilidades, seria uma caricatura da astúcia  do diabo e um libelo contra seu caráter e reputação, se este não empenhasse suas  influências mestras para adulterar o pregador e a pregação. Em face de tudo isto, a  exclamação de Paulo “para estas coisas quem é idôneo?” (II Co. 2:16) não está fora de  propósito.  

Paulo diz: “A nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes de ser  ministros dum novo testamento, não da letra, mas do espírito, porque a letra mata e o  espírito vivifica” (II Co. 3:5,6). O verdadeiro ministério é ungido por Deus, capacitado  por Deus e formado por Deus. O Espírito de Deus está sobre o pregador, ungindo-o de  poder, o fruto do Espírito está no seu coração, o Espírito de Deus vitaliza o homem e a  palavra; sua pregação dá vida, concede vida como a primavera desperta vida; dá vida  como a ressurreição dá vida; outorga vida ardente como o verão dá vida ardente; dá vida  frutífera como o outono dá vida frutífera. O pregador que ministra vida é um homem de  Deus, cujo coração tem sempre sede de Deus, cuja alma está buscando a Deus constante  e intensamente, cujos olhos estão postos só em Deus e em quem, pelo poder do Espírito  de Deus, a carne e o mundo foram crucificados e seu ministério é como a corrente  abundante de um rio que dá vida.  

A pregação que mata não é uma pregação espiritual. A capacidade de tal pregação não  vem de Deus. Fontes inferiores e não Deus lhe deram energia e estímulo. O Espírito não  se manifesta nem no pregador nem na pregação. Muitas espécies de forças podem ser  projetadas e estimuladas por uma pregação que mata, mas elas não são forças  espirituais. Podem assemelhar-se às forças espirituais, mas são meramente sombras e  falsificações; podem parecer que têm vida, mas essa vida é mentira. A pregação que mata é da letra; pode ter bela forma e ordem, mas continua a ser letra, letra rude e seca,  casca nua e vazia. A letra pode ter nela o gérmen da vida, mas não tem a aragem da  primavera para despertá-la; são sementes do inverno, tão duras quanto o solo hibernal,  tão gélidas como o ar de inverno, e por elas não se derretem nem germinam.  

A pregação da letra contém a verdade. Mas, ainda que verdade divina, sozinha não  possui energia vivificante; deve ser revigorada pelo Espírito, com todas as forças  divinas em seu apoio. A verdade que não for vivificada pelo Espírito de Deus, embota  tanto quanto ou mais do que o erro. Pode ser uma verdade sem mistura; mas, sem o  Espírito, o seu matriz e o seu toque são mortais; sua verdade, erro; sua luz, trevas. A  pregação da letra não é ungida nem suavizada nem lustrada com óleo pelo Espírito.  Pode haver lágrimas; lágrimas, porém, não podem pôr em movimento a maquinária de  Deus; as lágrimas podem ser apenas uma brisa de verão sobre um “iceberg” coberto de  neve, só derrete a superfície e nada mais. Podem haver emoção e ardor, mas é a emoção  de um ator e ardor de um advogado. O pregador pode sentir o entusiasmo do seu próprio  brilhantismo, ser eloqüente sobre sua própria exegese, ardente para transmitir o produto  de seu próprio cérebro; o professor pode usurpar o lugar e imitar o fogo de um apóstolo;  cérebros e nervos podem tomar o lugar e simular a obra do Espírito de Deus, e com  estas forças a letra pode irradiar luz e brilhar como um texto iluminado, mas o brilho e a  centelha serão tão destituídos de vida como o campo semeado de pérolas. Um elemento  mortal jaz atrás das palavras, do sermão, da ocasião, dos modos, da ação.  

O maior obstáculo está no próprio pregador. Não traz em si mesmo as forças poderosas  que produzem vida. Pode não haver desconto na sua ortodoxia, honestidade, pureza ou  ardor; mas, de algum modo, o homem, o homem interior, no íntimo, nunca se  quebrantou e sujeitou a Deus; sua vida interior não é uma grande via para a transmissão  da mensagem de Deus, do poder divino. De alguma forma, é o ego e não Deus quem  governa o santo dos santos. Em algum lugar sem que disso tenha consciência, algum  elemento espiritual incondutível tocou no seu interior e a corrente divina foi detida. Seu  ser interior nunca sentiu o quebrantarnento espiritual completo, sua total incapacidade;  nunca aprendeu a clamar com um clamor indizível de desespero de si mesmo e  impotência própria, até que venha o poder de Deus e o fogo divino o encha, purifique e  torne capaz. O amor-próprio e a aptidão própria, de alguma forma pecaminosa,  profanaram e violaram o templo que devia estar consagrado a Deus.  

A pregação vivificante custa muito ao pregador: morte do ego, crucificação para o  mundo, iluminação da própria alma. Só a pregação crucificada pode dar vida. E a  pregação crucificada só pode vir de um homem crucificado. 


3 – O EXERCÍCIO MAIS NOBRE DO HOMEM  

Durante esta aflição, fui levado a examinar minha vida em  relação à eternidade com mais atenção do que quando gozava de  saúde. Nesse exame, relativo ao cumprimento dos meus deveres  para com os meus semelhantes como um homem, um ministro  cristão e um oficial da Igreja, eu estava aprovado pela minha  própria consciência; mas em relação ao meu Redentor e Salvador,  o resultado era diferente. Minha  retribuição de gratidão e  obediência dedicada não se compararam com as minhas  obrigações a Deus por ter-me remido, preservado e sustentado em  meio às vicissitudes da vida desde a infância até a velhice. A  frieza do meu amor a Ele, que me amou primeiro e fez tanto por  mim esmagou-me e confundiu-me; e para completar meu caráter  indigno, não só negligenciara o cultivo da graça concedida em  toda extensão do meu dever e privilégio, mas também, como falta  desse cultivo, embora abundando em cuidado e trabalho  inquietantes, declinara-me do primeiro zelo e amor. Eu estava  confundido; humilhei-me, implorei misericórdia, e renovei meu  pacto de empenhar-me e devotar-me sem reserva ao Senhor.  

— Bispo McKendree  

A pregação que mata pode ser, e muitas vezes é, ortodoxa — dogmática e  inviolavelmente ortodoxa. Amamos a ortodoxia. A ortodoxia é boa e é a melhor. É o  puro e claro ensinamento da Palavra de Deus, os troféus ganhos pela verdade na sua luta  contra o erro, obstáculos que a fé levantou contra o transbordamento desolador da  crença errada ou da incredulidade honesta ou negligente; mas a ortodoxia, clara e dura  como cristal, vigilante e militante, pode ser apenas a letra de bela forma, de renome e  bem estudada, a letra que mata. Nada é tão morto como uma ortodoxia morta, demais  para especular, demasiadamente morta para pensar, para estudar ou para orar.  

A pregação que mata pode ter discernimento e encerrar princípios, pode ser erudita e ter  bom gosto, pode ter todas as minúcias da derivação e gramática da letra, pode ser capaz  de compor a letra segundo seu perfeito padrão e iluminá-la como Platão e Cícero podem  ser iluminados, pode estudá-la como um advogado estuda seus manuais para formar  seus autos ou para defender seu caso, e pode ser ainda como uma geada, uma geada  mortífera. A pregação-letra pode ser eloqüente, esmaltada de poesia e retórica, borrifada  de oração, temperada de sentimento, iluminada pelo gênio e tudo isso ainda pode ser só  puros acessórios custosos e volumosos, flores raras e belas que embelezam o defunto.  

A pregação que mata pode ainda não ter erudição, não ter qualquer refrigério de  pensamento ou sentimento, revestida de elementos sem gosto ou especiarias insípidas,  de estilo irregular e desalinhado, não tendo o sabor do recolhimento espiritual nem do  estudo, não estar agraciada por pensamentos nem por expressão nem por oração. Quão  grande e total a desolação sob tal pregação! Quão profunda a morte espiritual!  

Essa pregação-letra lida com a superfície e a sombra das coisas e não com as próprias  coisas. Não penetra a parte íntima. Não tem o discernimento profundo, o alcance forte, a 

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vida latente da Palavra Divina. É verdadeira no seu exterior, mas o exterior é a casca  que deve ser quebrada e penetrada para ser alcançada a amêndoa. A letra pode estar  vestida de tal modo a atrair e ser elegante, mas a atração não é em direção a Deus, nem  é segundo os padrões celestiais.  

A derrota está no pregador. Deus não o fez. Ele nunca estivera nas mãos de Deus como  a argila nas mãos do oleiro. Ocupara-se com o sermão, seu pensamento e acabamento,  sua redação e suas forças impressionantes, mas as profundas coisas de Deus nunca  foram pensadas, estudadas, sondadas e experimentadas por ele. Nunca estivera de pé  diante do “trono alto e sublime” (Is. 6:1), nunca ouvira os cânticos de serafim, nunca  tivera visão nem sentira o impacto da imponente santidade, nunca clamara num  completo abandono e desespero sob a consciência da fraqueza e da culpa. Nunca tivera  a sua vida renovada, seu coração tocado, purificado, inflamado pela brasa viva do altar  de Deus. Seu ministério tem poder de atrair o povo para si, para a igreja, para a forma e  cerimônia; mas não há real atração para Deus, nem indução à comunhão doce, santa e  divina. A igreja tem sido enfeitada, mas não edificada; agradada, mas não santificada. A  vida é suprimida. A Cidade do nosso Deus transforma-se numa cidade de mortos; a  Igreja, num cemitério e não num exército em batalha. Louvor e oração são sufocados; a  adoração, morta. O pregador e a pregação auxiliaram o pecado e não a santidade;  povoaram o inferno e não o céu.  

A pregação que mata é a pregação sem oração. Sem oração, o pregador gera a morte e  não a vida. O pregador que é débil na oração, é débil em forças vivificantes. O pregador  que se afastou da oração como elemento conspícuo e predominante do seu próprio  caráter despojou sua pregação do característico poder vivificador. Há e haverá oração  profissional, mas a oração profissional ajuda a pregação na sua obra de morte. A oração  profissional enregela e mata tanto a pregação como a oração. Muito da devoção frouxa e  das atitudes indolentes e irreverentes na oração congregacional é atribuído à oração  profissional do púlpito. Longas, díscursivas, secas e fúteis são as orações em muitos  púlpitos. Sem unção ou coração, caem como uma geada mortífera sobre todas as graças  da adoração. São orações que trazem a morte. Todo o vestígio de devoção pereceu sob  seu sopro. Quanto mais mortas forem elas, mais crescem em extensão. É necessário uma  instância por oração curta, oração viva, oração realmente de coração, oração pelo  Espírito Santo — oração direta, específica, ardente, simples e ungida, no púlpito. Uma  escola para ensinar os pregadores a orarem oração que Deus considera como oração,  seria mais benéfica para uma piedade verdadeira, adoração legítima e pregação real, do  que todas as escolas teológicas.  

Pare! Faça uma pausa! Considere! Onde estamos nós? Que estamos fazendo? Pregando  para matar? Orando para matar? Orando a Deus! o grande Deus, o Criador de todos os  mundos, o Juiz de todos os homens! Que reverência! Que simplicidade! Que  sinceridade! Que verdade exigida! Quão verdadeiros devemos ser! Quão sinceros! Orar  a Deus é o exercício mais nobre, o esforço mais sublime do homem, o fato mais real!  Que suprimamos para sempre a maldita pregação que mata e a oração que mata, e  vamos pôr em prática a coisa real, a coisa mais poderosa, a oração que é realmente  oração, e a pregação vivificadora que traz a força poderosa que sustenta o céu e a terra e  que extrai os tesouros abertos e inesgotáveis de Deus para socorrer a necessidade e a  indigência do homem. 

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4 – FALANDO ADEUS EM FAVOR DOS HOMENS  

Olhemos freqüentemente para Brainerd que derramava, nos  bosques da América, a sua alma diante de Deus em favor dos  pagãos que pereciam e nada poderia torná-lo feliz a não ser a  salvação deles. Oração — oração secreta, fervorosa e confiante  — aí se origina toda piedade pessoal. Um devido conhecimento  da língua onde um missionário vive, um temperamento moderado  e cativante, um coração dedicado a Deus em recolhimento  secreto, isto nos capacita, mais do que qualquer outro  conhecimento e dons, nos torna instrumentos de Deus na grande  obra de redenção humana.  

— Irmandade de Carey, Serampore (Índia)  

Há duas tendências extremas no ministério. Uma é encerrar-se, ficando fora das relações  com o povo. O monge, o eremita são exemplos disso; põem-se fora do convívio humano  para estar perto de Deus. Falharam, naturalmente. O fato de estarmos a sós com Deus é  útil somente quando empregamos seus benefícios inestimáveis a favor dos homens.  

Hoje em dia, nem o pregador nem o povo pensa muito sobre Deus. O nosso anseio não é  por isto. Encerramo-nos no nosso gabinete, tornamo-nos estudiosos, roedores de livros,  roedores da Bíblia, fazedores de sermão, notáveis pela literatura, pensamento e sermões;  mas o povo e Deus, onde está? Fora do coração, fora da mente. Os pregadores, que são  grandes pensadores e grandes estudiosos, devem ser os maiores na oração, pois se assim  não forem serão os maiores dos apóstatas, dos profissionais insinceros, racionalistas, e  menos do que os menores dos pregadores na estimação divina.  

A outra tendência é a de popularizar inteiramente o ministério. Não é mais de Deus, mas  um ministério de negócios, do homem. Ora, não porque sua missão seja para o povo. Se  pode mover o povo, criar um interesse, uma sensação a favor da religião, um interesse  na obra da igreja, fica satisfeito. Sua relação pessoal com Deus não é o fator do seu  trabalho. Nos seus planos a oração ocupa pouco ou nenhum lugar. O desastre e a ruína  de tal ministério não podem ser avaliados pela aritmética terrena. O que o pregador é, na  oração a Deus, para si e para o povo, será o seu poder para o bem real dos homens e será  verdadeiramente frutífero e realmente fiel a Deus e ao homem para o tempo e para a  eternidade.  

É impossível ao pregador conservar seu espírito em harmonia com a natureza divina de  sua sublime vocação sem que ore muito. Dizer que o pregador pode conservar-se  equilibrado e apto, pela força do dever e pela fidelidade laboriosa ao trabalho e à rotina  do ministério, é um grave erro. Até mesmo a confecção de sermões, incessante e  obrigatoriamente, como arte, dever, trabalho ou prazer, pode absorver e endurecer, pela  negligência à oração, e apartar o coração de Deus. O cientista perde Deus na natureza. O  pregador pode perde-LO no seu sermão.  

A oração refrigera o coração do pregador, conserva-o sintonizado com Deus e em  simpatia com o povo; eleva o seu ministério acima da frieza profissional, torna frutífera  a rotina e move todas as engrenagens com facilidade e com o poder da unção divina. 

Spurgeon diz: “Naturalmente o pregador deve salientarse sobre todos como um homem  de oração. Ele ora como crente comum, ou seria um hipócrita; ele ora mais que um  crente comum, ou seria desqualificado no ofício que ocupa. Se vós ministros não são  dedicados à oração, sois dignos de lástima. Se vós vos tornais negligentes na devoção  sagrada, não só vós, mas o vosso povo também é digno de compaixão; e o dia virá em  que ficareis envergonhados e confusos. Todas as nossas bibliotecas e estudos são apenas  vácuo comparados ao nosso recinto secreto. Os nossos períodos de jejum e de oração no  Tabernácubo têm sido realmente dias sublimes; nunca o portão dos céus estivera tão  largamente aberto; nunca os nossos corações estiveram tão perto da glória celestial”.  

A oração que forma um ministério cheio de oração, não é uma pequena oração nele  colocada como se põe perfume para dar-lhe um aroma agradável, mas a oração deve  estar no corpo e constituir-se sangue e ossos. A oração não é um pequenino dever  deixado no canto, nem uma função retalhada que se exerça nos fragmentos de tempo  arrebatados ao trabalho e a outras ocupações da vida; mas significa que o melhor do  nosso tempo, o coração do nosso tempo e da nossa energia devem ser dados. Não  significa hora de recolhimento absorvida em estudos ou engolfada com atividades dos  deveres ministeriais; significa, porém, que o recolhimento espiritual deve estar em  primeiro lugar, o estudo e a atividade em segundo e ambos refrigerados e tornados  eficientes pela oração em secreto. A oração que afeta a vida do ministro deve dar tom a  esta mesma vida. A oração que dá cor e tendência ao caráter não é um passatempo curto  e agradável. Deve penetrar tão fortemente no coração e na vida como “o forte clamor e  lágrimas” de Cristo; e deve levar a alma a uma agonia de desejo como a oração de  Paulo; deve ser um fogo alastrador e um poder como “a oração eficaz e fervorosa” de  Tiago; deve ser de tal qualidade que, quando colocada no incensário de ouro e queimada  diante de Deus, produza poderosas angústias e revoluções espirituais.  

A oração não é um pequeno hábito incutido em nós desde o regaço de nossa mãe, nem é  uns poucos segundos de ação de graças dada antes de uma refeição de uma hora, mas é  o trabalho mais sério dos nossos mais sérios anos. Exige mais tempo e apetite do que as  nossas refeições mais demoradas ou festas mais ricas. À oração que dá eficácia à nossa  pregação deve dar-se maior importância. O caráter da nossa oração determinará o  caráter da nossa pregação. Uma oração ligeira fará uma pregação superficial. A oração  torna forte a pregaçao, dá-lhe unção e torna-se penetrante. Em todo o ministério de bons  resultados a oração tem sido sempre uma tarefa séria.  

O pregador deve ser preeminentemente um homem de oração. Só na escola da oração, o  coração pode aprender a pregar. Nenhuma erudição pode suprir a falta de oração. Nem o  zelo nem a diligência nem o estudo nem os dons suprirão sua falta.    

Falar aos homens a respeito de Deus é uma grande coisa; mas falar a Deus a favor dos  homens é ainda maior. Quem não aprendeu a falar com Deus em favor dos homens, não  pode falar bem e com real sucesso aos homens de Deus. Mais do que isto, as palavras  sem oração, tanto no púlpito como fora dele, são palavras que amortecem. 



5 – COMO ALCANÇAR RESULTADOS PARA DEUS  

Conheceis o valor da oração: é preciosa e está acima de todo  

preço. Nunca, nunca a negligencieis.  

— Sir Thomas Buxton  

A oração é a primeira, a segunda, a terceira coisa necessária ao  

ministro. Orai, pois, meus caros irmãos; orai, orai, orai.  

— Edward Payson  

A oração, na vida, nos estudos e no púlpito do pregador, deve ser uma força conspícua,  impregnadora, que afete todas as suas atividades. Não deve ocupar o segundo plano  nem ser um mero revestimento. A ele é dado estar com o Senhor “a noite inteira em  oração”. O pregador, para exercitar-se na oração que requer negação própria, é levado a  olhar para o seu Mestre que, “tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um  lugar deserto, e ali orava” (Mc. 1:35). O gabinete do pregador deve ser um recinto  secreto, um Betel, um altar, uma visão e uma escada de Jacó, para que todos os  pensamentos possam subir até o céu antes de dirigirem-se aos homens; para que todas as  partes do sermão possam ser arejadas pelo ar dos céus e capacitadas, porque Deus está  no gabinete.  

Assim como o motor não se põe em movimento até que haja ignição, a pregação, com  todo o seu maquinário, perfeição e elegância, permanece numa inércia morta quanto aos  resultados espirituais, até que a oração a inflame e produza a corrente elétrica. A  disposição, a clareza e a força do sermão serão farrapos, a menos que haja impulso  poderoso da oração nele, através dele e atrás dele. O pregador precisa, pela oração,  colocar Deus no sermão. O pregador precisa, pela oração, mover a Deus em direção ao  povo, antes de poder mover o povo para Deus por meio de suas palavras. O pregador  deve ter tido a audiência e pronto acesso a Deus antes de poder ter acesso ao povo. Para  o pregador, o caminho aberto em direção a Deus é a garantia de um caminho aberto para  o povo.  

É necessário repetir e tornar a repetir que a oração como um mero hábito, como um  desempenho de rotina ou ato profissional, é uma coisa morta e podre. Tal oração não se  relaciona com a oração que pleiteamos. Damos ênfase sobre a oração verdadeira que  implica e inflama todo elemento nobre da pessoa do pregador — oração que nasce da  união vital com Cristo, e da plenitude do Espírito Santo, que emana de profundas e  transbordantes fontes da compaixão terna e solicitude imperecível pelo bem eterno do  homem e um zelo consumidor pela glória de Deus. O pregador precisa de uma inteira  convicção da dificuldade e da delicadeza da sua obra e da necessidade imperativa do  auxílio mais poderoso de Deus. A oração alicerçada sobre estas convicções solenes e  profundas é a única oração verdadeira. A pregação amparada por uma tal oração é a  única que semeia as sementes da vida eterna nos corações humanos e forma homens  para os céus.  

É verdade que pode haver pregações populares, pregações agradáveis, pregações  cativantes e pregações muito intelectuais, literárias e inteligentes, de boa extensão e  forma, com pouca oração ou sem ela; mas a que alcança o objetivo de Deus na 

pregação, tem que nascer da oração, desde o tema até a peroração, transmitida com  energia e espírito de oração, capacitada a germinar, e conservada com força vital nos  corações dos ouvintes pelas orações do pregador, mesmo muito depois de ter passado a  ocasião.  

Podemos desculpar-nos da pobreza espiritual da nossa pregação com muitas razões, mas  a verdadeira causa será encontrada na falta de oração que anela pela presença de Deus  no poder do Espírito Santo. Há muitos pregadores que podem transmitir sermões peritos  sobre qualquer assunto; mas os efeitos são efêmeros e não entram como um fator no  mundo espiritual onde a batalha terrível entre Deus e Satanás, entre os céus e o inferno,  está sendo travada, porque eles não foram feitos poderosamente militantes e  espiritualmente vitoriosos pela oração.  

Os pregadores que alcançam poderosos resultados para Deus são os homens que  prevaleceram nos seus pleitos com Deus, antes de aventurarem-se a pleitear com os  homens. Os pregadores que são os mais poderosos nos recintos secretos de oração para  com Deus, são os mais poderosos nos seus púlpitos, para com os homens.  

Os pregadores são entes humanos e estão expostos, e muitas vezes são apanhados, pelos  fortes turbilhões das correntes humanas. Orar é um trabalho espiritual e a natureza  humana não gosta de tão árduo trabalho espiritual. A natureza humana deseja velejar  para os céus pelo impulso de uma brisa favorável, sobre um mar cheio e calmo. Orar é  um trabalho humilhante. Humilha o intelecto e o orgulho, crucifica a vanglória, assinala  a nossa derrota espiritual e tudo isso é duro para a carne e o sangue. É mais fácil não  orar do que suportar essas coisas. Assim chegamos a um dos males clamorosos destes  tempos, talvez de todos os tempos — pouca oração ou nenhuma. Destes dois males,  talvez a pouca oração seja pior do que não orar. Orar pouco é uma espécie de desculpa,  um desencargo de consciência, uma farsa e uma ilusão.  

A pequena consideração que damos à oração é evidente no pouco tempo que lhe  devotamos. O tempo gasto em oração pelo pregador comum difícilmente entra na soma  total do seu horário. Freqüentemente, a única oração do pregador é feita à beira de sua  cama, já de pijama, pronto para dormir, e, de manhã, talvez acrescente uma oraçãozinha  de cinco ou seis palavras antes de se vestir. Quão fraca, vã e pequena é tal oração  comparada com o tempo e a energia devotados à oração pelos homens santos  mencionados na Bíblia e fora da Bíblia. Que oração pobre, mesquinha e infantil  comparada à oração dos verdadeiros homens de Deus de todos os tempos! Aos homens  que pensam na oração como o seu principal trabalho e lhe devotam tempo de acordo  com a sua alta avaliação da sua importância, Deus confia as chaves do Seu Reino, e  através deles, Deus opera Suas maravilhas espirituais neste mundo. A oração poderosa é  o sinal e selo dos grandes líderes de Deus e o penhor das forças conquistadoras com as  quais Deus coroará os Seus servos!  

O pregador tem a missão tanto de orar como de pregar. Sua missão será incompleta se  ele não desempenhar bem ambas as coisas. O pregador pode falar com toda a  eloqüência humana e angélica; mas a menos que ele possa orar com fé para que arraste  todo o céu em sua ajuda, a sua pregação será “como o bronze que soa ou como o  címbalo que retine” para a obra permanente que honra a Deus e salva as almas. 

6 – GRANDES HOMENS DE ORAÇÃO  

A causa principal da minha pobreza e da esterilidade espiritual é  devida a uma negligência injustificável de oração. Posso escrever,  ler, conversar ou ouvir com prontidão; mas orar é mais espiritual  e íntimo do que qualquer dessas coisas e é do mais espiritual dos  deveres que o meu coração carnal está mais pronto a fugir.  

Oração, paciência e fé nunca foram desapontados. Desde há  muito tempo aprendi que, se devo ser ministro, só a fé e a oração  devem fazer-me ministro. Quando posso encontrar meu coração  em atitude e com liberdade para a oração, tudo o mais é  comparativamente fácil.  

— Richard Newton  

Pode ser dito como axioma espiritual que, em todo o ministério realmente cheio de  êxito, a oração é uma força evidente e controladora — evidente e controladora na vida  do pregador, evidente e controladora na profunda espiritualidade da sua obra. Um  ministério pode ser ministério bem orientado sem oração; o pregador pode assegurar  fama e popularidade sem orar; a maquinária toda da vida do pregador e do seu trabalho  pode funcionar sem o óleo da oração ou com tão pouco óleo que não dá para uma  engrenagem; mas nenhum ministério pode ser espiritual e promover santidade no  pregador e no seu povo sem que a oração se torne uma força evidente e controladora.  

O pregador que realmente ora, põe Deus na obra. Deus não vem sobre a obra do  pregador automaticamente ou como princípio geral, mas Ele vem pela oração especial e  sentimento de urgência. Que Deus será encontrado por nós no dia em que nós O  buscamos com todo o coração, é tão verdadeiro para o pregador como para o penitente.  O ministério cheio de oração é o único ministério que atrai ao pregador a simpatia do  povo. A oração nos une aos homens assim como nos une a Deus. Um ministério cheio  de oração é o único ministério qualificado para os ofícios e responsabilidades sublimes  do pregador. Escolas, estudos, livros, teologia e pregação não fazem o pregador, mas só  a oração o faz. A comissão de pregar confiada aos apóstolos foi uma folha branca até  que fosse preenchida pelo Pentecostes que a oração trouxe. O ministro, que ora muito,  já passou para além das regiões comuns, dos homens de negócios, dos homens  mundanos, da atração do púlpito; passou para além de um organizador eclesiástico, a  uma região mais sublime e mais poderosa, à região do espiritual.  

A santidade é o produto do seu trabalho de oração; corações e vidas transformados  apregoam a realidade, a veracidade e a natureza substancial do seu trabalho. Deus está  com ele. Seu ministério não está baseado sobre princípios mundanos ou superficiais.  Está profundamente abastecido com as coisas de Deus e profundamente disciplinado  nelas. Sua comunhão longa e profunda com Deus em favor do seu povo e a agonia do  seu espírito em luta coroaram-no príncipe nas coisas de Deus. O gelo do  profissionalismo foi derretido desde há muito sob a intensidade de sua oração.  

Os resultados superficiais de muitos ministérios, e a frieza de outros, são causados pela  falta de oração. Nenhum ministério pode ter sucesso sem que haja muita oração, e essa 

oração deve ser fundamental, constante e crescente. O texto e o sermão devem ser o  resultado da oração. O estudo deve ser banhado pela oração, todos os seus deveres  impregnados de oração e todo o seu espírito de oração. “Estou triste porque tenho orado  tão pouco” era a lamentação profunda de um dos escolhidos de Deus no leito de morte,  o que é uma confissão triste e lamentável para um pregador. “Eu quero uma vida de  maior, mais profunda e mais real oração”, disse o finado Arcebispo Tait. Todos nós  podemos dizer assim e isto podemos sustentar.  

Os verdadeiros pregadores de Deus distinguiram-se num aspecto: eram homens de  oração. Diferentes, muitas vezes, em muitos aspectos, no entanto tinham um ponto em  comum. Eles podem ter partido de pontos diferentes e viajado por diferentes caminhos,  mas convergiram a um só ponto: foram um na oração. Para eles, Deus era o centro de  atração e a oração era o caminho que conduzia a Deus. Estes homens não oraram  ocasionalmente nem oraram pouco regularmente ou nos tempos que sobravam; oraram  de tal modo que as suas orações entraram no seu caráter e os formaram; oraram de tal  maneira a afetar sua própria vida e a vida de outros; de tal modo oraram que fizeram a  história da Igreja e influenciaram o curso dos tempos. Gastaram muito tempo em  oração, não porque estavam olhando para a sombra do relógio de sol ou nos ponteiros  do relógio, mas porque a oração era tão urgente para eles e era uma tarefa que  dificilmente poderiam abandonar.  

A oração era para eles o que foi para Paulo: um empenho e esforço sincero da alma; o  que era para Jacó: uma luta e vitória; o que era para Cristo: “grande clamor e lágrimas”.  Eles “oraram com toda a oração e súplica no Espírito e vigiando nisto com toda a  perseverança” (Ef. 6:18). A “oração eficiente e fervorosa” tem sido a arma mais  poderosa dos soldados mais poderosos de Deus. Diz-se de Elias que era “homem sujeito  às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis  meses não choveu sobre a terra. E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu  o seu fruto” (Tg. 5:17,18). Esta declaração inclui todos os profetas e pregadores que  moveram sua geração para Deus e mostra o instrumento pelo qual eles operaram suas  maravilhas.  

Ainda que muitas orações particulares por natureza devam ser curtas; ainda que as  orações públicas comumente devam ser curtas e condensadas; embora haja lugar e valor  na oração ligeira — na nossa comunhão com Deus, o tempo é um fator essencial para o  seu valor. Bastante tempo gasto com Deus é o segredo de toda oração eficiente.  

A oração, que é sentida como uma força poderosa, é o produto mediato ou imediato de  muito tempo gasto com Deus. As nossas orações curtas devem seu ponto de apoio e  eficiência às orações longas que as precederam. A oração curta que prevalece não pode  ser feita por uma pessoa que não tenha prevalecido com Deus numa luta poderosa de  longa duração. A vitória da fé de Jacó não poderia ter sido alcançada sem aquela noite  de luta. A intimidade com Deus não se faz às pressas. Ele não concede Seus dons aos  que vêm e vão fortuitos e apressados. Demorar-se sozinho com Deus é o segredo para  alguém conhecê-LO e ter influência junto a Ele. Ele cede à persistência de uma fé que O  conhece. Cede as suas mais ricas dádivas àqueles que declaram seu desejo e sua  apreciação por elas pela consistância e sinceridade de sua importunação.  

Cristo, que nisso e em outras coisas é o nosso Exemplo, empregou muitas noites inteiras  em oração. Seu costume era orar muito. Ele tinha lugar habitual para orar. Longo tempo 

gasto em oração constitui a vida e o caráter de Cristo. Paulo orava dia e noite. Daniel  orava três vezes por dia, deixando de lado muitas coisas importantes. A oração de Davi  pela manhã, ao meio-dia e à noite indubitavelmente, em muitas ocasiões, prolongava-se  muito. Embora não tenhamos dados específicos do tempo que estes santos homens da  Bíblia gastaram em oração, há evidências de que eles dedicaram muito tempo, e, em  algumas ocasiões, era do seu costume empregar longos períodos para oração.  

Não queremos afirmar que o valor de suas orações foi medido pela duração, mas nosso  propósito é imprimir em nossas mentes a necessidade de permanecer em comunhão com  Deus; se em nossa fé não se nota esta característica, ela é vazia e superficial.  

Aqueles que manifestaram de maneira mais perfeita possível a Cristo através do seu  caráter, e têm afetado mais poderosamente o mundo a Seu favor, são os homens que  gastaram muito tempo com Deus, até que isso se tornou uma das características mais  salientes das suas vidas. Charles Simeon devotava a Deus as horas de quatro às oito da  manhã. Wesley gastava duas horas diariamente em oração. Ele começava às quatro  horas da manhã. Uma pessoa, que o conhecia bem, dele escreveu: “Ele julgava que a  oração era o trabalho mais importante que havia. E o vi sair do lugar de recolhimento  com uma serenidade no rosto que brilhava”. John Fletcher impregnou as paredes do seu  quarto com o hálito de suas orações. Algumas vezes passava a noite inteira em oração;  sempre, frequentemente e com grande intensidade. Toda a sua vida foi uma vida de  oração. “Não queria levantar-me da cadeira”, disse ele, “sem elevar o meu coração a  Deus”. Sua saudação a um amigo era: “O senhor está orando?” Lutero disse: “Se eu  deixar de empregar duas horas em oração todas as manhãs, o diabo terá vitória o dia  inteiro. E tenho tanto trabalho que não posso realizá-lo sem gastar três horas  diariamente em oração”. Seu lema era: “Aquele que orou bem, estudou bem”.  

O Arcebispo Leighton ficava tanto a sós com Deus que parecia estar em meditação  perpétua. “A oração e o louvor eram seu trabalho e seu prazer”, diz o seu biógrafo. O  Bispo Ken ficava tanto com Deus a ponto de dizer-se que a sua alma estava enamorada  de Deus. Estava com Deus todas as manhãs antes do relógio assinalar três horas. O  Bispo Asbury disse: “Propus-me a levantar às quatro horas da madrugada tanto quanto  possível e gastar duas horas em oração e meditação”. Samuel Rutherford, cuja  fragrância de piedade ainda se faz sentir, levantava-se às três horas da manhã para  encontrar-se com Deus em oração. Joseph Alleine levantava-se às quatro horas para a  sua tarefa de oração, permanecendo até às oito. Se ouvia que outros negociantes  começavam seu trabalho antes dele se levantar, exclamava: “Oh, como isso me  envergonha; não deveria o meu Senhor merecer mais do que os senhores deles?” Aquele  que aprendeu a orar tem livre acesso ao Banco do céu donde saca aquilo que necessita.  

Um dos mais santos e mais dotados de dons celestiais dentre os pregadores escoceses  disse: “Devo empregar as minhas melhores horas para a comunhão com Deus. Esse é o  meu mais nobre e mais eficiente emprego e não deve ser deixado de lado. As horas da  manhã, de seis às oito, são as melhores horas, porque não há interrupção. A hora logo  após o chá, a minha melhor hora, deveria ser solenemente dedicada a Deus. Não devo  interromper o bom hábito de orar antes de dormir; mas devo prevenir-me contra o sono.  Quando eu me acordo durante a noite, devo levantar-me e orar. Após o café da manhã,  devo ter um tempo para intercessão”. Este era o plano de Robert Murray McCheyne. O  memorável Grupo Metodista por sua oração envergonha-nos: “De quatro às cinco da  manhã, oração particular; de cinco às seis da tarde, oração particular”. 

John Welch, o santo e maravilhoso pregador escocês, julgava que o dia estava perdido  se não orava de oito às dez horas. Ele preparava o “robe-de-chambre” para usá-lo  quando acordava à noite e orava. A sua esposa queixava-se dele quando o encontrava  chorando prostrado no assoalho. Ele lhe replica: “Oh mulher, tenho a responsabilidade  de três mil almas diante de Deus E eu não sei quantos dentre eles têm a certeza da  salvação”.  

O Bispo Wilson diz: “No diário de H. Martyn, o espírito de oração, o tempo devotado  ao dever e o seu fervor são as primeiras coisas que me impressionam”.  

Payson dedicava tanto tempo à oração, e com tanta intensidade orava, que, pelo atrito  constante de seus joelhos, se desgastou o local do assoalho onde estava habituado a  ajoelhar-se. O seu biógrafo diz: “Sua oração contínua, feita em qualquer circunstâncja, é  o fato mais notável da sua vida e é isto o que deve ser feito por aquele que quer  rivalizar-se com ele. Às suas orações ardentes e perseverantes deve-se, sem dúvida, em  grande medida, seu sucesso notável e quase ininterrupto”.  

O Marquês DeRenty, para quem Cristo era a Pessoa mais preciosa, ordenou a seu criado  chamá-lo das suas devoções depois de meia hora. O criado, à hora indicada, viu a sua  face através de uma abertura. A sua face estava assinalada com tal santidade que não  teve coragem de chamá-lo. Seus lábios moviam-se, mas ele estava em completo  silêncio. Esperou por uma hora e meia; então chamou-o. DeRenty levantou-se dizendo  que a meia hora era tão curta quando se está em comunhão com Cristo.  

Brainerd disse: “Eu gosto de ficar sozinho na minha cabana onde eu posso gastar muito  tempo em oração”.  

William Bramwell é famoso nos anais metodistas por sua santidade pessoal, pelo seu  sucesso maravilhoso na pregação e pelas extraordinárias respostas a suas orações. Orava  muitas horas seguidas. Viveu quase toda a sua vida sobre os joelhos. Ele visitava sua  paróquia com o coração inflamado. E este fogo foi acendido pelo tempo que gastou em  oração. Muitas vezes, gastou mais de quatro horas em oração contínua.  

O Bispo Andrews empregava em geral cinco horas diariamente na oração e devoção.  

Sir Henry Havelock, soldado britânico, gastava sempre as primeiras duas horas de cada  dia com Deus. Se o acampamento se levantava às seis horas da manhã, ele se levantava  às quatro.  

O Sr. Earl Cairns, advogado irlandês, levantava-se diariamente às seis horas para  assegurar uma hora e meia para o estudo da Bíblia e oração antes de fazer o culto  doméstico, às 7:45h.  

O sucesso do Dr. Judson na obra de Deus é atribuído ao fato de que ele gastava muito  tempo em oração. Ele diz sobre isso: “Arranja os teus afazeres, se possível, de tal modo  que possas devotar calmamente duas ou três horas, todos os dias, não somente para  momentos devocionais, mas também para a oração em secreto e comunhão com Deus.  Esforça-te sete vezes por dia a retirar-te do teu trabalho e dos teus companheiros e eleva  a tua alma em recolhimento particular. Começa o dia devotando algum tempo logo  depois da meia-noite, no meio do silêncio e escuridão da noite, para este trabalho santo. 

Que o amanhecer te encontre em oração. Permite que nove, doze, três, seis e nove da  noite sejam testemunhas do mesmo trabalho. Sê resoluto na Sua Causa. Faze todos os  sacrifícios para mantê-lo. Considera que o teu tempo é curto e que o trabalho e os  companheiros não devem roubar-te do teu Deus”.  

Impossível, dizemos, isso é fanatismo! O Dr. Judson construiu um império para Cristo e  colocou os fundamentos do Reino de Deus no coração da Birmânia com granitos  imperecíveis. E ele foi bem sucedido. Foi um dos poucos homens que influenciaram o  mundo poderosamente em favor de Cristo. Muitos homens de maiores dons e gênios, e  mais letrados do que ele não deixaram tanta impressão como ele; a obra religiosa deles é  como rastros na areia, mas a obra do Dr. Judson foi como uma inscrição no diamante. O  segredo da sua profundidade e constância deve-se ao fato de ter dado muito tempo à  oração. Ele se conservou como um ferro em brasa por meio da oração e Deus o modelou  com poder constante. Nenhum homem pode realizar uma obra perdurável e grande em  favor de Deus, se não for um homem de oração. Nenhum homem pode ser um homem  de oração sem que dê muito tempo à oração.  

É verdade que a oração é um simples cumprimento de um hábito comum e mecânico? É  uma pequena representação que ensaiamos, cujos principais elementos são a brevidade e  a superficialidade?  

“É verdade que a oração é, como se pensa, um pequeno afluxo de sentimento que emana  de uma meditação sem vida e leve, de alguns momentos?” Canon Liddon continua:  “Permitamos que respondam os que realmente oram. Eles, algumas vezes, comparam a  oração com a luta do Patriarca Jacó com um Poder Desconhecido durante toda a noite e  mesmo até a madrugada, na vida dos crentes zelosos. Outras vezes, refere-se à  intercessão comum como luta que exija todos os esforços, como dizia São Paulo. Eles  têm, quando oram, seus olhos fixos no Grande Intercessor de Getsêmani, cujo ‘suor  tornou-se em grandes gotas de sangue que corriam até ao chão’ por causa da agonia de  resignação e sacrifício. Importunação é a essência da oração eficiente. Importunação  não significa devaneio, mas um trabalho sustentado com esforços. É pela oração  especialmente que ‘se faz violência ao reino dos céus e pela força se apoderam dele’”  (Mt. 11:12).  

O finado Bispo Hamilton dizia: “não podemos obter resultados extraordinários sem que  tenhamos o mesmo zelo na preparação do trabalho, chamado oração, e perseverança  nele, como somos zelosos nos assuntos que, segundo a nossa opinião, são de grande  interesse e necessidade”. 


7 – DE MADRUGADA TE BUSCAREI  

Devo orar antes de ver qualquer pessoa. Às vezes, quando durmo  demais, ou encontro com pessoas bem cedo, já é onze ou doze  horas, antes de eu começar a oração em secreto. Esse é um mau  hábito. É antibíblico. Cristo levantou-Se antes do amanhecer e foi  a um lugar solitário. Davi diz: “De madrugada te buscarei”; “de  madrugada ouvirás a minha voz”. A oração familiar perde muito  de suas forças e doçura e não posso fazer o bem àqueles que me  procuram. A consciência sente-Se culpada, a alma sem alimento,  a candeia sem óleo. Então, muitas vezes, a alma não está em boa  condição para a oração em secreto. Eu sinto que é muito melhor  começar com Deus — ver a Sua face primeiro, elevar a minha  alma para junto dEle antes de me aproximar dos outros.  

— Robert Murray McCheyne  

Os homens que mais fizeram para Deus neste mundo estiveram sobre seus joelhos de  manhã. Aquele que desperdiça os primeiros momentos da manhã, empregando-os em  outras coisas em vez de buscar a Deus, terá dificuldades em buscá-LO o resto do dia. Se  Deus não está em primeiro lugar nos nossos pensamentos e esforços pela manhã, Ele  estará no último lugar durante todo o resto do dia.  

É o ardente desejo que nos impele a buscar a Deus, que nos faz levantar e orar bem  cedo. O homem que acorda sem ambições demonstra um coração sem aspirações. O  coração que é tardio em buscar a Deus pela manhã, perdeu o sabor da comunhão com  Deus. O coração de Davi era ardente para com Deus. Ele tinha fome e sede de Deus, de  modo que buscava a Deus bem cedo antes da luz do dia. A cama e o sono não podiam  prender a sua alma sedenta de Deus. Cristo ansiava pela comunhão com Deus e assim,  levantando-Se bem antes do amanhecer, subiu à montanha para orar. Os discípulos,  quando despertados, ficaram envergonhados da sua negligência, pois sabiam onde  encontrá-LO. Se passássemos os olhos à lista dos homens que poderosamente  influenciaram o mundo a favor de Deus, os encontraríamos orando bem cedo. O anseio  para com Deus que não quebra as fadigas do sono, é fraco e realizará muito pouco em  favor de Deus, mesmo que possa satisfazer-se a si mesmo. O anseio por Deus, que nos  conserva bem longe do diabo e do mundo, no alvor do dia, não se deixa embaraçar por  estas coisas.  

Não é um anseio simples que faz os homens marcharem e os torna capitães dos  exércitos de Deus, mas anseio ardente que os aviva e quebra todas as cadeias de auto indulgência. Mas o levantar cedo manifesta, aumenta e fortalece esse anseio. Mas se  eles permanecem no leito e são indulgentes para consigo mesmos, o anseio se  extinguirá. Mas aquele anseio faz com que eles se despertem e busquem a Deus com  todas as forças. Quando se considera e põe em prática esse anseio, a sua fé conquista a  Deus e lhe concede a manifestação doce e transbordante de Deus ao seu coração. Esse  poder da fé e a plenitude da revelação os torna eminentemente santos e o halo de Sua  santidade vem até nós e entramos no gozo de suas conquistas. Mas nós nos satisfazemos  nesse gozo e nada mais fazemos. Construímos suas sepulturas e escrevemos seus  epitáfios, mas somos cuídadosos em não seguir os seus exemplos. 


Necessitamos de uma geração de pregadores que busquem a Deus de madrugada, e  dediquem a Deus a disposição de seus corações e seus esforços e assegurem, por outro  lado, a plenitude do Seu poder, que Ele pode conceder-lhes, alegremente, como orvalho  através de todo o calor e o labor do dia. Nossa negligência para com Deus é um pecado  clamoroso. Os filhos deste mundo são muito mais sábios do que nós. Eles se dedicam ao  trabalho desde a madrugada até tarde da noite. Nós porem, não buscamos a Deus com  ardor e diligência. Ninguém alcançará a Deus sem buscá-LO com todo o esforço e  nenhuma alma se põe a buscar a Deus com todas as forças a não ser pela madrugada.

8 – O SEGREDO DO PODER  

Há uma falta manifesta de influência espiritual no ministério de  hoje. Eu o sinto no meu próprio caso e o vejo no ministério de  outros. Temo que haja entre nós um espírito de política e  temperamento mundano em demasia. Estamos por demais  preocupados em satisfazer os gostos de um homem e os  preconceitos de outro. O ministério é um grande e santo trabalho  e deve encontrar em nós um espírito simples e santo, mais uma  humilde imparcialidade para todas as conseqüências. O defeito  principal dos ministros cristãos é a deficiência de um hábito  devocional.  

— Richard Cedil  

Nunca houve maior necessidade de homens e mulheres santos; mais imperativo ainda é  o chamado de pregadores santos e inteiramente devotados a Deus. O mundo move-se  com passos gigantescos. Satanás tem ascendência e domínio sobre o mundo e se esforça  para que todos os seus movimentos sirvam a suas finalidades. A religião deve realizar o  seu melhor trabalho, e apresentar seus modelos mais atrativos e perfeitos. De qualquer  modo, a santidade moderna deve estar inspirada nos ideais mais sublimes e nas  possibilidades maiores por meio do Espírito.  

Paulo vivia sobre os joelhos, para que a Igreja de Éfeso pudesse compreender a largura,  o comprimento, a altura e a profundidade de uma santidade incomensurável e fossem  tomados de toda a plenitude de Deus (Ef. 3:18-19). Epafras entregou-se ao trabalho  exaustivo e conflito estrênuo de oração fervorosa para que a Igreja de Colossos pudesse  “ser conservada perfeita e plenamente convicta em toda a vontade de Deus” (Cl. 4:12).  Em qualquer lugar, em qualquer coisa dos tempos apostólicos, havia um esforço da  parte do povo de Deus para chegar “à unidade de fé e do pleno conhecimento do Filho  de Deus, perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef. 4:13).  Não havia prêmio para os anões; nem encorajamento à eterna infância. As crianças  devem crescer; o velho, apesar da fraqueza, deve produzir fruto na velhice, ser  abundante e próspero. A coisa mais divina na religião cristã é homens santos e mulheres  santas.  

Nenhuma soma de dinheiro, de gênio, ou de cultura pode mover coisas para Deus. A  santidade é que dá energia à alma. O homem inflamado de amor, de anseio por mais fé,  mais oração, mais zelo e mais consagração — este é o segredo do poder. É dessas coisas  que necessitamos e que devemos ter e homens devem ser a encarnação dessa devoção a  Deus. O trabalho de Deus está estacionado e Sua Causa está claudicante, Seu nome  profanado pela falta dessas coisas. O gênio (embora seja o mais sublime e o mais  dotado), a educação (embora a mais elevada e mais refinada), a posição, a dignidade,  nomes honrados, não podem mover este carro de guerra do nosso Deus. É um carro de  fogo, e somente forças ígneas podem movê-lo. O gênio de um Milton falharia. A força  imperial de um Leão falharia. O espírito de Brainerd pôde movê-lo; o espírito de  Brainerd estava inflamado para Deus e inflamado para as almas. Nada terreno,  mundano, egoísta contribui para abater por menos que fosse, a intensidade dessa força e  dessa chama impelidora e consumidora. 

A oração é o criador e o canal da devoção. O espírito de devoção é o espírito de oração.  A oração e a devoção estão unidas como a alma e o corpo e como a vida e o coração.  Não há oração real sem devoção nem devoção sem oração. O pregador deve submeter se a Deus numa devoção mais santa. Ele não é um homem profissional, seu ministério  não é uma profissão; é uma instituição divina, uma devoção divina. Ele é devotado a  Deus. Seu objetivo, suas aspirações e sua ambição são para Deus e em direção a Deus.  Para uma pessoa assim, a oração é tão essencial como o alimento para a vida.  

O pregador, acima de todas as coisas, deve ser devotado a Deus. As relações do  pregador com Deus são as insígnias e credenciais do seu ministério. Estas devem ser  claras, conclusivas e irrefutáveis. Nenhum tipo comum e superficial de piedade deve  estar nele. Se não se notabiliza pela graça, não se notabiliza por mais nada. Se não prega  pela sua vida, seu caráter e sua conduta, nada prega. Se a sua piedade é leve, a sua  pregação pode ser tão suave e doce como a música, tão dotada como a força de Apolo,  ainda assim seu peso será de uma pena, visionário e flutuante como a nuvem ou o  orvalho da manhã. Devoção a Deus é insubstituível no caráter e na conduta do pregador.  A devoção à Igreja, às opiniões, a uma organização e à ortodoxia — essas são  mesquinhas, inúteis e vãs quando se trata de serem a fonte de inspiração e o motivo da  vocação. Deus deve ser a fonte principal do esforço do pregador, a fonte e a coroa de  todas as suas obras. O nome e a honra de Jesus Cristo, o progresso da Sua causa devem  ocupar toda a sua atenção. O pregador não deve ter outra inspiração a não ser a do nome  de Jesus Cristo, nenhuma outra ambição a não ser a de glorificá-LO, nenhum outro  trabalho a não ser por Ele. Então a oração tornar-se-á uma fonte de suas inspirações, os  meios de progresso perpétuo e manômetro do seu sucesso. O objetivo perpétuo, a única  ambição que o pregador pode nutrir, é o de ter Deus com ele.  

Nunca a causa de Deus necessitou de ilustrações perfeitas das possibilidades da oração  mais do que no dia de hoje. Nenhuma era, nenhuma pessoa será exemplo do poder do  Evangelho a não ser as eras ou pessoas de profunda e ardente oração. Uma era sem  oração terá apenas exemplos escassos do poder de Deus. Os corações sem oração nunca  se elevarão a essas elevadas alturas. A nossa era pode ser uma era melhor do que a do  passado, mas há uma distância infinita entre o melhoramento de uma era pela força de  uma civilização progressiva e seu melhoramento pelo desenvolvimento da santidade e  da semelhança com Cristo pela energia da oração.  

Os judeus eram muito melhores quando Cristo veio, do que nas eras anteriores. Era a  idade de ouro de sua religião farisaica. Sua idade áurea de religiosidade crucificou  Cristo, Nunca houve tantas orações, e nunca tão pouca oração verdadeira; nunca tanto  sacrifício e tão pouco sacrifício real, nunca houve menos idolatria e nunca os homens  foram tão idólatras; nunca houve tanta adoração no templo, e nunca Deus foi menos  adorado; nunca houve mais culto com os lábios, e nunca houve menos culto de todo  coração; nunca houve tantos freqüentadores de igrejas, mas nunca houve tão poucos  santos.  

É a força da oração que faz santos. Os caracteres santos são formados pelo poder da  oração verdadeira. Quanto mais santoS verdadeiros houver, mais oração haverá; quanto  mais oração, mais verdadeiros santos.  

Deus tem agora e teve no passado muitos desses pregadores consagrados e dedicados à  oração — homens em cujas vidas a oração tem sido uma força poderosa controladora e 

conspícua. O mundo sentiu o seu poder, Deus sentiu e honrou seu poder, a causa divina  avançou poderosa e suavemente pelas suas orações, e a santidade brilhou nos seus  caracteres com um brilho divino.  

Deus encontrou um dos homens que estava procurando em Davi Brainerd, cuja obra e  nome ficaram na história. Ele não era um homem comum, mas era capaz de brilhar em  qualquer companhia, era o rival dos sábios e dos dotados, eminentemente capacitado  para ocupar os púlpitos mais atraentes e trabalhar entre os mais refinados e cultos que  estavam tão ansiosos para conservá-lo como seu pastor. Jonathan Edwards, famoso  pastor, testifica que era “um jovem de talentos notáveis, que tinha conhecimento  extraordinário de homens e coisas, tinha habilidades raras de eloqüência, tinha muito  conhecimento de teologia e era, verdadeiramente, para uma pessoa tão jovem,  extraordinariamente santo e profundo conhecedor de todos os assuntos relacionados  com a religião experimental. Nunca conheci um da mesma idade que ele que tivesse  noções tão claras e apuradas da natureza e essência da verdadeira religião. Seu modo de  orar era quase impossível de se imitar, e raramente cheguei a conhecer uma pessoa que  o igualasse. Seu conhecimento era considerável e tinha dons extraordinários para o  púlpito”.  

Nenhuma história mais sublime tem sido registrada nos anais terrestres do que a de Davi  Brainerd; nenhum milagre testifica com força mais divina a verdade do cristianismo do  que a vida e a obra de Davi Brainerd. Sozinho nas matas virgens da América, lutando  dia e noite com a doença mortal, inexperiente na cura de almas, ele estabeleceu a  verdadeira adoração a Deus. Tendo acesso aos indígenas durante uma grande porção de  tempo só através do inábil instrumento de um intérprete pagão, porém fortificado com a  Palavra de Deus no seu coração e na sua mão, ganhou muitos para o serviço de Deus.  Sua alma inflamada com a chama divina, e com mente, coração e boca sempre em  oração, assegurou todos os resultados graciosos de sua vocação e devoção divinas.  

Os indígenas experimentavam uma grande transformação, passando do mais baixo  embrutecimento de um paganismo cheio de ignorância e degradante para cristãos puros,  devotados e inteligentes; todo o vício abandonado, e os deveres externos do  cristianismo, uma vez abraçados, eram praticados; a oração familiar foi estabelecida; o  dia do Senhor instituído e religiosamente observado; as graças internas da religião eram  reveladas com mansidão e força crescentes.  

O segredo destes resultados é encontrado no próprio Davi Brainerd, não nas condições  ou acidentes, mas no homem Brainerd. Ele era um homem de Deus, a favor de Deus  sempre e em todas as ocasiões. Deus podia manifestar-Se através dele sem  impedimentos. A onipotência da graça não era limitada nem diminuída pelas condições  do seu coração; o canal inteiro era alargado e purificado pela passagem mais plena e  mais poderosa de Deus, de tal modo que Deus podia descer com todas as Suas forças  poderosas sobre o deserto desesperador e selvagem, e transformá-lo num jardim cheio  de flores e frutos; pois nada é difícil demais para Deus se Ele puder obter o homem  apropriado para fazê-lo.  

Brainerd viveu uma vida de santidade e oração. Seu diário é repleto de registros de  horas de oração, meditação e recolhimento espiritual. O tempo que gastou em oração  particular somava muitas horas diariamente. “Quando eu volto para casa”, disse ele, “e  me entrego à meditação, oração e ao jejum, a minha alma anseia por mortificação, 

abnegação própria, humildade e separação de todas as coisas do mundo”. “E eu nada  tenho que fazer”, disse ele, “com a terra, mas só nela trabalhar honestamente para Deus.  Não desejo viver um minuto sequer para as coisas que o mundo oferece”.  

Foi a oração que deu à sua vida e ao seu ministério seu maravilhoso poder.  

Ele orou de acordo com este alto princípio: “sentindo algo da suavidade da comunhão  com Deus e a força cnstrangedora do Seu amor e como admiravelmente isso cativa a  alma e faz com que todos os desejos e afeições centralizem em Deus, separei este dia  para o jejum em segredo e oração a Deus para que Ele me dirija e me abençoe em vista  do grande trabalho que eu tenho em mira, isto é, o de pregar o Evangelho, e para que o  Senhor voltasse a mim e me mostrasse a luz do Seu rosto. Tive pouca vida e poder  durante a manhã. Perto da metade da tarde, Deus capacitou-me a lutar ardentemente,  intercedendo por meus amigos ausentes, mas só à noite o Senhor visitou-me  maravilhosamente na oração. Penso que a minha alma nunca esteve antes em tal agonia.  Eu não senti nenhum impedimento, pois os tesouros da graça divina estavam abertos  para mim. Pelejei pelos amigos ausentes, pela colheita de almas, pelas multidões de  pobres almas e por muitos que, eu penso, eram filhos de Deus e estavam em lugares  distantes. Estava em tal agonia, desde o meio-dia até o escurecer, que eu fiquei todo  molhado de suor, mas mesmo assim parecia-me que nada havia feito. Oh! meu querido  Salvador derramou suores de sangue pelas pobres almas! Eu ansiei por mais compaixão  para com elas. Eu me sentia inundado de uma doce paz, com o amor e a graça divina e  fui dormir com este sentimento, com meu coração colocado em Deus”.  

Os homens poderosos em oração são homens de poder espiritual. As orações nunca  morrem. Toda a vida de Brainerd foi uma vida de oração. Dia e noite ele orava. Antes  de pregar e depois de pregar, ele orava. Orava cavalgando através das solidões  intermináveis da floresta. Orava no seu leito de palha. Orava retirando-se às florestas  densas e solitárias. Hora após hora, dia após dia, cedo de manhã e tarde da noite, ele  estava orando e jejuando derramando sua alma, intercedendo e comungando com Deus.  Estava com Deus poderosamente na oração e Deus estava poderosamente com ele, e,  mesmo que esteja morto, ainda fala e trabalha e falará e operará até o fim chegar, e entre  os gloriosos daquele glorioso dia ele estará entre os primeiros.  

Jonathan Edwards diz dele: “Sua vida mostra o caminho certo para o sucesso nas obras  do ministério. Ele o procurava como o soldado procura a vitória no cerco de uma cidade  ou na batalha; ou como um homem que corre a sua carreira para um grande prêmio.  Animado pelo amor a Cristo e às almas, como ele trabalhava? Sempre fervorosamente.  Não só em palavras e doutrina, em público e em particular, mas em orações de dia e de  noite, pelejando com Deus em segredo, e tendo dores de parto com gemidos e agonias  indizíveis, até que Cristo fosse formado nos corações do povo a quem ele era enviado.  Como um verdadeiro filho de Jacó, ele perseverou na peleja através de toda a escuridão  da noite, até o alvor do dia”! 


9 – A VITÓRIA DO LUGAR SILENCIOSO  

Porque nada alcança o coração a não ser o que vem do coração,  ou nada desperta a consciência a não ser o que vem da  consciência viva.  

— Willlam Penn  

Pela manhã, eu ficava ocupado em preparar a mente ao invés do  coração. Este tem sido freqüentemente o meu erro e eu sentia  sempre o seu mal, especialmente na oração. Reforma-a, pois, ó  Senhor! Alarga o meu coração e eu pregarei.  

— Robert Murray McCheyne  

Um sermão que contém mais cérebro nele infundido que coração,  não terá eficácia nos ouvintes.  

— Richard Cecil  

A oração com suas forças múltiplas auxilia os lábios para proferirem a verdade em sua  plenitude e liberdade. Deve-se fazer muita oração pelo pregador; o pregador é formado  pela oração. Deve-se orar pelos lábios do pregador; seus lábios devem ser abertos e  enchidos pela oração. Os lábios santos são formados pela oração, por muita oração; os  lábios destemidos são feitos pela oração, por muita oração. A Igreja e o mundo, Deus e  os céus devem muito aos lábios de Paulo; os lábios de Paulo deveram seu poder à  oração.  

Como é variada, ilimitada, valiosa e útil a oração para o pregador, por muitas razões, em  muitas coisas e em todas as ocasiões Um dos grandes valores é que auxilia o seu  coração. A oração põe o coração do pregador no seu sermão; a oração coloca o sermão  do pregador no seu coração.  

O coração faz o pregador. Homens de grandes corações são grandes pregadores.  Homens de maus corações podem fazer algum bem, mas isto é raro. O mercenário e o  estranho podem ajudar o rebanho em algumas ocasiões, mas é o bom pastor com bom  coração de pastor quem abençoará as ovelhas e corresponderá em toda a medida à  posição de pastor.  

Nós damos tanta ênfase à preparação do sermão que temos perdido a visão da coisa  mais importante a ser preparada — o coração. Um coração preparado é muito melhor do  que um sermão preparado. Um coração preparado fará um sermão preparado.  

Volumes têm sido escritos estabelecendo a mecânica e o gosto da preparação de  sermões, de tal modo que estamos possuídos da idéia de que os andaimes são o prédio.  Ao jovem pregador tem sido ensinado a empregar todo o seu esforço na forma, no gosto  e na beleza do seu sermão como um produto mecânico e intelectual. Temos, por isso,  cultivado um gosto viciado no povo e despertado o clamor por talento em lugar da  graça, eloqüência em vez de piedade, retórica em lugar de revelação, reputação e  brilhantismo ao invés de santidade. Por causa disto, temos perdido a verdadeira idéia da  pregação, o poder da pregação, a convicção pungente do pecado, a rica experiência e o 

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elevado caráter cristão, autoridade sobre as consciências e vidas, que sempre resulta da  pregação genuína.  

Isto não quer dizer que os pregadores estudam demais. Alguns deles nada estudam;  outros não estudam o suficiente. Inúmeros pregadores não estudam de um modo correto  para se mostrarem obreiros aprovados por Deus. Mas a nossa grande falta não é de  cultura mental, mas de cultura do coração; não a falta de conhecimento, mas a falta de  santidade é o nosso triste e saliente defeito — não que não conheçamos muito, mas é  que não meditamos sobre Deus e sobre Sua Palavra, não vigiamos, jejuamos e oramos  suficientemente. O coração é o grande impedimento para a nossa pregação. As palavras  impregnadas da verdade divina não encontram em nossos corações bons condutores;  detidas, tornam-se impotentes.  

Pode um homem ambicioso, que busca louvor e posição destacada, pregar o Evangelho  dAquele que não buscou para si mesmo reputação, mas tomou a forma de um servo?  Pode o orgulhoso, o vaidoso, o egoísta, pregar o Evangelho dAquele que era modesto e  humilde? Pode o mal-humorado, colérico, duro e mundano pregar as doutrinas que estão  cheias de longanimidade, auto-abnegação, ternura, que imperativamente exigem  separação da inimizade e crucificação para o mundo? Pode o mercenário oficial, sem  coração e negligente, pregar o Evangelho que exige que o Pastor dê Sua vida pelo  rebanho? Pode o homem ambicioso, que pensa em termos de salário e dinheiro, pregar o  Evangelho até que esgote o seu coração e possa dizer no espírito de Cristo e Paulo com  as palavras de Wesley: “E eu o considero como esterco e escória; o calco sob os meus  pés; e eu (ainda que não seja eu, mas a graça de Deus em mim) o estimo apenas como a  lama de estrada, não o desejo, não o busco”?  

A revelação de Deus não necessita da luz do gênio humano, a polidez e força da cultura  humana, o brilhantismo do pensamento humano, o poder do cérebro humano para  adornála ou reforçá-la; mas exige a simplicidade, a docilidade, a humildade e a fé que se  aninham no coração de uma criança.  

Foi esta submissão e subordinação do intelecto e do gênio às forças divinas e espirituais  que fez Paulo inigualável entre os apóstolos. Foram estas coisas que deram a Wesley o  seu poder.  

A nossa grande necessidade é a preparação do coração. Lutero tomou-o como um  axioma: “Quem orou bem, estudou bem”. Não dizemos que os homens não devem  pensar e usar a sua inteligência; mas usará melhor a sua inteligência quem cultivar mais  o seu coração. Não estamos dizendo que os pregadores não devem ser estudiosos; mas  queremos dizer que seu grande estudo deveria ser a Bíblia e estudará melhor a Bíblia  quem guarda o seu coração com diligência. Não dizemos que o pregador não deveria  conhecer os homens, mas será maior adepto da natureza humana quem sondou as  profundezas e os segredos do seu próprio coração.  

Queremos dizer que o canal da pregação é a mente, ao passo que sua fonte é o coração;  podeis alargar e aprofundar o canal, mas, se não cuidais da pureza e profundidade da  fonte, tereis um canal seco ou contaminado. Quase todos os homens de inteligência  comum têm capacidade suficiente para pregar o Evangelho, mas são muito poucos os  que tem graça suficiente para isso. Queremos dizer que, quem lutou com seu próprio  coração e o conquistou, quem aprendeu a humildade, fé, o amor, a verdade, 

misericórdia, simpatia, coragem; quem pode derramar ricos tesouros do coração assim  treinado através do intelecto humano, sobrecarregado com o poder do Evangelho, na  consciência dos ouvintes — tal pessoa será o pregador verdadeiro e mais bem sucedido,  segundo a estimação do seu Senhor.  

O coração é o salvador do mundo. As cabeças não salvam. Gênio, cérebro, brilhantismo,  força, dons naturais não salvam. O Evangelho derrama-se através dos corações. Todas  as forças mais poderosas são as do coração. Todas as graças mais doces e mais suaves  são as do coração. Grandes corações fazem grandes caracteres; grandes corações fazem  caracteres divinos. Deus é amor. Nada há maior que o amor, nada maior que Deus. Os  corações fazem o céu: o céu é amor. Nada há mais sublime, mais doce do que o céu. É o  coração e não a cabeça que torna grandes os pregadores de Deus. O coração vale muito  em todo sentido na religião. O coração deve falar do púlpito. O coração deve ouvir da  audiência. De fato, servimos a Deus com os nossos corações. A homenagem intelectual  não é aceita no céu.  

Cremos que um dos erros mais sérios, mais comuns do púlpito de hoje é o de colocar  mais pensamento do que oração, mais cérebro do que coração nos sermões. Grandes  corações fazem grandes pregadores, bons corações fazem bons pregadores. Uma escola  teológica para engrandecer e cultivar o coração é o objetivo áureo do Evangelho. O  pastor atrai seu povo a ele e governa seu povo pelo seu coração. Eles podem admirar  seus dons, podem estar orgulhosos de sua capacidade, podem ser influenciados por  algum momento pelos seus sermões; mas a fortaleza do seu poder é o seu coração. Seu  cetro é o amor. O trono do seu poder é o seu coração.  

O Bom Pastor dá Sua vida pelas ovelhas. Os cérebros nunca fazem mártires. E o  coração que sujeita a vida ao amor e à fidelidade. É necessário grande coragem para ser  um pastor fiel, mas o coração, ele só, pode suprir esta coragem. Dons e gênio podem ser  excelentes, mas são os dons e gênio do coração e não os da cabeça.  

É mais fácil encher o cérebro do que preparar o coração; é mais fácil fazer um sermão  intelectual do que um sermão de coração. Foi o coração que trouxe o Filho de Deus dos  céus. É o coração que levará os homens aos céus. O mundo necessita de homens de  coração para simpatizar com suas aflições, para sarar as dores, para ter compaixão de  suas misérias e para aliviar seu sofrimento. Cristo foi eminentemente Varão de dores  porque Ele foi preeminenternente o homem do coração.  

“Dá-Me teu coração”, é o pedido de Deus aos homens. “Dá-me o teu coração”, é o que  o homem pede aos outros.  

Um ministério profissional é um ministério sem coração. Quando o salário representa  um grande papel no ministério, o coração representa um papel mesquinho. Podemos  fazer da pregação a nossa tarefa e não colocar os nossos corações nessa tarefa. Quem  põe a si mesmo diante da sua pregação, põe o coração no último lugar. Quem não planta  com seu coração no seu gabinete, nunca ceifará uma seara para Deus. O recinto secreto  é o gabinete do coração. Ali aprenderemos sobre a maneira de pregar e o que pregar  mais do que podemos aprender em nossas bibliotecas. “Jesus chorou” é o mais curto e o  maior versículo da Bíblia. É aquele que sai chorando (não pregando grandes sermões),  levando a preciosa semente, quem voltará com regozijo, trazendo seus molhos com ele  (Sl. 126:6). 

A oração dá inteligência, traz sabedoria, alarga e fortalece a mente. O recinto secreto é  um perfeito professor e escola para o pregador. O pensamento não só é iluminado e  aclarado na oração. Podemos aprender mais em uma hora de oração, quando oramos  realmente, do que em muitas horas no gabinete. Há livros, no recinto secreto, que não  podem sem encontrados ou lidos em qualquer outro lugar. Há revelações que não  podem ser feitas em qualquer lugar que não seja o secreto. 

10 – SOB O ORVALHO DO CÉU  

Uma brilhante bênção que a oração particular traz ao ministério, é  algo indescritível e inexprimível — uma unção do Espírito Santo  ... Se a unção que trazemos não vier do Senhor dos Exércitos,  somos enganadores, desde que só na oração podemos obtê-la.  

Continuemos persistentes, constantes e fervorosos nas súplicas.  Coloquemos o novelo de lã na eira da súplica até que fique  molhado com o orvalho do céu.  

— Spurgeon  

Alexandre Knox, um filósofo cristão dos dias de Wesley, não um adepto, mas um  grande amigo pessoal de Wesley, com muita simpatia espiritual para com o movimento  wesleiano, escreve: “É estranho e lamentável, mas verdadeiramente creio que, a não ser  entre os metodistas e os clérigos metodistas, não há muita pregação interessante na  Inglaterra. O clero em geral perdeu totalmente essa arte. Há, penso eu, nas grandes leis  do mundo moral uma espécie de entendimento secreto, como as afinidades químicas,  entre a verdade religiosa corretamente promulgada e os sentimentos mais profundos do  espírito humano. Onde um se manifesta devidamente, o outro responderá ‘Não ardia em  nós o coração?’ — mas este sentimento devoto é indispensável ao orador. Ora, sou  obrigado a estabelecer da minha própria observação que esta ‘onction’, como os  franceses bem o denominam, está mais na convenção metodista do que na igreja do  Estado na Inglaterra. Isto, e só isto, parece realmente ser o que enche as casas  metodistas e rarefaz as igrejas do Estado. Eu não sou, como verdadeiramente penso, um  entusiasta; sou anglicano muito sincero e de coração e um discípulo humilde da escola  de Hale e Boyle, de Burnet e Leighton. Agora, devo asseverar que, quando eu estive  nesta cidade há dois anos atrás, não ouvi nenhum pregador que me falasse como os  meus próprios e grandes mestres a não ser os que são considerados metodistas. Agora  estou desenganado de procurar um átomo de instrução de coração em outro qualquer  lugar. Os pregadores metodistas (embora eu não possa aprovar sempre todas as suas  afirmações) difundem com maior convicção esta religião verdadeira e pura. Eu senti um  verdadeiro prazer no último domingo. Posso dar testemunho de que o pregador falou  realmente palavras da verdade e sobriedade. Não havia eloqüência — o homem honesto  nunca sonhou com tal coisa — mas havia coisa muito melhor: uma comunicação cordial  de verdade vitalizada. E eu digo vitalizada porque aquilo que ele declarou aos outros,  era impossível não sentir que ele próprio o vivia”.  

Essa unção é a arte de pregar. O pregador que nunca teve esta unção nunca teve a arte  de pregar. O pregador que perdeu essa unção, perdeu a arte de pregar. Qualquer outra  arte que ele possa ter ou reter — a arte de preparar sermões, a arte de eloqüência, a arte  de grandes e claros pensamentos, a arte de agradar ao auditório — sem essa unção terá  perdido a divina arte da pregação. Essa unção torna a verdade de Deus poderosa e  interessante, cativa e atrai, edifica, convence e salva.  

Essa unção vitaliza a verdade revelada de Deus, torna-a viva e vivificante. Ainda que  seja a verdade de Deus, quando transmitida sem esta unção é superficial, morta e  mortífera. Embora abunde em verdade, embora carregada de pensamentos, embora  brilhe com retórica, embora engrandecida pela lógica, embora poderosa pelo zelo, sem 

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essa divina unção ela traz a morte e não a vida. Spurgeon diz: “E penso quanto não seria  necessário martelar a nossa cabeça antes de poder explicar plenamente o que significa  pregar com unção. Mas aquele que prega sente a sua presença, e aquele que ouve logo  sente a sua ausência. Samaria, em estado de fome, representa um discurso sem unção.  Jerusalém, com sua festa de fartura, cheia de tutano, pode representar um sermão  enriquecido com ela. Qualquer um sabe o que a brisa da manhã é quando as pérolas  orientais abundam em cada folha da grama, mas quem pode descrevê-la e muito menos  produzi-la? Tal é o ministério da unção espiritual. Sabemos o que ela é, mas não  podemos defini-la. Imitá-la pode parecer fácil, mas representa uma grande tolice. Unção  espiritual é uma coisa que não se pode fazer e imitá-la é uma indignidade. No entanto  ela é, em si mesma, inestimável e é necessária acima de qualquer medida, se desejamos  edificar os crentes e conduzir pecadores a Cristo”.  

A unção é algo indefinível e indescritível que um velho pregador escocês de renome  descreve assim: “Há algumas vezes, algo na pregação que não pode ser descrito nem  com pena nem com palavras, o que é ou donde vem, mas que com uma violência suave  penetra no coração e nos sentimentos e vem diretamente do Senhor; mas se há algum  meio para obter tal coisa é pela disposição celestial do orador”.  

Nós a chamamos unção. Essa unção é que torna a Palavra de Deus “viva e eficaz e mais  cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e  espírito, juntas e medulas e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”  (Hb. 4:12). É essa unção que dá às palavras do pregador penetração, agudeza e poder, e  que cria tal impacto e agitação em muitas congregações mortas.  

As mesmas verdades têm sido anunciadas com tal rigor da letra, tão macias quanto o  óleo humano pode torná-las; mas não tem sinal de vida nem de pulsação; todas são tão  pacíficas como os túmulos e os mortos. Quando o mesmo pregador recebe um batismo  desta unção está nele o sopro divino e a letra da Palavra foi embelezada e inflamada por  este poder misterioso e as palpitações da vida começam — vida que recebe ou vida que  resiste. A unção penetra e convence a consciência e quebranta o coração.  

Esta unção divina é a característica que separa e distingue a verdadeira pregação do  Evangelho de todos os outros métodos de apresentar a verdade e que produz um grande  abismo espiritual entre o pregador que a tem e o pregador que não a tem. Sustenta e  impregna a verdade revelada com toda a energia de Deus. Unção é simplesmente  colocar Deus em Sua própria Palavra e sobre Seu próprio pregador. Pela oração  poderosa e pela oração contínua, ela se torna toda potente e pessoal para o pregador;  inspira e esclarece o seu intelecto, dá penetração, poder e influência; dá ao pregador o  poder do coração que é maior do que o poder da mente; ternura, pureza e força fluem do  seu coração por meio dela. Esta unção produz grandeza e liberdade, plenitude de  pensamento, retidão e simplicidade de expressão.  

Muitas vezes, o ardor é equivocamente tomado por esta unção. Aquele que tem a divina  unção será ardoroso pela própria natureza espiritual das coisas, mas pode haver uma  ampla gradação de ardor sem a mínima mistura de unção.  

Ardor e unção parecem semelhantes sob alguns pontos de vista, O ardor pode ser,  facilmente, tomado por unção. É necessário um olho espiritual e um discernimento  espiritual para descriminá-los. 

O ardor pode ser sincero, sério, ardente e perseverante. Dispõe-se a fazer as coisas com  boa vontade, persegue-as com perseverança, insiste nelas com ardor; põe as forças  nelas. Mas todas essas forças nada mais são do que forças humanas. O “homem” está  nele — o homem inteiro com tudo aquilo que é de sua vontade e seu coração, do  cérebro, do gênio, do seu plano, trabalho e de sua palestra. Ele tomou para si algum  propósito que o dominou e persiste para dominá-lo. Pode não haver nada de Deus nele.  Pode haver pouco de Deus nele, porque nele há muito do homem. Pode apresentar todos  os argumentos na defesa do seu sincero propósito que agradam ou tocam e movem ou  abatem com convicção de sua importância; em todo este ardor pode mover-se ao longo  dos caminhos terrenos, sendo propulsionado só pelas forças humanas, seu altar feito  pelas mãos terrenas e seu fogo aceso com chamas terrenas. Diz-se de um famoso  pregador, dotado de talento, que cumpria a Escritura segundo o seu gosto e propósito,  que “chegou a ser muito eloqüente com sua própria exegese”. Os homens assim tornam se excessivamente ardorosos com seus próprios planos ou movimentos. O ardor pode  ser egoísmo simulado.  

Que é unção? É o indefinível na pregação, que faz a pregação. É aquilo que distingue e  separa a pregação de todos os discursos meramente humanos. É o divino na pregação.  Ela torna penetrante a pregação para aqueles que necessitam de iluminação. Ela destila  como orvalho sobre aqueles que necessitam ser refrigerados.  

Esta unção vem ao pregador não no gabinete, mas no recinto secreto. É a destilação do  céu em resposta à oração. É a mais doce exalação do Espírito Santo. Ela impregna,  infunde, suaviza, filtra, apara e abranda. Leva a Palavra como dinamite, como sal, como  açúcar; torna a Palavra um suavizador, um revelador e um inquisidor; torna o ouvinte  um réu ou um santo, fá-lo chorar como criança e viver como gigante; abre seu coração e  sua bolsa tão gentilmente, no entanto tão fortemente como a primavera abre as folhas.  Esta unção não é o dom do gênio. Não é encontrada nas escolas. Nenhuma eloqüência  pode pretendê-la. Nenhuma indústria pode ganhá-la. As mãos preláticas não podem  conferi-la. É o dom de Deus — é o sinete conferido aos Seus próprios mensageiros. É a  dignidade de cavaleiro celestial concedida aos verdadeiros escolhidos e bravos que  procuram esta honrosa unção através de muitas horas de oração com lágrimas e luta.  

O ardor é bom e impressionante; o gênio é um grande dom. O pensamento brilha e  inspira, mas necessita de investidura mais divina, uma energia mais poderosa do que o  ardor, gênio ou pensamento para quebrar as cadeias do pecado, para ganhar corações  extraviados e depravados para Deus, para reparar as brechas e restaurar a Igreja ao seu  antigo caminho de pureza e poder. Nada a não ser esta santa unção pode fazer isto.  

No sistema cristão, a unção é o derramamento do Espírito Santo separando-nos e  qualificando-nos para o trabalho de Deus. Esta unção é uma divina capacitação pela  qual o pregador cumpre os fins peculiares e salvadores da pregação. Sem esta unção não  há resultados verdadeiramente espirituais; os resultados e as forças na pregação não  sobrepujam os resultados de um discurso não santificado. Sem a unção, o discurso é tão  poderoso quanto o púlpito.  

Esta unção divina sobre o pregador gera, através da Palavra de Deus, os resultados  espirituais que emanam do Evangelho; sem esta unção, estes resultados não são  assegurados. Muitas impressões agradáveis podem ser produzidas, mas todas elas ficam 

aquém dos fins da pregação do Evangelho. Esta unção pode ser simulada. Há muitas  coisas que se lhe assemelham, há muitos resultados que se parecem com os seus efeitos;  mas elas são estranhas aos seus resultados e à sua natureza. O fervor ou a ternura  excitados por um sermão patético ou emocional podem assemelhar-se com os  movimentos da unção divina, mas não têm força pungente, penetrante e que quebranta o  coração. Não há em seus movimentos superficiais, atraentes e emocionais, o bálsamo  que cura o coração. Não são radicais, nem sondam o coração, nem curam o pecado.  

Esta unção divina é um aspecto característico que separa a verdadeira pregação do  Evangelho de todos os outros métodos de apresentação da Verdade. Ela sustenta e  interpreta a verdade revelada com toda a força de Deus. Ilumina a Palavra, alarga e  enriquece o intelecto, capacita-o a aprender a Palavra. Qualifica o coração do pregador e  trá-lo para aquela condição de mansidão, de pureza, de força e luz que são necessárias  para assegurar os mais altos resultados. Esta unção dá ao pregador liberdade e grandeza  de pensamento e de alma — uma liberdade, plenitude e penetração direta da palavra que  não podem ser asseguradas por nenhum outro processo.  

Sem esta unção sobre o pregador, o Evangelho não tem mais poder para propagar-se do  que qualquer outro sistema de verdade. Este é o selo do seu caráter divino. A unção no  pregador coloca Deus no Evangelho. Sem a unção, Deus está ausente e o Evangelho é  abandonado às forças inferiores e insatisfatórias que a ingenuidade, o interesse ou os  talentos dos homens podem criar para dar força e projeção às suas doutrinas.  

É neste aspecto que o púlpito falha, mais do que em outro qualquer aspecto. Justamente  neste ponto mais importante é que ele falha. O estudo pode ter brilho e eloqüência, pode  agradar e encantar; o sensacionalismo ou os métodos menos ofensivos podem atrair os  homens em massa; o poder mental pode impressionar e dar força à verdade com todos  os seus recursos; mas sem esta unção, cada uma destas coisas e todas elas serão somente  como assalto das águas embravecidas sobre um Gibraltar. Borrifo e espuma podem  cobrir, mas as rochas ainda estão lá sem ser movidas e inamovíveis. O coração humano  não pode ser varrido da sua dureza e pecado por estas forças humanas, como essas  rochas não podem ser varridas pelas ondas incessantes do oceano.  

Esta unção é a força de consagração e sua presença, a prova contínua dessa  consagração. É esta divina unção no pregador que assegura sua consagração a Deus e à  Sua obra. Outras forças e motivos podem chamá-lo para a obra, mas só esta é a  consagração! Uma separação para o trabalho de Deus pelo poder do Espírito Santo é a  única consagração reconhecida por Deus como legítima.  

A unção, a divina unção, este derramamento celestial, é o que o púlpito necessita e deve  ter. Este óleo divino e celestial, colocado sobre ele pela imposição da mão divina, deve  suavizar e lubrificar o homem todo — coração, mente, espírito — até que ela o separe,  com uma separação poderosa, de todos os motivos e objetivos terrenos, seculares,  mundanos e egoístas, separando-o para tudo o que é puro e divino.  

É a presença desta unção no pregador que causa excitação e agitação em muitas  congregações. As mesmas verdades têm sido anunciadas na rigidez da letra, mas  nenhuma comoção foi vista, nenhuma dor ou pulsão sentidas. Tudo é tranqüilo como  um túmulo. Um outro pregador vem e esta influência misteriosa está sobre ele; a letra da  Palavra tem sido inflamada pelo Espírito, sentem-se as agonias de um movimento 

poderoso, é a unção que penetra e comove a consciência e quebranta o coração. A  pregação sem unção torna difícil todas as coisas, tornam-se secas, acres e mortas.  

Essa unção não é apenas uma era ou uma memória do passado; é um fato presente,  notado e cônscio. Pertence à experiência do homem assim como à sua pregação. É ela  que o transforma na imagem do seu Divino Mestre, assim como pela qual declara as  verdades de Cristo com poder. É de tanto poder no seu ministério que tudo o mais  parece fraco e vão sem ela, e sua presença compensa a ausência de todas as outras  forças mais fracas.  

Esta unção não é um dom inalienável. É um dom condicional e sua presença é  perpetuada e intensificada pelo mesmo processo pelo qual foi no começo conseguida,  pela oração incessante a Deus, pelo ardente anseio para com Deus, estimando-a,  buscando-a com ardor incansável, considerando tudo o mais perdido e falho sem ela.  

Como e de onde vem essa unção? Diretamente de Deus em resposta à oração. Só os  corações que oram são os coraçoes repletos desse óleo santo; somente os lábios que  oram são ungidos com essa divina unção.  

  

Oração, muita oração, é o preço da unção de pregar; a oração, muita oração é a única  condição para conservar esta unção. Sem a oração incessante, a unção nunca virá ao  pregador. A unção, tal como o maná desnecessariamente colhido, sem a perseverança na  oração, cria bichos. 

11 – O EXEMPLO DOS APÓSTOLOS  

Dê-me uma centena de pregadores que nada temem a não ser o pecado, nada desejam a não ser Deus, e não me importa se são  clérigos ou leigos; somente tais pessoas abalarão os portões do  inferno e estabelecerão o reino dos céus sobre a terra. Deus nada  fez a não ser em resposta à oração.  

— John Wesley  

Os apóstolos conheciam a necessidade e o valor da oração para o seu ministério.  Reconheceram que a sua nobre missão como apóstolos, em lugar de aliviá-los da  necessidade da oração, impelia-os a ela como uma necessidade mais urgente; assim eles  foram excessivamente zelosos para que alguma outra tarefa importante não viesse  esgotar seu tempo e impedisse a sua oração como deviam fazer; assim, escolheram  leigos para cuidar dos deveres delicados e crescentes de ministrar aos pobres, a fim de  que eles (os apóstolos) pudessem, sem empecilho, “perseverar na oração e no ministério  da palavra” (At., 6:4). Çolocaram a oração em primeiro lugar e deram ênfase à sua  posição com respeito à oração, “entregaram-se a ela”, tornando-a uma tarefa,  sujeitando-se a ela, dando-lhe fervor, urgência, perseverança e tempo.  

Como os santos apóstolos se devotaram a este divino trabalho da oração! “Orando  abundantemente dia e noite”, diz Paulo. “Mas nós perseveraremos na oração...” foi a  resolução dos dedicados apóstolos.  

Como estes pregadores do Novo Testamento se entregaram à oração pelo povo de Deus!  Como apresentaram Deus às suas igrejas, com toda plenitude, por suas orações! Estes  santos apóstolos não tinham a presunção de que haviam satisfeito seus altos e solenes  deveres pela entrega fiel da Palavra de Deus, mas sua pregação, pelo ardor e insistência  de suas orações, ficou gravada nas mentes dos ouvintes e produziu efeitos.  

A oração apostólica era tão determinante, árdua e imperativa como a pregação. Oravam  poderosamente, de dia e de noite para trazer seu povo aos lugares mais altos da fé e  santidade. Oravam mais poderosamente para conservá-lo nesta atitude espiritual. O  pregador que nunca aprendeu, na escola de Cristo, a nobre e divina arte da intercessão  pelo seu povo, nunca aprenderá a arte da pregação, mesmo que conheça muito bem as  regras da homilética e seja o mais dotado gênio na confecção do sermão e na  transmissão.  

As orações dos santos líderes apostólicos fizeram muito para tornar santos aqueles que  não eram apóstolos. Se os líderes da Igreja, nos anos posteriores tivessem sido tão  cuidadosos e fervorosos em suas orações pelo seu povo, como os apóstolos, os tempos  tristes e tenebrosos do mundanismo e apostasia não teriam manchado a história,  ofuscado a glória e detido o avanço da Igreja. A oração apostólica faz santos apostólicos  e conserva os tempos apostólicos de pureza e poder da Igreja. 

12 – O QUE DEUS QUER QUE NÓS FAÇAMOS  

Se alguns cristãos, que se têm queixado dos seus ministros,  tivessem dito e agido menos diante dos homens e tivessem se  aplicado com todo o seu poder em clamar a Deus pelos seus  ministros — teriam, por assim dizer, levantado e agitado o céu  com suas orações humildes, fervorosas e incessantes em favor  deles e teriam tido muito maior sucesso.  

— Jonathan Edwards  

De algum modo, a prática de orar em particular pelo pregador tem caído no desuso ou  tem sido menosprezada. De vez em quando, ouvimos a denúncia de que orar pelo  ministro é fazer declaração pública da sua ineficiência, e pô-lo em descrédito. Isto  talvez ofenda o orgulho da erudição e da auto-suficiência, mas estas coisas devem ser  ofendidas e desaprovadas num ministério que é tão desleixado a ponto de permitir a sua  existência.  

A oração, para o pregador, não é um simples dever de sua profissão, um privilégio, mas  é uma necessidade. O ar não é mais necessário aos pulmões quanto a oração o é para o  pregador. É absolutamente necessário que o pregador ore. É uma necessidade absoluta  que se ore pelo pregador. Estas duas proposições estão unidas com um laço que nunca  deve conhecer o divórcio: O PREGADOR DEVE ORAR; DEVE-SE ORAR EM  FAVOR DO PREGADOR. Nelas está encerrada toda a oração que ele pode fazer e  todas as orações que se pode fazer por ele para enfrentar as terríveis responsabilidades e  conseguir o maior e mais verdadeiro sucesso na sua grande obra. O verdadeiro  pregador, depois do cultivo do espírito e da oração em si mesmo, na forma mais intensa,  anseia com grande veemência as orações do povo de Deus.  

Quanto mais santo for o homem, mais estimará a oração; quanto mais claro ele vir que  Deus se entrega a Si mesmo ao que ora e que a medida de relevação divina à alma é  proporcional à aspiração da alma, mais importunará a Deus em oração. O caminho da  salvação não se encontra no coração que não ora. O Espírito Santo nunca habita no  coração sem oração. A pregação nunca edifica uma alma sem oração. Cristo desconhece  os cristãos sem oração. O Evangelho não pode ser espalhado por um pregador que não  ora. Dons, talentos, educação, eloqüência, vocação não podem abater a exigência da  oração, mas somente intensificar a necessidade de o pregador orar e receber orações em  seu favor. Quanto mais os olhos do pregador estiverem abertos para a natureza,  responsabilidades e dificuldades da sua obra, mais ele verá e, se for um verdadeiro  pregador, mais sentirá a necessidade de orar; não só o desejo crescente de orar, mas  chamar outros para ajudá-lo com suas orações.  

Que nobreza de alma, que pureza e elevação de motivos, que desinteresse, que sacrifício  próprio, que dedicação exaustiva, que ardor de espírito, que tato divino constituem os  requisitos para ser intercessor dos homens!  

O pregador deve entregar-se à oração pelo seu povo; não para que eles sejam salvos  simplesmente, mas para que sejam poderosamente salvos. Os apóstolos entregaram-se à  oração para que os seus santos pudessem ser perfeitos; não para que tivessem uma 

pequena experiência das coisas de Deus, mas para que eles fossem “cheios de toda a  plenitude de Deus” (Ef. 3:19). Paulo não ficou na sua pregação apostólica para  assegurar este fim, mas “por causa disto se pôs de joelhos perante o Pai de Nosso  Senhor Jesus Cristo” (Ef. 3:14). A oração de Paulo levou os convertidos pela sua  instrumentalidade muito mais longe no caminho da santidade do que a sua pregação.  Epafras fez muito mais pela oração em favor dos santos de Colossos do que por sua  pregação. Esforçou-se fervorosamente sempre na oração por eles, para que “eles se  conservassem firmes, perfeitos e convictos em toda a vontade de Deus” (Cl. 4:12).  

Os pregadores são preeminentemente escolhidos por Deus. São os principais  responsáveis pela condição da Igreja. Eles moldam seu caráter, dão matiz e direção à  sua vida.  

Muito, de todas as maneiras, depende desses líderes. Eles formam as épocas e as  instituições. A Igreja é divina, o tesouro que ele encerra é celestial, mas ela traz a  estampa humana. O tesouro está num vaso de barro e toma o gosto do vaso. A Igreja de  Deus faz seus líderes ou é feita por eles. Seja ela quem faz os líderes, seja ela feita por  eles, será o que seus líderes são; espiritual, se eles o forem; mundana, se eles o são.  

Os reis de Israel deram caráter à piedade israelita. Uma Igreja raramente se revolta ou se  põe acima da religião dos seus líderes. Líderes fortemente espirituais, homens de santo  poder, à frente, são símbolos do favor de Deus; desastre e fraqueza seguem ao  aparecimento dos líderes fracos ou mundanos. Israel decaiu quando Deus lhe deu  crianças para serem seus príncipes e bebês para os governarem. Nenhum estado de  felicidade é predito pelos profetas quando as crianças oprimem o Israel de Deus e  inimigos o governam. Os tempos de liderança espiritual são tempos de grande  prosperidade para a Igreja.  

A oração é uma das características eminentes de uma forte liderança espiritual. Homens  de oração poderosa são homens de grande poder e moldam as coisas. Seu poder com  Deus tem o passo de um conquistador.  

Como pode um homem pregar se não recebeu de Deus sua mensagem no recinto  secreto? Como pode pregar sem ter sua fé avivada, sua visão esclarecida e seu coração  aquecido pela sua estreita União com Deus? Ai, se os lábios não estiverem tocados pela  chama dessa comunhão! Eles serão sempre secos e sem unção. As verdades divinas  nunca virão com poder de tais lábios. Até onde se implicam os interesses reais da  religião, um púlpito sem o recinto secreto será sempre um deserto.  

Um pregador pode pregar de um modo oficial, atraente e estudado sem oração, mas,  entre esta espécie de pregação e o ato de semear a semente preciosa de Deus com mãos  santas e corações cheios de oração e de lágrimas, há uma distância incomensurável.  

São Paulo é um exemplo. Se algum homem podia espalhar ou fazer avançar o  Evangelho pela eficácia da força pessoal, pelo poder do intelecto, pela cultura, pelo  talento pessoal, pela comissão apostólica de Deus, pela vocação extraordinária de Deus,  este homem foi Paulo. De que o pregador deve ser um homem entregue à oração, Paulo  é um exemplo eminente. De que o verdadeiro pregador apostólico deve ter as orações de  outros bons irmãos para dar ao seu ministério seu contingente pleno de sucesso, Paulo é  um exemplo preeminente. Ele pede, anseia, suplica de um modo apaixonado o auxílio 

de todos os santos de Deus. Sabia que no mundo espiritual, como em qualquer outra  parte, a união faz a força; que a concentração e a reunião da fé, desejo e oração  aumentavam o volume da força espiritual até tornar-se esmagadora e irresistível em seu  poder. Unidades de oração combinadas, como as gotas de água, fazem um oceano que  desafia a resistência. Assim Paulo, com a sua clara e plena apreensão do dinamismo  espiritual, determinou tornar o seu ministério tão influente, eterno, irresistível como o  oceano, reunindo todas as unidades dispersas de oração e precipitando-as sobre o seu  ministério.  

Não pode a explicação da preeminência de Paulo no trabalho, nos resultados e na  influência sobre a Igreja e o mundo, ser encontrada no fato de que foi capaz de  centralizar nele e no seu ministério mais orações do que outros? Aos seus irmãos de  Roma escreveu: “Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo  amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor” (Rm.  15:30).  

Aos efésios ele diz: “Com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito, e  para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos, e também por  mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para com intrepidez  fazer conhecido o mistério do evangelho” (Ef. 6:18,19).  

Aos colossenses reitera: “Suplicai ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus  nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também  estou algemado; para que eu o manifeste, como devo fazer” (Cl. 4:3,4).  

Aos tessalonicenses ele diz, aguda e fortemente: “Irmãos, orai por nós” (1 Ts. 5:25).  

Paulo chama a igreja de Corinto em seu auxílio: “Ajudando-nos também vós, com as  vossas orações a nosso favor” (II Co. 1:11). Esta devia ser uma parte da sua obra. Eles  deviam auxiliá-lo com as suas orações.  

Ele, num apelo adicional e final à igreja de Tessalônica, acerca da importância e  necessidade de suas orações, dizia: “Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a  palavra do Senhor se propague, e seja glorificada, como também está acontecendo entre  vós; e para que sejamos livres dos homens perversos e maus; porque a fé não é de  todos” (II Ts. 3:1,2).  

Inculca nos filipenses que todas as suas provações e oposição podem tornar-se meios  para a expansão do Evangelho pela eficiência de suas orações por ele. Filemon estava  preparando um alojamento para ele, pois através da sua oração Paulo iria ser seu  hóspede.  

A atitude de Paulo nesta questão ilustra sua humildade e sua profunda penetração nas  forças espirituais que projetam o Evangelho. Mais do que isto, ensina uma lição para  todos os tempos que, se Paulo dependia tanto das orações dos santos de Deus para dar  êxito ao seu ministério, quão maior deve ser a necessidade de que as orações dos santos  de Deus sejam centralizadas sobre o ministério hoje!  

Paulo não pensou que esta urgente súplica por oração viesse rebaixar a sua dignidade,  diminuir sua influência ou depreciar sua piedade. Que importa se o fez? Perca-se a 

dignidade, destrua-se a influência, prejudique-se a sua reputação — ele devia ter suas  orações. Vocacionado, comissionado, e sendo principal entre os apóstolos como ele era,  todo o seu equipamento era imperfeito sem as orações do seu povo. Escreveu cartas  para todos os lugares, instando com eles para orar em seu favor. Orai pelo vosso  pregador? Orai por ele em secreto? As orações públicas têm pouco valor a menos que  estejam fundamentadas e seguidas pela oração particular. Aqueles que oram pelo  pregador serão para ele o que Aarão e Hur foram para Moisés: sustentaram suas mãos  levantadas e decidiram a batalha que se travava encarniçadamente em seu redor.  

A súplica e o propósito dos apóstolos foram fazer a Igreja orar. Não ignoraram o lugar  que a atividade, a capacidade e obras religiosas ocupavam na vida espiritual, mas  nenhuma, nem todas elas, na estima ou urgência apostólica, podiam, de maneira  alguma, compararse à necessidade e importância da oração. As mais sagradas e urgentes  súplicas foram empregadas, as mais fervorosas exortações, as mais compreensivas e  despertadoras palavras foram pronunciadas para reforçar a importantíssima obrigação e  necessidade da oração.  

“Orem os homens em todo lugar”, é o cuidado do esforço apostólico e a nota-chave do  sucesso apostólico. Jesus Cristo havia-se esforçado para fazer isso nos dias de Seu  ministério pessoal. De maneira que Ele foi movido por infinita compaixão nos campos  maduros da terra que se perdiam por falta de trabalhadores — e pausando em Suas  próprias orações — Ele procurou despertar as sensibilidades embotadas de seus  discípulos para o dever da oração conforme lhes confiou, “Rogai, pois, ao Senhor da  seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Mt. 9:38). “Disse-lhes Jesus uma  parábola sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer” (Lc. 18:1).  

Nossas devoções não se medem pelo relógio, mas o tempo está na sua essência. A  habilidade para esperar e permanecer, e insistir, pertence essencialmente à nossa  comunhão com Deus. A precipitação que é imprópria e daninha em todo lugar o é em  extensão mais alarmante na grande ocupação de comunhão com Deus. Devoções curtas  são a ruína da profunda piedade. Quietude, alcance, fortaleza nunca são os  companheiros da precipitação. As devoções curtas arrefecem o vigor espiritual, detêm o  progresso espiritual, carcomem os fundamentos espirituais, crestam a raiz e a flor da  vida espiritual. Elas são a fonte prolífica da apostasia, segura indicação de uma piedade  superficial; elas defraudam, mirram, apodrecem a semente e empobrecem o solo.  

É verdade que as orações bíblicas em palavras e impressas são curtas, mas os homens de  oração da Bíblia estavam com Deus através de muitas horas de lutas doces e santas.  Ganharam por poucas palavras, mas por longa espera. As orações de Moisés registradas  podem ser curtas, mas orou a Deus com jejum e poderoso clamor por quarenta dias e  quarenta noites.  

A exposição da oração de Elias pôde condensar-se em uns poucos e breves parágrafos,  mas sem dúvida Elias, que quando “orando orava”, empregou muitas horas em luta  impetuosa e elevada comunhão com Deus, antes que pudesse com segura intrepidez  dizer a Acabe: “Nem orvalho nem chuva haverá nestes anos segundo a minha palavra”  (1 Rs. 17:1). O sumário verbal das orações de Paulo é curto, mas Paulo “orava dia e  noite com grande instância” (1 Ts. 3:10). O Pai Nosso é um divino epítome para lábios  infantis, mas o homem Jesus Cristo orou muitas noites inteiras, antes que Sua obra fosse 

realizada, e Suas devoções de toda a noite e longamente sustentadas deram à Sua obra  seu acabamento e perfeição, e ao Seu caráter a plenitude de glória de Sua divinidade.  

A obra espiritual é uma obra desgastante e aos homens repugna-lhes fazê-la. A oração, a  verdadeira oração, custa um preço de sérias atenções e de tempo que a carne e o sangue  não estimam. Poucas pessoas são feitas de tão forte fibra que queiram fazer tão custoso  gasto, quando a obra superficial bem pode passar no mercado. Podemos habituar-nos,  nós mesmos, à nossa miserável oração até que ela pareça bem a nós e, pelo menos,  guarda uma forma decente e uma consciência tranqüila — o mais mortal dos narcóticos!  Podemos descuidar a nossa oração e não perceber o perigo até que os fundamentos  tenham desaparecido. As devoções apressadas tornam a fé débil, convicções débeis,  piedade suspeita. Estar pouco tempo com Deus é ser pequeno para Deus. Encurtar a  oração torna todo o caráter religioso curto, escasso, mesquinho e descuidado.  

É necessário muito tempo para o pleno derramamento de Deus no espírito. As devoções  curtas cortam o condutor do pleno derramamento de Deus. Necessita-se de muito tempo  em lugares secretos para conseguir a plena revelação de Deus. O tempo exíguo e  apressado danifica o quadro.  

Henry Martyn, missionário inglês, lamenta que “a falta de leitura devocional particular e  as orações curtas, por causa do trabalho incessante de fazer sermões, produziram muita  estranheza entre Deus e sua alma”. Julgou que havia dedicado demasiado tempo às  ministrações públicas e muito pouco tempo à comunhão particular com Deus. Ficou  impressionado com a necessidade de separar tempo para o jejum e devotar tempo à  oração solene. Como resultado disso ele relata: “Fui auxiliado esta manhã a orar por  duas horas”; William Wilberforce, o companheiro dos reis, diz: “Devo reservar mais  tempo para as devoções particulares. Tenho vivido demasiado em público e para mim, o  encurtamento das devoções particulares mata a alma de fome; ela se torna pobre e  lânguida. Tenho estado velando até altas horas da noite”. De um fracasso no  Parlamento, ele diz: “Deixa-me registrar minha tristeza e minha vergonha, pois,  provavelmente, as devoções secretas foram cortadas e assim Deus me deixou tropeçar”.  Mais solidão e mais horas matutinas foram o seu remédio.  

Mais tempo e mais horas matutinas para a oração atuariam maravilhosamente para  reavivar e revigorar a vida espiritual decaída de muitos. Mais tempo e horas matutinas  em oração se manifestariam em um viver santo. Uma vida santa não seria uma coisa tão  rara e tão difícil, se as nossas devoções não fossem tão curtas e tão apressadas. Um  temperamento cristão em sua doce e desapaixonada fragrância não seria uma herança  tão estranha e desesperada se as nossas permanências no recinto secreto fossem  alongadas e intensificadas. Vivemos tão mesquinhamente porque oramos  mediocremente. A abundância de tempo para festejarmo-nos em nossos recintos  secretos traria tutano e gordura às nossas vidas. Nossa capacidade para estarmos com  Deus e em nosso recinto secreto mede a nossa habilidade para estarmos com Deus fora  dele. As visitas apressadas ao recinto secreto são enganosas e negligentes. Não somente  somos enganados por elas, mas também perdemos por causa delas muitos meios e  muitos ricos legados. A permanência no recinto secreto instrui e faz triunfar. Ela nos  ensina, e as maiores vitórias são resultado de grandes esperas — esperas até que as  palavras e os planos sejam esgotados. A espera silenciosa e paciente ganha a coroa.  Jesus Cristo pergunta com ênfase provocativa: “E Deus não fará a justiça aos seus  escolhidos, que chamam a Ele de dia e de noite”? (Lc. 18:7). 

Orar é a maior coisa que podemos fazer e para fazê-la bem deve haver quietude, tempo  e deliberação; de outro modo, degrada-se até o nível das coisas mais pequenas e  insignificantes. A verdadeira oração tem os maiores resultados para o bem e a oração  pobre, os menores. Nunca oramos demasiadamente quando realmente oramos; não  podemos nos dedicar a imitações. Devemos aprender de novo o valor da oração. Não há  nada que tome mais tempo para aprender-se. E se desejamos aprender a maravilhosa  arte, não devemos dar um fragmento de tempo aqui e acolá, mas devemos requerer e  tomar com poder férreo as melhores horas do dia para Deus e para oração, ou não  haverá oração digna de tal nome.  

Esta, no entanto, não é era de oração; poucos são os homens que oram. A oração é  caluniada pelo pregador e pelo sacerdote. Nesses dias de precipitação e afã, de  eletricidade e vapor, os homens não querem tomar tempo para a oração. Há pregadores  que “dizem orações” como uma parte de seu programa, em ocasiões regulares ou  importantes, mas quem “há que invoque o teu nome, que se desperte, e te detenha?” (Is.  64:7). Quem ora como orou Jacó — até que é coroado como intercessor prevalecente e  régio? Quem ora como Elias — até que todas as forças detidas da natureza sejam  abertas e uma terra castigada e faminta floresça como o jardim de Deus? Quem ora  como orou Jesus Cristo que saindo para o monte “esteve toda a noite em oração com  Deus” (Lc. 6:12)? Os apóstolos “se consagraram à oração” (At. 6:4) — é a coisa mais  difícil de levar os homens e mesmo os pregadores a fazerem.  

Há leigos que darão seu dinheiro — alguns deles em abundância — mas não querem  “entregar-se” à oração, sem a qual o seu dinheiro é apenas uma imprecação. Há  abundância de pregadores que pregarão e pronunciarão discursos grandes e eloqüentes  sobre a necessidade de avivamento e de espalhar o Reino de Deus, mas poucos farão  aquilo sem o qual toda pregação e organização serão piores do que vãs: ORAR. Está  fora da moda, a arte quase perdida, e o maior benfeitor que este século poderia ter seria  o homem que fizesse os pregadores e a Igreja voltarem à oração.  

Os apóstolos podiam adquirir apenas os reflexos da grande importância de oração antes  do Pentecostes. Mas o Espírito, vindo e enchendo no Pentecostes, elevou a oração à sua  posição vital e todo dominante no Evangelho de Cristo. O chamado, agora, à cada santo  para oração é o apelo clamoroso e exigente do Espírito. A piedade dos santos é feita,  refinada e aperfeiçoada pela oração. O Evangelho move-se com passo lento e tímido  quando os santos não estão orando de manhã, de tarde e por longo tempo.  

Onde estão os líderes cristãos que podem ensinar os santos modernos a orar e colocá-los  na obra? Estamos cientes de que estamos levantando um grupo de santos sem oração?  Onde estão os líderes apostólicos que podem pôr o povo de Deus a orar? Deixe-os vir à  frente e fazer a obra; será a maior obra que se pode fazer. O incremento das facilidades  educacionais e o grande incremento de força monetária serão a mais cruel blasfêmia à  religião, se eles não forem santificados por mais e melhor oração do que a que estamos  fazendo.  

Mais oração não virá como uma coisa natural. Nada senão um esforço específico de  uma liderança que ora terá proveito. Os chefes devem orientar, com esforço apostólico,  para enraizar a importância vital e a realidade da oração no coração e na vida da Igreja.  Ninguém, a não ser os líderes que oram, pode ter seguidores que oram. Os apóstolos de  oração gerarão santos que oram. Um púlpito de oração gerará bancos de penitentes que 

oram. Temos grandes necessidade de alguém que possa reunir os santos para a tarefa da  oração. Não somos uma geração de santos de oração. Santos sem oração constituem um  grupo miserável de santos que não têm o ardor, nem a formosura, nem o poder dos  santos. Quem restaurará esta brecha? O maior dos reformadores e apóstolos será aquele  que reunir a Igreja para a oração.  

Isto colocamos como o nosso mais sóbrio juízo: a grande necessidade da Igreja nesta e  em todas as épocas é de homens de fé dominante, de tal santidade sem mancha, de tal  marcado vigor espiritual e zelo consumidor, que suas orações, sua fé, suas vidas e seu  ministério sejam de tal forma radicais e agressivos como se operassem revoluções  espirituais, que marcarão época na vida dos indivíduos e da Igreja.  

Não queremos dizer homens que permitem agitações sensacionais por meio de projetos  originais nem aqueles que atraem por um entretenimento agradável; mas homens que  podem agitar as coisas e operar revoluções pela pregação da Palavra de Deus e pelo  poder do Espírito Santo; revoluções que transformam a corrente inteira dos fatos. A  capacidade natural e as vantagens educacionais não figuram como fatores nesta questão,  mas capacidade pela fé, a capacidade de orar, o poder da inteira consagração, a  habilidade da pequenez própria, uma absoluta perda do “eu” na glória de Deus e uma  constante e insaciável busca e aspiração de toda a plenitude de Deus. Homens que  podem inflamar a Igreja para Deus, não de uma maneira turbulenta e ostentosa, mas  com um intenso e silencioso calor que derrete e move todas as coisas para Deus, são  necessários.  

Deus pode operar maravilhas, se Ele puder encontrar o homem conveniente. Os homens  podem operar maravilhas, se puderem encontrar Deus que os guie. A completa dotação  de espírito que revira o mundo de cima para baixo, seria eminentemente útil nestes  últimos dias. Homens que podem agitar as coisas poderosamente para Deus, cujas  revoluções espirituais mudam o aspecto inteiro das coisas, são a necessidade universal  da Igreja.  

A Igreja nunca tem estado sem estes homens; eles adornam sua história: eles constituem  os milagres que provam a divindade da Igreja; seus exemplos e histórias são uma  inspiração inesgotável e bendita. Um aumento de seu número e poder deveria ser o  objeto de nossas orações.  

Aquilo que foi feito nas coisas espirituais, pode ser feito novamente e ser feito melhor.  Esta foi a visão de Cristo. Ele disse: “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que  crê em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou  para junto do Pai” (Jo. 14:12).  

O passado não esgotou as possibilidades nem as exigências para fazer grandes coisas  para Deus. A Igreja que depende do seu passado histórico para os seus milagres de  poder e graça, é uma Igreja falida.  

Deus necessita de homens eleitos — homens dos quais o eu e o mundo saíram para uma  severa crucificação, por uma bancarrota que tão totalmente arruinou o eu e o mundo que  não há nem esperança nem desejo de restaurá-los; homens que por esta insolvência e  crucificação voltaram para Deus os corações perfeitos. 

Oremos ardentemente a fim de que as promessas de Deus concernentes à oração possam  ser mais do que realizadas. 



SOBRE O AUTOR  

Edward McKendree Bounds, ministro metodita e escritor devocional, nasceu em 15 de  Agosto de 1835 (em Shelby County, Missouri) e morreu em 24 de Agosto de 1913.  EstudoU direito e aos 21 anos de idade já estava praticando a advocacia. Após advogar  por três anos, começou a pregar na Igreja Episcopal Metodista do Sul. No tempo de seu  pastorado em Brunswick, Misouri, foi declarada uma guerra, e ele foi feito prisioneiro  de guerra por rejeitar fazer o juramento de lealdade ao Governo Federal. Depois de  solto, ele serviu como capelão do Quinto regimento de Missouri [para o Exército  Confederado] até o término da guerra, quando capturado e mantido como prisioneiro em  Nashville, Tennessee. Após a guerra terminar, Bounds serviu como pastor de igrejas em  Tennessee, Alabama, e St. Louis, Missouri... Gastou os últimos dezessete anos de sua  vida com sua família em Washington, Georgia, escrevendo seus “Livros sobre Vida  Espiritual”. Seu fervor e profunda devoção à oração são misturados com uma influência  da teologia Reformada, que é evidente em suas muitas obras. Títulos: Essentials of  Prayer; The Necessity of Prayer; Obtaining Answers to Prayers; The Possibilities of  Prayer; Power Through Prayer; Purpose in Prayer; The Reality of Prayer; Winning the  Invisible War


Tradução de: Editora Batista Regular  

Editado por: Israel Carlos Biork  

Título original: Power Through Prayer, Edward McKendree Bounds (1835-1913) 








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