Tiago 5:16-18
— Robert Murray McCheyne
Estamos constantemente empenhados, senão obcecados, em arquitetar novos métodos, novos planos e novas organizações para fazer a Igreja progredir e assegurar a divulgação e a eficiência do Evangelho.
Essa direção hodierna tem a tendência de perder a visão do homem ou afogar o homem no plano ou na organização. O plano de Deus é usar o homem e usá-lo muito mais do que qualquer outra coisa. Homens são o método de Deus. A Igreja está procurando métodos melhores; Deus está buscando homens melhores. “Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João” (Jo. 1:6). A dispensação que anunciou e preparou o caminho de Cristo, estava confiada àquele homem, João: “Um menino nos nasceu, um filho se nos deu” (Is. 9:6). A salvação do mundo se originou naquele Filho ainda menino. Paulo traz à luz o segredo do êxito dos homens que arraigaram o Evangelho no mundo quando pôs em relevo o caráter pessoal desses homens. A glória e a eficiência do Evangelho dependem dos homens que o proclamam. Quando Deus declara que “quanto ao Senhor, Seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é perfeito para com Ele” (II Cr. 16:9), declara a necessidade de homens e o fato de Deus depender de homens que sejam canais por meio dos quais exerça Seu poder sobre o mundo.
Essa verdade vital e urgente é o que esta era das máquinas tende a esquecer. Esquecê-la é funesto para a obra de Deus como seria desastroso se o sol desaparecesse da abóboda celestial. Seguir-se-iam trevas, confusão e morte.
O que hoje a Igreja necessita não é de mais e melhor maquinismo, de novas organizações ou mais e novos métodos, mas homens a quem o Espírito Santo possa usar — homens de oração, homens poderosos na oração. O Espírito Santo não se derrama através dos métodos, mas por meio dos homens. Não vem sobre maquinaria, mas sobre homens. Não unge planos, mas homens — homens de oração.
Um eminente historiador disse que os acidentes do caráter pessoal têm mais a ver com as revoluções das nações do que os historiadores, filósofos ou políticos democráticos o reconhecem. Essa verdade tem aplicação plena ao Evangelho de Cristo, ao caráter e à conduta dos seguidores de Cristo — Cristaniza o mundo e transforma nações e indivíduos. Em relação aos pregadores do Evangelho, é eminentemente verdadeiro.
Tanto o caráter como o sucesso do Evangelho estão confiados ao pregador. Ele faz ou desfaz a mensagem de Deus ao homem. O pregador é o canal de ouro pelo qual o óleo divino flui. O canal deve ser não só dourado, mas também aberto e sem rachaduras, para que o óleo flua bem, sem obstáculo e sem desperdício.
O homem faz o pregador. Deus deve fazer o homem. O mensageiro é, se possível, mais do que a mensagem. O pregador é mais que o sermão. O pregador faz o sermão. Como o leite nutridor do seio materno é a própria vida materna, de igual modo tudo o que o pregador diz está matizado e impregnado daquilo que o pregador é. O tesouro está nos vasos de barro e o sabor do vaso nele se impregna e pode descorá-lo. O homem, o homem todo, jaz atrás do sermão. A pregação não é tarefa de uma hora. É a manifestação de uma vida. É preciso vinte anos para fazer um sermão, porque são necessários vinte anos para formar o homem. O verdadeiro sermão é uma obra de vida. O sermão evoluiu porque o homem se desenvolveu. O sermão é poderoso, porque o homem tem poder. O sermão é santo, porque o homem é santo. O sermão está cheio de unção divina, porque o homem está cheio de unção divina.
Paulo denominou-se “Meu Evangelho”; não que o tenha degradado por suas excentricidades pessoais ou desviado por apropriação egoísta, mas o Evangelho foi colocado no coração e no sangue do homem Paulo, como uma responsabilidade pessoal, para ser executada pelas peculiaridades paulinas, a fim de trazê-lo em chamas e impulsioná-lo pela ígnea energia da sua alma ardente. Os sermões de Paulo — que eram eles? Onde estão eles? Esboços, fragmentos esparsos, flutuando no mar da inspiração! Mas, o homem Paulo, maior que os seus sermões, vive para sempre, em plena forma, figura e estatura com sua mão modeladora sobre a Igreja. A pregação é apenas uma voz. A voz silencia, o tema é esquecido, o sermão apaga-se da memória; no entanto, o pregador vive.
O sermão não pode elevar-se em suas forças vívificadoras acima do homem. Homens mortos tiram de si sermões mortos e sermões mortos matam. Tudo depende do caráter espiritual do pregador. Sob a dispensação judaica, o sumo sacerdote trazia um frontal de ouro com a inscrição “Santidade ao Senhor” em letras engastadas de jóias. De igual modo, todo o pregador no ministério de Cristo deve ser moldado e dominado por essa mesma divisa sagrada. É uma vergonha berrante para o ministério cristão estar abaixo do sacerdócio judaico na santidade de caráter e na santidade de objetivo. Jonathan Edwards disse: “Eu continuei com minha busca intensa de mais santidade e conformidade com Cristo. O céu que eu desejava era o céu de santidade”.
O Evangelho de Cristo não é movido por ondas comuns. Não tem o poder de autopropagação. Move-se como se movem os homens que tomaram o encargo disso. O pregador deve personificar o Evangelho. As características divinas e mais salientes do Evangelho devem estar nele incorporadas. O poder do amor, que constrange, tem que estar no pregador como uma força relevante, excêntrica, que o domina todo e o faz esquecer-se de si mesmo. A energia da abnegação própria tem que constituir seu ser, coração, sangue e ossos. Ele deve seguir avante entre os homens como homem, revestido de humildade, cheio de brandura, prudente como a serpente, simples como a pomba; reunindo em si a sujeição de um escravo e o espírito de um rei, um rei de figura nobre, real e independente, e a simplicidade e doçura de uma criança.
O pregador tem de lançar-se a si mesmo, com todo o abandono de uma fé perfeita e esvaziada de si e dum zelo que o consome, à sua obra pela salvação dos homens. Sinceros, heróicos, compassivos e intimoratos mártires têm que ser os homens que conquistam a geração e a moldam para Deus. Se são escravos do tempo, oportunistas, agradadores de homens, se têm respeito humano, se sua fé em Deus e Sua Palavra tem pouca profundidade, se sua abnegação pessoal é quebrada por qualquer fase do “eu” ou do mundo, não podem tomar conta nem da Igreja nem do mundo para Deus.
A pregação mais penetrante e forte do pregador deveria ser feita a si mesmo. Sua obra mais difícil, delicada, laboriosa e radical deve ser consigo. A instrução dos doze foi a grande, difícil e paciente obra de Cristo. Os pregadores não são produtores de sermões, mas formadores de homens e de santos e só quem fez de si mesmo um homem e um santo está bem instruído para essa obra. Não é de grandes talentos, de grandes estudos ou de grandes pregadores que Deus necessita, mas de homens grandes em santidade, grandes em fé, grandes em amor, grandes em fidelidade, grandes para Deus — homens que pregam sempre por meio de sermões santos no púlpito e por meio de vidas santas fora do púlpito. Esses podem moldar uma geração para Deus.
Os primeiros cristãos foram formados segundo esse princípio. Eram homens de sólida formação, pregadores conforme o tipo celestial — heróicos, rijos, militantes e santos. Para eles, a pregação significa uma obra de auto-abnegação, de autocrucificação, séria, árdua, e de mártir. Aplicaram-se a ela de tal modo que influíram na sua geração e formavam no seu seio uma geração que haveria de nascer para Deus. O pregador deve ser homem de oração. A oração é a mais poderosa arma do pregador. É em si mesmo uma força onipotente e dá vida e força a tudo.
O sermão real é feito no recinto secreto. O homem — o homem de Deus — é formado no recinto secreto. Sua vida e suas mais profundas convicções nascem da sua comunhão secreta com Deus. Suas mensagens mais ricas e doces são alcançadas quando está a sós com Deus. A oração faz o homem; a oração faz o pregador; a oração faz o pastor.
O púlpito de hoje é pobre em oração. O orgulho da erudição opõe-se à humilde dependência da oração. A oração do púlpito é por demais oficial — um desempenho na rotina do culto. Para o púlpito moderno, a oração não é mais a força poderosa como o era na vida e no ministério de Paulo. Todo pregador que não faz da oração um poderoso fator em sua própria vida e ministério é fraco como agente no trabalho de Deus e impotente para fazer prosperar a Sua causa neste mundo.
— William Penn a respeito de George Fox
As bênçãos mais doces, por uma leve perversão, podem produzir o mais amargo fruto. O sol dá vida, mas as insolações matam. Prega-se para dar vida, mas se pode obter morte. O pregador possui as chaves: tanto para fechar como para abrir. A pregação é uma grande instituição divina para a semeadura e o amadurecimento da vida espiritual. Quando convenientemente executada, seus benefícios são incalculáveis; quando erroneamente realizada, nenhum mal pode superar seus resultados danificadores. É fácil destruir o rebanho, se o pastor for incauto ou o pasto for destruído; é fácil capturar a fortaleza, se as sentinelas estiverem adormecidas ou o alimento e a água forem envenenados. Investido de tais graciosas prerrogativas, exposto a tão grandes males, envolvendo tão numerosas e graves responsabilidades, seria uma caricatura da astúcia do diabo e um libelo contra seu caráter e reputação, se este não empenhasse suas influências mestras para adulterar o pregador e a pregação. Em face de tudo isto, a exclamação de Paulo “para estas coisas quem é idôneo?” (II Co. 2:16) não está fora de propósito.
Paulo diz: “A nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes de ser ministros dum novo testamento, não da letra, mas do espírito, porque a letra mata e o espírito vivifica” (II Co. 3:5,6). O verdadeiro ministério é ungido por Deus, capacitado por Deus e formado por Deus. O Espírito de Deus está sobre o pregador, ungindo-o de poder, o fruto do Espírito está no seu coração, o Espírito de Deus vitaliza o homem e a palavra; sua pregação dá vida, concede vida como a primavera desperta vida; dá vida como a ressurreição dá vida; outorga vida ardente como o verão dá vida ardente; dá vida frutífera como o outono dá vida frutífera. O pregador que ministra vida é um homem de Deus, cujo coração tem sempre sede de Deus, cuja alma está buscando a Deus constante e intensamente, cujos olhos estão postos só em Deus e em quem, pelo poder do Espírito de Deus, a carne e o mundo foram crucificados e seu ministério é como a corrente abundante de um rio que dá vida.
A pregação que mata não é uma pregação espiritual. A capacidade de tal pregação não vem de Deus. Fontes inferiores e não Deus lhe deram energia e estímulo. O Espírito não se manifesta nem no pregador nem na pregação. Muitas espécies de forças podem ser projetadas e estimuladas por uma pregação que mata, mas elas não são forças espirituais. Podem assemelhar-se às forças espirituais, mas são meramente sombras e falsificações; podem parecer que têm vida, mas essa vida é mentira. A pregação que mata é da letra; pode ter bela forma e ordem, mas continua a ser letra, letra rude e seca, casca nua e vazia. A letra pode ter nela o gérmen da vida, mas não tem a aragem da primavera para despertá-la; são sementes do inverno, tão duras quanto o solo hibernal, tão gélidas como o ar de inverno, e por elas não se derretem nem germinam.
A pregação da letra contém a verdade. Mas, ainda que verdade divina, sozinha não possui energia vivificante; deve ser revigorada pelo Espírito, com todas as forças divinas em seu apoio. A verdade que não for vivificada pelo Espírito de Deus, embota tanto quanto ou mais do que o erro. Pode ser uma verdade sem mistura; mas, sem o Espírito, o seu matriz e o seu toque são mortais; sua verdade, erro; sua luz, trevas. A pregação da letra não é ungida nem suavizada nem lustrada com óleo pelo Espírito. Pode haver lágrimas; lágrimas, porém, não podem pôr em movimento a maquinária de Deus; as lágrimas podem ser apenas uma brisa de verão sobre um “iceberg” coberto de neve, só derrete a superfície e nada mais. Podem haver emoção e ardor, mas é a emoção de um ator e ardor de um advogado. O pregador pode sentir o entusiasmo do seu próprio brilhantismo, ser eloqüente sobre sua própria exegese, ardente para transmitir o produto de seu próprio cérebro; o professor pode usurpar o lugar e imitar o fogo de um apóstolo; cérebros e nervos podem tomar o lugar e simular a obra do Espírito de Deus, e com estas forças a letra pode irradiar luz e brilhar como um texto iluminado, mas o brilho e a centelha serão tão destituídos de vida como o campo semeado de pérolas. Um elemento mortal jaz atrás das palavras, do sermão, da ocasião, dos modos, da ação.
O maior obstáculo está no próprio pregador. Não traz em si mesmo as forças poderosas que produzem vida. Pode não haver desconto na sua ortodoxia, honestidade, pureza ou ardor; mas, de algum modo, o homem, o homem interior, no íntimo, nunca se quebrantou e sujeitou a Deus; sua vida interior não é uma grande via para a transmissão da mensagem de Deus, do poder divino. De alguma forma, é o ego e não Deus quem governa o santo dos santos. Em algum lugar sem que disso tenha consciência, algum elemento espiritual incondutível tocou no seu interior e a corrente divina foi detida. Seu ser interior nunca sentiu o quebrantarnento espiritual completo, sua total incapacidade; nunca aprendeu a clamar com um clamor indizível de desespero de si mesmo e impotência própria, até que venha o poder de Deus e o fogo divino o encha, purifique e torne capaz. O amor-próprio e a aptidão própria, de alguma forma pecaminosa, profanaram e violaram o templo que devia estar consagrado a Deus.
A pregação vivificante custa muito ao pregador: morte do ego, crucificação para o mundo, iluminação da própria alma. Só a pregação crucificada pode dar vida. E a pregação crucificada só pode vir de um homem crucificado.
— Bispo McKendree
A pregação que mata pode ser, e muitas vezes é, ortodoxa — dogmática e inviolavelmente ortodoxa. Amamos a ortodoxia. A ortodoxia é boa e é a melhor. É o puro e claro ensinamento da Palavra de Deus, os troféus ganhos pela verdade na sua luta contra o erro, obstáculos que a fé levantou contra o transbordamento desolador da crença errada ou da incredulidade honesta ou negligente; mas a ortodoxia, clara e dura como cristal, vigilante e militante, pode ser apenas a letra de bela forma, de renome e bem estudada, a letra que mata. Nada é tão morto como uma ortodoxia morta, demais para especular, demasiadamente morta para pensar, para estudar ou para orar.
A pregação que mata pode ter discernimento e encerrar princípios, pode ser erudita e ter bom gosto, pode ter todas as minúcias da derivação e gramática da letra, pode ser capaz de compor a letra segundo seu perfeito padrão e iluminá-la como Platão e Cícero podem ser iluminados, pode estudá-la como um advogado estuda seus manuais para formar seus autos ou para defender seu caso, e pode ser ainda como uma geada, uma geada mortífera. A pregação-letra pode ser eloqüente, esmaltada de poesia e retórica, borrifada de oração, temperada de sentimento, iluminada pelo gênio e tudo isso ainda pode ser só puros acessórios custosos e volumosos, flores raras e belas que embelezam o defunto.
A pregação que mata pode ainda não ter erudição, não ter qualquer refrigério de pensamento ou sentimento, revestida de elementos sem gosto ou especiarias insípidas, de estilo irregular e desalinhado, não tendo o sabor do recolhimento espiritual nem do estudo, não estar agraciada por pensamentos nem por expressão nem por oração. Quão grande e total a desolação sob tal pregação! Quão profunda a morte espiritual!
Essa pregação-letra lida com a superfície e a sombra das coisas e não com as próprias coisas. Não penetra a parte íntima. Não tem o discernimento profundo, o alcance forte, a
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vida latente da Palavra Divina. É verdadeira no seu exterior, mas o exterior é a casca que deve ser quebrada e penetrada para ser alcançada a amêndoa. A letra pode estar vestida de tal modo a atrair e ser elegante, mas a atração não é em direção a Deus, nem é segundo os padrões celestiais.
A derrota está no pregador. Deus não o fez. Ele nunca estivera nas mãos de Deus como a argila nas mãos do oleiro. Ocupara-se com o sermão, seu pensamento e acabamento, sua redação e suas forças impressionantes, mas as profundas coisas de Deus nunca foram pensadas, estudadas, sondadas e experimentadas por ele. Nunca estivera de pé diante do “trono alto e sublime” (Is. 6:1), nunca ouvira os cânticos de serafim, nunca tivera visão nem sentira o impacto da imponente santidade, nunca clamara num completo abandono e desespero sob a consciência da fraqueza e da culpa. Nunca tivera a sua vida renovada, seu coração tocado, purificado, inflamado pela brasa viva do altar de Deus. Seu ministério tem poder de atrair o povo para si, para a igreja, para a forma e cerimônia; mas não há real atração para Deus, nem indução à comunhão doce, santa e divina. A igreja tem sido enfeitada, mas não edificada; agradada, mas não santificada. A vida é suprimida. A Cidade do nosso Deus transforma-se numa cidade de mortos; a Igreja, num cemitério e não num exército em batalha. Louvor e oração são sufocados; a adoração, morta. O pregador e a pregação auxiliaram o pecado e não a santidade; povoaram o inferno e não o céu.
A pregação que mata é a pregação sem oração. Sem oração, o pregador gera a morte e não a vida. O pregador que é débil na oração, é débil em forças vivificantes. O pregador que se afastou da oração como elemento conspícuo e predominante do seu próprio caráter despojou sua pregação do característico poder vivificador. Há e haverá oração profissional, mas a oração profissional ajuda a pregação na sua obra de morte. A oração profissional enregela e mata tanto a pregação como a oração. Muito da devoção frouxa e das atitudes indolentes e irreverentes na oração congregacional é atribuído à oração profissional do púlpito. Longas, díscursivas, secas e fúteis são as orações em muitos púlpitos. Sem unção ou coração, caem como uma geada mortífera sobre todas as graças da adoração. São orações que trazem a morte. Todo o vestígio de devoção pereceu sob seu sopro. Quanto mais mortas forem elas, mais crescem em extensão. É necessário uma instância por oração curta, oração viva, oração realmente de coração, oração pelo Espírito Santo — oração direta, específica, ardente, simples e ungida, no púlpito. Uma escola para ensinar os pregadores a orarem oração que Deus considera como oração, seria mais benéfica para uma piedade verdadeira, adoração legítima e pregação real, do que todas as escolas teológicas.
Pare! Faça uma pausa! Considere! Onde estamos nós? Que estamos fazendo? Pregando para matar? Orando para matar? Orando a Deus! o grande Deus, o Criador de todos os mundos, o Juiz de todos os homens! Que reverência! Que simplicidade! Que sinceridade! Que verdade exigida! Quão verdadeiros devemos ser! Quão sinceros! Orar a Deus é o exercício mais nobre, o esforço mais sublime do homem, o fato mais real! Que suprimamos para sempre a maldita pregação que mata e a oração que mata, e vamos pôr em prática a coisa real, a coisa mais poderosa, a oração que é realmente oração, e a pregação vivificadora que traz a força poderosa que sustenta o céu e a terra e que extrai os tesouros abertos e inesgotáveis de Deus para socorrer a necessidade e a indigência do homem.
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— Irmandade de Carey, Serampore (Índia)
Há duas tendências extremas no ministério. Uma é encerrar-se, ficando fora das relações com o povo. O monge, o eremita são exemplos disso; põem-se fora do convívio humano para estar perto de Deus. Falharam, naturalmente. O fato de estarmos a sós com Deus é útil somente quando empregamos seus benefícios inestimáveis a favor dos homens.
Hoje em dia, nem o pregador nem o povo pensa muito sobre Deus. O nosso anseio não é por isto. Encerramo-nos no nosso gabinete, tornamo-nos estudiosos, roedores de livros, roedores da Bíblia, fazedores de sermão, notáveis pela literatura, pensamento e sermões; mas o povo e Deus, onde está? Fora do coração, fora da mente. Os pregadores, que são grandes pensadores e grandes estudiosos, devem ser os maiores na oração, pois se assim não forem serão os maiores dos apóstatas, dos profissionais insinceros, racionalistas, e menos do que os menores dos pregadores na estimação divina.
A outra tendência é a de popularizar inteiramente o ministério. Não é mais de Deus, mas um ministério de negócios, do homem. Ora, não porque sua missão seja para o povo. Se pode mover o povo, criar um interesse, uma sensação a favor da religião, um interesse na obra da igreja, fica satisfeito. Sua relação pessoal com Deus não é o fator do seu trabalho. Nos seus planos a oração ocupa pouco ou nenhum lugar. O desastre e a ruína de tal ministério não podem ser avaliados pela aritmética terrena. O que o pregador é, na oração a Deus, para si e para o povo, será o seu poder para o bem real dos homens e será verdadeiramente frutífero e realmente fiel a Deus e ao homem para o tempo e para a eternidade.
É impossível ao pregador conservar seu espírito em harmonia com a natureza divina de sua sublime vocação sem que ore muito. Dizer que o pregador pode conservar-se equilibrado e apto, pela força do dever e pela fidelidade laboriosa ao trabalho e à rotina do ministério, é um grave erro. Até mesmo a confecção de sermões, incessante e obrigatoriamente, como arte, dever, trabalho ou prazer, pode absorver e endurecer, pela negligência à oração, e apartar o coração de Deus. O cientista perde Deus na natureza. O pregador pode perde-LO no seu sermão.
A oração refrigera o coração do pregador, conserva-o sintonizado com Deus e em simpatia com o povo; eleva o seu ministério acima da frieza profissional, torna frutífera a rotina e move todas as engrenagens com facilidade e com o poder da unção divina.
Spurgeon diz: “Naturalmente o pregador deve salientarse sobre todos como um homem de oração. Ele ora como crente comum, ou seria um hipócrita; ele ora mais que um crente comum, ou seria desqualificado no ofício que ocupa. Se vós ministros não são dedicados à oração, sois dignos de lástima. Se vós vos tornais negligentes na devoção sagrada, não só vós, mas o vosso povo também é digno de compaixão; e o dia virá em que ficareis envergonhados e confusos. Todas as nossas bibliotecas e estudos são apenas vácuo comparados ao nosso recinto secreto. Os nossos períodos de jejum e de oração no Tabernácubo têm sido realmente dias sublimes; nunca o portão dos céus estivera tão largamente aberto; nunca os nossos corações estiveram tão perto da glória celestial”.
A oração que forma um ministério cheio de oração, não é uma pequena oração nele colocada como se põe perfume para dar-lhe um aroma agradável, mas a oração deve estar no corpo e constituir-se sangue e ossos. A oração não é um pequenino dever deixado no canto, nem uma função retalhada que se exerça nos fragmentos de tempo arrebatados ao trabalho e a outras ocupações da vida; mas significa que o melhor do nosso tempo, o coração do nosso tempo e da nossa energia devem ser dados. Não significa hora de recolhimento absorvida em estudos ou engolfada com atividades dos deveres ministeriais; significa, porém, que o recolhimento espiritual deve estar em primeiro lugar, o estudo e a atividade em segundo e ambos refrigerados e tornados eficientes pela oração em secreto. A oração que afeta a vida do ministro deve dar tom a esta mesma vida. A oração que dá cor e tendência ao caráter não é um passatempo curto e agradável. Deve penetrar tão fortemente no coração e na vida como “o forte clamor e lágrimas” de Cristo; e deve levar a alma a uma agonia de desejo como a oração de Paulo; deve ser um fogo alastrador e um poder como “a oração eficaz e fervorosa” de Tiago; deve ser de tal qualidade que, quando colocada no incensário de ouro e queimada diante de Deus, produza poderosas angústias e revoluções espirituais.
A oração não é um pequeno hábito incutido em nós desde o regaço de nossa mãe, nem é uns poucos segundos de ação de graças dada antes de uma refeição de uma hora, mas é o trabalho mais sério dos nossos mais sérios anos. Exige mais tempo e apetite do que as nossas refeições mais demoradas ou festas mais ricas. À oração que dá eficácia à nossa pregação deve dar-se maior importância. O caráter da nossa oração determinará o caráter da nossa pregação. Uma oração ligeira fará uma pregação superficial. A oração torna forte a pregaçao, dá-lhe unção e torna-se penetrante. Em todo o ministério de bons resultados a oração tem sido sempre uma tarefa séria.
O pregador deve ser preeminentemente um homem de oração. Só na escola da oração, o coração pode aprender a pregar. Nenhuma erudição pode suprir a falta de oração. Nem o zelo nem a diligência nem o estudo nem os dons suprirão sua falta.
Falar aos homens a respeito de Deus é uma grande coisa; mas falar a Deus a favor dos homens é ainda maior. Quem não aprendeu a falar com Deus em favor dos homens, não pode falar bem e com real sucesso aos homens de Deus. Mais do que isto, as palavras sem oração, tanto no púlpito como fora dele, são palavras que amortecem.
A oração, na vida, nos estudos e no púlpito do pregador, deve ser uma força conspícua, impregnadora, que afete todas as suas atividades. Não deve ocupar o segundo plano nem ser um mero revestimento. A ele é dado estar com o Senhor “a noite inteira em oração”. O pregador, para exercitar-se na oração que requer negação própria, é levado a olhar para o seu Mestre que, “tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto, e ali orava” (Mc. 1:35). O gabinete do pregador deve ser um recinto secreto, um Betel, um altar, uma visão e uma escada de Jacó, para que todos os pensamentos possam subir até o céu antes de dirigirem-se aos homens; para que todas as partes do sermão possam ser arejadas pelo ar dos céus e capacitadas, porque Deus está no gabinete.
Assim como o motor não se põe em movimento até que haja ignição, a pregação, com todo o seu maquinário, perfeição e elegância, permanece numa inércia morta quanto aos resultados espirituais, até que a oração a inflame e produza a corrente elétrica. A disposição, a clareza e a força do sermão serão farrapos, a menos que haja impulso poderoso da oração nele, através dele e atrás dele. O pregador precisa, pela oração, colocar Deus no sermão. O pregador precisa, pela oração, mover a Deus em direção ao povo, antes de poder mover o povo para Deus por meio de suas palavras. O pregador deve ter tido a audiência e pronto acesso a Deus antes de poder ter acesso ao povo. Para o pregador, o caminho aberto em direção a Deus é a garantia de um caminho aberto para o povo.
É necessário repetir e tornar a repetir que a oração como um mero hábito, como um desempenho de rotina ou ato profissional, é uma coisa morta e podre. Tal oração não se relaciona com a oração que pleiteamos. Damos ênfase sobre a oração verdadeira que implica e inflama todo elemento nobre da pessoa do pregador — oração que nasce da união vital com Cristo, e da plenitude do Espírito Santo, que emana de profundas e transbordantes fontes da compaixão terna e solicitude imperecível pelo bem eterno do homem e um zelo consumidor pela glória de Deus. O pregador precisa de uma inteira convicção da dificuldade e da delicadeza da sua obra e da necessidade imperativa do auxílio mais poderoso de Deus. A oração alicerçada sobre estas convicções solenes e profundas é a única oração verdadeira. A pregação amparada por uma tal oração é a única que semeia as sementes da vida eterna nos corações humanos e forma homens para os céus.
É verdade que pode haver pregações populares, pregações agradáveis, pregações cativantes e pregações muito intelectuais, literárias e inteligentes, de boa extensão e forma, com pouca oração ou sem ela; mas a que alcança o objetivo de Deus na
pregação, tem que nascer da oração, desde o tema até a peroração, transmitida com energia e espírito de oração, capacitada a germinar, e conservada com força vital nos corações dos ouvintes pelas orações do pregador, mesmo muito depois de ter passado a ocasião.
Podemos desculpar-nos da pobreza espiritual da nossa pregação com muitas razões, mas a verdadeira causa será encontrada na falta de oração que anela pela presença de Deus no poder do Espírito Santo. Há muitos pregadores que podem transmitir sermões peritos sobre qualquer assunto; mas os efeitos são efêmeros e não entram como um fator no mundo espiritual onde a batalha terrível entre Deus e Satanás, entre os céus e o inferno, está sendo travada, porque eles não foram feitos poderosamente militantes e espiritualmente vitoriosos pela oração.
Os pregadores que alcançam poderosos resultados para Deus são os homens que prevaleceram nos seus pleitos com Deus, antes de aventurarem-se a pleitear com os homens. Os pregadores que são os mais poderosos nos recintos secretos de oração para com Deus, são os mais poderosos nos seus púlpitos, para com os homens.
Os pregadores são entes humanos e estão expostos, e muitas vezes são apanhados, pelos fortes turbilhões das correntes humanas. Orar é um trabalho espiritual e a natureza humana não gosta de tão árduo trabalho espiritual. A natureza humana deseja velejar para os céus pelo impulso de uma brisa favorável, sobre um mar cheio e calmo. Orar é um trabalho humilhante. Humilha o intelecto e o orgulho, crucifica a vanglória, assinala a nossa derrota espiritual e tudo isso é duro para a carne e o sangue. É mais fácil não orar do que suportar essas coisas. Assim chegamos a um dos males clamorosos destes tempos, talvez de todos os tempos — pouca oração ou nenhuma. Destes dois males, talvez a pouca oração seja pior do que não orar. Orar pouco é uma espécie de desculpa, um desencargo de consciência, uma farsa e uma ilusão.
A pequena consideração que damos à oração é evidente no pouco tempo que lhe devotamos. O tempo gasto em oração pelo pregador comum difícilmente entra na soma total do seu horário. Freqüentemente, a única oração do pregador é feita à beira de sua cama, já de pijama, pronto para dormir, e, de manhã, talvez acrescente uma oraçãozinha de cinco ou seis palavras antes de se vestir. Quão fraca, vã e pequena é tal oração comparada com o tempo e a energia devotados à oração pelos homens santos mencionados na Bíblia e fora da Bíblia. Que oração pobre, mesquinha e infantil comparada à oração dos verdadeiros homens de Deus de todos os tempos! Aos homens que pensam na oração como o seu principal trabalho e lhe devotam tempo de acordo com a sua alta avaliação da sua importância, Deus confia as chaves do Seu Reino, e através deles, Deus opera Suas maravilhas espirituais neste mundo. A oração poderosa é o sinal e selo dos grandes líderes de Deus e o penhor das forças conquistadoras com as quais Deus coroará os Seus servos!
O pregador tem a missão tanto de orar como de pregar. Sua missão será incompleta se ele não desempenhar bem ambas as coisas. O pregador pode falar com toda a eloqüência humana e angélica; mas a menos que ele possa orar com fé para que arraste todo o céu em sua ajuda, a sua pregação será “como o bronze que soa ou como o címbalo que retine” para a obra permanente que honra a Deus e salva as almas.
— Richard Newton
Pode ser dito como axioma espiritual que, em todo o ministério realmente cheio de êxito, a oração é uma força evidente e controladora — evidente e controladora na vida do pregador, evidente e controladora na profunda espiritualidade da sua obra. Um ministério pode ser ministério bem orientado sem oração; o pregador pode assegurar fama e popularidade sem orar; a maquinária toda da vida do pregador e do seu trabalho pode funcionar sem o óleo da oração ou com tão pouco óleo que não dá para uma engrenagem; mas nenhum ministério pode ser espiritual e promover santidade no pregador e no seu povo sem que a oração se torne uma força evidente e controladora.
O pregador que realmente ora, põe Deus na obra. Deus não vem sobre a obra do pregador automaticamente ou como princípio geral, mas Ele vem pela oração especial e sentimento de urgência. Que Deus será encontrado por nós no dia em que nós O buscamos com todo o coração, é tão verdadeiro para o pregador como para o penitente. O ministério cheio de oração é o único ministério que atrai ao pregador a simpatia do povo. A oração nos une aos homens assim como nos une a Deus. Um ministério cheio de oração é o único ministério qualificado para os ofícios e responsabilidades sublimes do pregador. Escolas, estudos, livros, teologia e pregação não fazem o pregador, mas só a oração o faz. A comissão de pregar confiada aos apóstolos foi uma folha branca até que fosse preenchida pelo Pentecostes que a oração trouxe. O ministro, que ora muito, já passou para além das regiões comuns, dos homens de negócios, dos homens mundanos, da atração do púlpito; passou para além de um organizador eclesiástico, a uma região mais sublime e mais poderosa, à região do espiritual.
A santidade é o produto do seu trabalho de oração; corações e vidas transformados apregoam a realidade, a veracidade e a natureza substancial do seu trabalho. Deus está com ele. Seu ministério não está baseado sobre princípios mundanos ou superficiais. Está profundamente abastecido com as coisas de Deus e profundamente disciplinado nelas. Sua comunhão longa e profunda com Deus em favor do seu povo e a agonia do seu espírito em luta coroaram-no príncipe nas coisas de Deus. O gelo do profissionalismo foi derretido desde há muito sob a intensidade de sua oração.
Os resultados superficiais de muitos ministérios, e a frieza de outros, são causados pela falta de oração. Nenhum ministério pode ter sucesso sem que haja muita oração, e essa
oração deve ser fundamental, constante e crescente. O texto e o sermão devem ser o resultado da oração. O estudo deve ser banhado pela oração, todos os seus deveres impregnados de oração e todo o seu espírito de oração. “Estou triste porque tenho orado tão pouco” era a lamentação profunda de um dos escolhidos de Deus no leito de morte, o que é uma confissão triste e lamentável para um pregador. “Eu quero uma vida de maior, mais profunda e mais real oração”, disse o finado Arcebispo Tait. Todos nós podemos dizer assim e isto podemos sustentar.
Os verdadeiros pregadores de Deus distinguiram-se num aspecto: eram homens de oração. Diferentes, muitas vezes, em muitos aspectos, no entanto tinham um ponto em comum. Eles podem ter partido de pontos diferentes e viajado por diferentes caminhos, mas convergiram a um só ponto: foram um na oração. Para eles, Deus era o centro de atração e a oração era o caminho que conduzia a Deus. Estes homens não oraram ocasionalmente nem oraram pouco regularmente ou nos tempos que sobravam; oraram de tal modo que as suas orações entraram no seu caráter e os formaram; oraram de tal maneira a afetar sua própria vida e a vida de outros; de tal modo oraram que fizeram a história da Igreja e influenciaram o curso dos tempos. Gastaram muito tempo em oração, não porque estavam olhando para a sombra do relógio de sol ou nos ponteiros do relógio, mas porque a oração era tão urgente para eles e era uma tarefa que dificilmente poderiam abandonar.
A oração era para eles o que foi para Paulo: um empenho e esforço sincero da alma; o que era para Jacó: uma luta e vitória; o que era para Cristo: “grande clamor e lágrimas”. Eles “oraram com toda a oração e súplica no Espírito e vigiando nisto com toda a perseverança” (Ef. 6:18). A “oração eficiente e fervorosa” tem sido a arma mais poderosa dos soldados mais poderosos de Deus. Diz-se de Elias que era “homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis meses não choveu sobre a terra. E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto” (Tg. 5:17,18). Esta declaração inclui todos os profetas e pregadores que moveram sua geração para Deus e mostra o instrumento pelo qual eles operaram suas maravilhas.
Ainda que muitas orações particulares por natureza devam ser curtas; ainda que as orações públicas comumente devam ser curtas e condensadas; embora haja lugar e valor na oração ligeira — na nossa comunhão com Deus, o tempo é um fator essencial para o seu valor. Bastante tempo gasto com Deus é o segredo de toda oração eficiente.
A oração, que é sentida como uma força poderosa, é o produto mediato ou imediato de muito tempo gasto com Deus. As nossas orações curtas devem seu ponto de apoio e eficiência às orações longas que as precederam. A oração curta que prevalece não pode ser feita por uma pessoa que não tenha prevalecido com Deus numa luta poderosa de longa duração. A vitória da fé de Jacó não poderia ter sido alcançada sem aquela noite de luta. A intimidade com Deus não se faz às pressas. Ele não concede Seus dons aos que vêm e vão fortuitos e apressados. Demorar-se sozinho com Deus é o segredo para alguém conhecê-LO e ter influência junto a Ele. Ele cede à persistência de uma fé que O conhece. Cede as suas mais ricas dádivas àqueles que declaram seu desejo e sua apreciação por elas pela consistância e sinceridade de sua importunação.
Cristo, que nisso e em outras coisas é o nosso Exemplo, empregou muitas noites inteiras em oração. Seu costume era orar muito. Ele tinha lugar habitual para orar. Longo tempo
gasto em oração constitui a vida e o caráter de Cristo. Paulo orava dia e noite. Daniel orava três vezes por dia, deixando de lado muitas coisas importantes. A oração de Davi pela manhã, ao meio-dia e à noite indubitavelmente, em muitas ocasiões, prolongava-se muito. Embora não tenhamos dados específicos do tempo que estes santos homens da Bíblia gastaram em oração, há evidências de que eles dedicaram muito tempo, e, em algumas ocasiões, era do seu costume empregar longos períodos para oração.
Não queremos afirmar que o valor de suas orações foi medido pela duração, mas nosso propósito é imprimir em nossas mentes a necessidade de permanecer em comunhão com Deus; se em nossa fé não se nota esta característica, ela é vazia e superficial.
Aqueles que manifestaram de maneira mais perfeita possível a Cristo através do seu caráter, e têm afetado mais poderosamente o mundo a Seu favor, são os homens que gastaram muito tempo com Deus, até que isso se tornou uma das características mais salientes das suas vidas. Charles Simeon devotava a Deus as horas de quatro às oito da manhã. Wesley gastava duas horas diariamente em oração. Ele começava às quatro horas da manhã. Uma pessoa, que o conhecia bem, dele escreveu: “Ele julgava que a oração era o trabalho mais importante que havia. E o vi sair do lugar de recolhimento com uma serenidade no rosto que brilhava”. John Fletcher impregnou as paredes do seu quarto com o hálito de suas orações. Algumas vezes passava a noite inteira em oração; sempre, frequentemente e com grande intensidade. Toda a sua vida foi uma vida de oração. “Não queria levantar-me da cadeira”, disse ele, “sem elevar o meu coração a Deus”. Sua saudação a um amigo era: “O senhor está orando?” Lutero disse: “Se eu deixar de empregar duas horas em oração todas as manhãs, o diabo terá vitória o dia inteiro. E tenho tanto trabalho que não posso realizá-lo sem gastar três horas diariamente em oração”. Seu lema era: “Aquele que orou bem, estudou bem”.
O Arcebispo Leighton ficava tanto a sós com Deus que parecia estar em meditação perpétua. “A oração e o louvor eram seu trabalho e seu prazer”, diz o seu biógrafo. O Bispo Ken ficava tanto com Deus a ponto de dizer-se que a sua alma estava enamorada de Deus. Estava com Deus todas as manhãs antes do relógio assinalar três horas. O Bispo Asbury disse: “Propus-me a levantar às quatro horas da madrugada tanto quanto possível e gastar duas horas em oração e meditação”. Samuel Rutherford, cuja fragrância de piedade ainda se faz sentir, levantava-se às três horas da manhã para encontrar-se com Deus em oração. Joseph Alleine levantava-se às quatro horas para a sua tarefa de oração, permanecendo até às oito. Se ouvia que outros negociantes começavam seu trabalho antes dele se levantar, exclamava: “Oh, como isso me envergonha; não deveria o meu Senhor merecer mais do que os senhores deles?” Aquele que aprendeu a orar tem livre acesso ao Banco do céu donde saca aquilo que necessita.
Um dos mais santos e mais dotados de dons celestiais dentre os pregadores escoceses disse: “Devo empregar as minhas melhores horas para a comunhão com Deus. Esse é o meu mais nobre e mais eficiente emprego e não deve ser deixado de lado. As horas da manhã, de seis às oito, são as melhores horas, porque não há interrupção. A hora logo após o chá, a minha melhor hora, deveria ser solenemente dedicada a Deus. Não devo interromper o bom hábito de orar antes de dormir; mas devo prevenir-me contra o sono. Quando eu me acordo durante a noite, devo levantar-me e orar. Após o café da manhã, devo ter um tempo para intercessão”. Este era o plano de Robert Murray McCheyne. O memorável Grupo Metodista por sua oração envergonha-nos: “De quatro às cinco da manhã, oração particular; de cinco às seis da tarde, oração particular”.
John Welch, o santo e maravilhoso pregador escocês, julgava que o dia estava perdido se não orava de oito às dez horas. Ele preparava o “robe-de-chambre” para usá-lo quando acordava à noite e orava. A sua esposa queixava-se dele quando o encontrava chorando prostrado no assoalho. Ele lhe replica: “Oh mulher, tenho a responsabilidade de três mil almas diante de Deus E eu não sei quantos dentre eles têm a certeza da salvação”.
O Bispo Wilson diz: “No diário de H. Martyn, o espírito de oração, o tempo devotado ao dever e o seu fervor são as primeiras coisas que me impressionam”.
Payson dedicava tanto tempo à oração, e com tanta intensidade orava, que, pelo atrito constante de seus joelhos, se desgastou o local do assoalho onde estava habituado a ajoelhar-se. O seu biógrafo diz: “Sua oração contínua, feita em qualquer circunstâncja, é o fato mais notável da sua vida e é isto o que deve ser feito por aquele que quer rivalizar-se com ele. Às suas orações ardentes e perseverantes deve-se, sem dúvida, em grande medida, seu sucesso notável e quase ininterrupto”.
O Marquês DeRenty, para quem Cristo era a Pessoa mais preciosa, ordenou a seu criado chamá-lo das suas devoções depois de meia hora. O criado, à hora indicada, viu a sua face através de uma abertura. A sua face estava assinalada com tal santidade que não teve coragem de chamá-lo. Seus lábios moviam-se, mas ele estava em completo silêncio. Esperou por uma hora e meia; então chamou-o. DeRenty levantou-se dizendo que a meia hora era tão curta quando se está em comunhão com Cristo.
Brainerd disse: “Eu gosto de ficar sozinho na minha cabana onde eu posso gastar muito tempo em oração”.
William Bramwell é famoso nos anais metodistas por sua santidade pessoal, pelo seu sucesso maravilhoso na pregação e pelas extraordinárias respostas a suas orações. Orava muitas horas seguidas. Viveu quase toda a sua vida sobre os joelhos. Ele visitava sua paróquia com o coração inflamado. E este fogo foi acendido pelo tempo que gastou em oração. Muitas vezes, gastou mais de quatro horas em oração contínua.
O Bispo Andrews empregava em geral cinco horas diariamente na oração e devoção.
Sir Henry Havelock, soldado britânico, gastava sempre as primeiras duas horas de cada dia com Deus. Se o acampamento se levantava às seis horas da manhã, ele se levantava às quatro.
O Sr. Earl Cairns, advogado irlandês, levantava-se diariamente às seis horas para assegurar uma hora e meia para o estudo da Bíblia e oração antes de fazer o culto doméstico, às 7:45h.
O sucesso do Dr. Judson na obra de Deus é atribuído ao fato de que ele gastava muito tempo em oração. Ele diz sobre isso: “Arranja os teus afazeres, se possível, de tal modo que possas devotar calmamente duas ou três horas, todos os dias, não somente para momentos devocionais, mas também para a oração em secreto e comunhão com Deus. Esforça-te sete vezes por dia a retirar-te do teu trabalho e dos teus companheiros e eleva a tua alma em recolhimento particular. Começa o dia devotando algum tempo logo depois da meia-noite, no meio do silêncio e escuridão da noite, para este trabalho santo.
Que o amanhecer te encontre em oração. Permite que nove, doze, três, seis e nove da noite sejam testemunhas do mesmo trabalho. Sê resoluto na Sua Causa. Faze todos os sacrifícios para mantê-lo. Considera que o teu tempo é curto e que o trabalho e os companheiros não devem roubar-te do teu Deus”.
Impossível, dizemos, isso é fanatismo! O Dr. Judson construiu um império para Cristo e colocou os fundamentos do Reino de Deus no coração da Birmânia com granitos imperecíveis. E ele foi bem sucedido. Foi um dos poucos homens que influenciaram o mundo poderosamente em favor de Cristo. Muitos homens de maiores dons e gênios, e mais letrados do que ele não deixaram tanta impressão como ele; a obra religiosa deles é como rastros na areia, mas a obra do Dr. Judson foi como uma inscrição no diamante. O segredo da sua profundidade e constância deve-se ao fato de ter dado muito tempo à oração. Ele se conservou como um ferro em brasa por meio da oração e Deus o modelou com poder constante. Nenhum homem pode realizar uma obra perdurável e grande em favor de Deus, se não for um homem de oração. Nenhum homem pode ser um homem de oração sem que dê muito tempo à oração.
É verdade que a oração é um simples cumprimento de um hábito comum e mecânico? É uma pequena representação que ensaiamos, cujos principais elementos são a brevidade e a superficialidade?
“É verdade que a oração é, como se pensa, um pequeno afluxo de sentimento que emana de uma meditação sem vida e leve, de alguns momentos?” Canon Liddon continua: “Permitamos que respondam os que realmente oram. Eles, algumas vezes, comparam a oração com a luta do Patriarca Jacó com um Poder Desconhecido durante toda a noite e mesmo até a madrugada, na vida dos crentes zelosos. Outras vezes, refere-se à intercessão comum como luta que exija todos os esforços, como dizia São Paulo. Eles têm, quando oram, seus olhos fixos no Grande Intercessor de Getsêmani, cujo ‘suor tornou-se em grandes gotas de sangue que corriam até ao chão’ por causa da agonia de resignação e sacrifício. Importunação é a essência da oração eficiente. Importunação não significa devaneio, mas um trabalho sustentado com esforços. É pela oração especialmente que ‘se faz violência ao reino dos céus e pela força se apoderam dele’” (Mt. 11:12).
O finado Bispo Hamilton dizia: “não podemos obter resultados extraordinários sem que tenhamos o mesmo zelo na preparação do trabalho, chamado oração, e perseverança nele, como somos zelosos nos assuntos que, segundo a nossa opinião, são de grande interesse e necessidade”.
— Robert Murray McCheyne
Os homens que mais fizeram para Deus neste mundo estiveram sobre seus joelhos de manhã. Aquele que desperdiça os primeiros momentos da manhã, empregando-os em outras coisas em vez de buscar a Deus, terá dificuldades em buscá-LO o resto do dia. Se Deus não está em primeiro lugar nos nossos pensamentos e esforços pela manhã, Ele estará no último lugar durante todo o resto do dia.
É o ardente desejo que nos impele a buscar a Deus, que nos faz levantar e orar bem cedo. O homem que acorda sem ambições demonstra um coração sem aspirações. O coração que é tardio em buscar a Deus pela manhã, perdeu o sabor da comunhão com Deus. O coração de Davi era ardente para com Deus. Ele tinha fome e sede de Deus, de modo que buscava a Deus bem cedo antes da luz do dia. A cama e o sono não podiam prender a sua alma sedenta de Deus. Cristo ansiava pela comunhão com Deus e assim, levantando-Se bem antes do amanhecer, subiu à montanha para orar. Os discípulos, quando despertados, ficaram envergonhados da sua negligência, pois sabiam onde encontrá-LO. Se passássemos os olhos à lista dos homens que poderosamente influenciaram o mundo a favor de Deus, os encontraríamos orando bem cedo. O anseio para com Deus que não quebra as fadigas do sono, é fraco e realizará muito pouco em favor de Deus, mesmo que possa satisfazer-se a si mesmo. O anseio por Deus, que nos conserva bem longe do diabo e do mundo, no alvor do dia, não se deixa embaraçar por estas coisas.
Não é um anseio simples que faz os homens marcharem e os torna capitães dos exércitos de Deus, mas anseio ardente que os aviva e quebra todas as cadeias de auto indulgência. Mas o levantar cedo manifesta, aumenta e fortalece esse anseio. Mas se eles permanecem no leito e são indulgentes para consigo mesmos, o anseio se extinguirá. Mas aquele anseio faz com que eles se despertem e busquem a Deus com todas as forças. Quando se considera e põe em prática esse anseio, a sua fé conquista a Deus e lhe concede a manifestação doce e transbordante de Deus ao seu coração. Esse poder da fé e a plenitude da revelação os torna eminentemente santos e o halo de Sua santidade vem até nós e entramos no gozo de suas conquistas. Mas nós nos satisfazemos nesse gozo e nada mais fazemos. Construímos suas sepulturas e escrevemos seus epitáfios, mas somos cuídadosos em não seguir os seus exemplos.
Necessitamos de uma geração de pregadores que busquem a Deus de madrugada, e dediquem a Deus a disposição de seus corações e seus esforços e assegurem, por outro lado, a plenitude do Seu poder, que Ele pode conceder-lhes, alegremente, como orvalho através de todo o calor e o labor do dia. Nossa negligência para com Deus é um pecado clamoroso. Os filhos deste mundo são muito mais sábios do que nós. Eles se dedicam ao trabalho desde a madrugada até tarde da noite. Nós porem, não buscamos a Deus com ardor e diligência. Ninguém alcançará a Deus sem buscá-LO com todo o esforço e nenhuma alma se põe a buscar a Deus com todas as forças a não ser pela madrugada.
— Richard Cedil
Nunca houve maior necessidade de homens e mulheres santos; mais imperativo ainda é o chamado de pregadores santos e inteiramente devotados a Deus. O mundo move-se com passos gigantescos. Satanás tem ascendência e domínio sobre o mundo e se esforça para que todos os seus movimentos sirvam a suas finalidades. A religião deve realizar o seu melhor trabalho, e apresentar seus modelos mais atrativos e perfeitos. De qualquer modo, a santidade moderna deve estar inspirada nos ideais mais sublimes e nas possibilidades maiores por meio do Espírito.
Paulo vivia sobre os joelhos, para que a Igreja de Éfeso pudesse compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade de uma santidade incomensurável e fossem tomados de toda a plenitude de Deus (Ef. 3:18-19). Epafras entregou-se ao trabalho exaustivo e conflito estrênuo de oração fervorosa para que a Igreja de Colossos pudesse “ser conservada perfeita e plenamente convicta em toda a vontade de Deus” (Cl. 4:12). Em qualquer lugar, em qualquer coisa dos tempos apostólicos, havia um esforço da parte do povo de Deus para chegar “à unidade de fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef. 4:13). Não havia prêmio para os anões; nem encorajamento à eterna infância. As crianças devem crescer; o velho, apesar da fraqueza, deve produzir fruto na velhice, ser abundante e próspero. A coisa mais divina na religião cristã é homens santos e mulheres santas.
Nenhuma soma de dinheiro, de gênio, ou de cultura pode mover coisas para Deus. A santidade é que dá energia à alma. O homem inflamado de amor, de anseio por mais fé, mais oração, mais zelo e mais consagração — este é o segredo do poder. É dessas coisas que necessitamos e que devemos ter e homens devem ser a encarnação dessa devoção a Deus. O trabalho de Deus está estacionado e Sua Causa está claudicante, Seu nome profanado pela falta dessas coisas. O gênio (embora seja o mais sublime e o mais dotado), a educação (embora a mais elevada e mais refinada), a posição, a dignidade, nomes honrados, não podem mover este carro de guerra do nosso Deus. É um carro de fogo, e somente forças ígneas podem movê-lo. O gênio de um Milton falharia. A força imperial de um Leão falharia. O espírito de Brainerd pôde movê-lo; o espírito de Brainerd estava inflamado para Deus e inflamado para as almas. Nada terreno, mundano, egoísta contribui para abater por menos que fosse, a intensidade dessa força e dessa chama impelidora e consumidora.
A oração é o criador e o canal da devoção. O espírito de devoção é o espírito de oração. A oração e a devoção estão unidas como a alma e o corpo e como a vida e o coração. Não há oração real sem devoção nem devoção sem oração. O pregador deve submeter se a Deus numa devoção mais santa. Ele não é um homem profissional, seu ministério não é uma profissão; é uma instituição divina, uma devoção divina. Ele é devotado a Deus. Seu objetivo, suas aspirações e sua ambição são para Deus e em direção a Deus. Para uma pessoa assim, a oração é tão essencial como o alimento para a vida.
O pregador, acima de todas as coisas, deve ser devotado a Deus. As relações do pregador com Deus são as insígnias e credenciais do seu ministério. Estas devem ser claras, conclusivas e irrefutáveis. Nenhum tipo comum e superficial de piedade deve estar nele. Se não se notabiliza pela graça, não se notabiliza por mais nada. Se não prega pela sua vida, seu caráter e sua conduta, nada prega. Se a sua piedade é leve, a sua pregação pode ser tão suave e doce como a música, tão dotada como a força de Apolo, ainda assim seu peso será de uma pena, visionário e flutuante como a nuvem ou o orvalho da manhã. Devoção a Deus é insubstituível no caráter e na conduta do pregador. A devoção à Igreja, às opiniões, a uma organização e à ortodoxia — essas são mesquinhas, inúteis e vãs quando se trata de serem a fonte de inspiração e o motivo da vocação. Deus deve ser a fonte principal do esforço do pregador, a fonte e a coroa de todas as suas obras. O nome e a honra de Jesus Cristo, o progresso da Sua causa devem ocupar toda a sua atenção. O pregador não deve ter outra inspiração a não ser a do nome de Jesus Cristo, nenhuma outra ambição a não ser a de glorificá-LO, nenhum outro trabalho a não ser por Ele. Então a oração tornar-se-á uma fonte de suas inspirações, os meios de progresso perpétuo e manômetro do seu sucesso. O objetivo perpétuo, a única ambição que o pregador pode nutrir, é o de ter Deus com ele.
Nunca a causa de Deus necessitou de ilustrações perfeitas das possibilidades da oração mais do que no dia de hoje. Nenhuma era, nenhuma pessoa será exemplo do poder do Evangelho a não ser as eras ou pessoas de profunda e ardente oração. Uma era sem oração terá apenas exemplos escassos do poder de Deus. Os corações sem oração nunca se elevarão a essas elevadas alturas. A nossa era pode ser uma era melhor do que a do passado, mas há uma distância infinita entre o melhoramento de uma era pela força de uma civilização progressiva e seu melhoramento pelo desenvolvimento da santidade e da semelhança com Cristo pela energia da oração.
Os judeus eram muito melhores quando Cristo veio, do que nas eras anteriores. Era a idade de ouro de sua religião farisaica. Sua idade áurea de religiosidade crucificou Cristo, Nunca houve tantas orações, e nunca tão pouca oração verdadeira; nunca tanto sacrifício e tão pouco sacrifício real, nunca houve menos idolatria e nunca os homens foram tão idólatras; nunca houve tanta adoração no templo, e nunca Deus foi menos adorado; nunca houve mais culto com os lábios, e nunca houve menos culto de todo coração; nunca houve tantos freqüentadores de igrejas, mas nunca houve tão poucos santos.
É a força da oração que faz santos. Os caracteres santos são formados pelo poder da oração verdadeira. Quanto mais santoS verdadeiros houver, mais oração haverá; quanto mais oração, mais verdadeiros santos.
Deus tem agora e teve no passado muitos desses pregadores consagrados e dedicados à oração — homens em cujas vidas a oração tem sido uma força poderosa controladora e
conspícua. O mundo sentiu o seu poder, Deus sentiu e honrou seu poder, a causa divina avançou poderosa e suavemente pelas suas orações, e a santidade brilhou nos seus caracteres com um brilho divino.
Deus encontrou um dos homens que estava procurando em Davi Brainerd, cuja obra e nome ficaram na história. Ele não era um homem comum, mas era capaz de brilhar em qualquer companhia, era o rival dos sábios e dos dotados, eminentemente capacitado para ocupar os púlpitos mais atraentes e trabalhar entre os mais refinados e cultos que estavam tão ansiosos para conservá-lo como seu pastor. Jonathan Edwards, famoso pastor, testifica que era “um jovem de talentos notáveis, que tinha conhecimento extraordinário de homens e coisas, tinha habilidades raras de eloqüência, tinha muito conhecimento de teologia e era, verdadeiramente, para uma pessoa tão jovem, extraordinariamente santo e profundo conhecedor de todos os assuntos relacionados com a religião experimental. Nunca conheci um da mesma idade que ele que tivesse noções tão claras e apuradas da natureza e essência da verdadeira religião. Seu modo de orar era quase impossível de se imitar, e raramente cheguei a conhecer uma pessoa que o igualasse. Seu conhecimento era considerável e tinha dons extraordinários para o púlpito”.
Nenhuma história mais sublime tem sido registrada nos anais terrestres do que a de Davi Brainerd; nenhum milagre testifica com força mais divina a verdade do cristianismo do que a vida e a obra de Davi Brainerd. Sozinho nas matas virgens da América, lutando dia e noite com a doença mortal, inexperiente na cura de almas, ele estabeleceu a verdadeira adoração a Deus. Tendo acesso aos indígenas durante uma grande porção de tempo só através do inábil instrumento de um intérprete pagão, porém fortificado com a Palavra de Deus no seu coração e na sua mão, ganhou muitos para o serviço de Deus. Sua alma inflamada com a chama divina, e com mente, coração e boca sempre em oração, assegurou todos os resultados graciosos de sua vocação e devoção divinas.
Os indígenas experimentavam uma grande transformação, passando do mais baixo embrutecimento de um paganismo cheio de ignorância e degradante para cristãos puros, devotados e inteligentes; todo o vício abandonado, e os deveres externos do cristianismo, uma vez abraçados, eram praticados; a oração familiar foi estabelecida; o dia do Senhor instituído e religiosamente observado; as graças internas da religião eram reveladas com mansidão e força crescentes.
O segredo destes resultados é encontrado no próprio Davi Brainerd, não nas condições ou acidentes, mas no homem Brainerd. Ele era um homem de Deus, a favor de Deus sempre e em todas as ocasiões. Deus podia manifestar-Se através dele sem impedimentos. A onipotência da graça não era limitada nem diminuída pelas condições do seu coração; o canal inteiro era alargado e purificado pela passagem mais plena e mais poderosa de Deus, de tal modo que Deus podia descer com todas as Suas forças poderosas sobre o deserto desesperador e selvagem, e transformá-lo num jardim cheio de flores e frutos; pois nada é difícil demais para Deus se Ele puder obter o homem apropriado para fazê-lo.
Brainerd viveu uma vida de santidade e oração. Seu diário é repleto de registros de horas de oração, meditação e recolhimento espiritual. O tempo que gastou em oração particular somava muitas horas diariamente. “Quando eu volto para casa”, disse ele, “e me entrego à meditação, oração e ao jejum, a minha alma anseia por mortificação,
abnegação própria, humildade e separação de todas as coisas do mundo”. “E eu nada tenho que fazer”, disse ele, “com a terra, mas só nela trabalhar honestamente para Deus. Não desejo viver um minuto sequer para as coisas que o mundo oferece”.
Foi a oração que deu à sua vida e ao seu ministério seu maravilhoso poder.
Ele orou de acordo com este alto princípio: “sentindo algo da suavidade da comunhão com Deus e a força cnstrangedora do Seu amor e como admiravelmente isso cativa a alma e faz com que todos os desejos e afeições centralizem em Deus, separei este dia para o jejum em segredo e oração a Deus para que Ele me dirija e me abençoe em vista do grande trabalho que eu tenho em mira, isto é, o de pregar o Evangelho, e para que o Senhor voltasse a mim e me mostrasse a luz do Seu rosto. Tive pouca vida e poder durante a manhã. Perto da metade da tarde, Deus capacitou-me a lutar ardentemente, intercedendo por meus amigos ausentes, mas só à noite o Senhor visitou-me maravilhosamente na oração. Penso que a minha alma nunca esteve antes em tal agonia. Eu não senti nenhum impedimento, pois os tesouros da graça divina estavam abertos para mim. Pelejei pelos amigos ausentes, pela colheita de almas, pelas multidões de pobres almas e por muitos que, eu penso, eram filhos de Deus e estavam em lugares distantes. Estava em tal agonia, desde o meio-dia até o escurecer, que eu fiquei todo molhado de suor, mas mesmo assim parecia-me que nada havia feito. Oh! meu querido Salvador derramou suores de sangue pelas pobres almas! Eu ansiei por mais compaixão para com elas. Eu me sentia inundado de uma doce paz, com o amor e a graça divina e fui dormir com este sentimento, com meu coração colocado em Deus”.
Os homens poderosos em oração são homens de poder espiritual. As orações nunca morrem. Toda a vida de Brainerd foi uma vida de oração. Dia e noite ele orava. Antes de pregar e depois de pregar, ele orava. Orava cavalgando através das solidões intermináveis da floresta. Orava no seu leito de palha. Orava retirando-se às florestas densas e solitárias. Hora após hora, dia após dia, cedo de manhã e tarde da noite, ele estava orando e jejuando derramando sua alma, intercedendo e comungando com Deus. Estava com Deus poderosamente na oração e Deus estava poderosamente com ele, e, mesmo que esteja morto, ainda fala e trabalha e falará e operará até o fim chegar, e entre os gloriosos daquele glorioso dia ele estará entre os primeiros.
Jonathan Edwards diz dele: “Sua vida mostra o caminho certo para o sucesso nas obras do ministério. Ele o procurava como o soldado procura a vitória no cerco de uma cidade ou na batalha; ou como um homem que corre a sua carreira para um grande prêmio. Animado pelo amor a Cristo e às almas, como ele trabalhava? Sempre fervorosamente. Não só em palavras e doutrina, em público e em particular, mas em orações de dia e de noite, pelejando com Deus em segredo, e tendo dores de parto com gemidos e agonias indizíveis, até que Cristo fosse formado nos corações do povo a quem ele era enviado. Como um verdadeiro filho de Jacó, ele perseverou na peleja através de toda a escuridão da noite, até o alvor do dia”!
— Willlam Penn
— Robert Murray McCheyne
— Richard Cecil
A oração com suas forças múltiplas auxilia os lábios para proferirem a verdade em sua plenitude e liberdade. Deve-se fazer muita oração pelo pregador; o pregador é formado pela oração. Deve-se orar pelos lábios do pregador; seus lábios devem ser abertos e enchidos pela oração. Os lábios santos são formados pela oração, por muita oração; os lábios destemidos são feitos pela oração, por muita oração. A Igreja e o mundo, Deus e os céus devem muito aos lábios de Paulo; os lábios de Paulo deveram seu poder à oração.
Como é variada, ilimitada, valiosa e útil a oração para o pregador, por muitas razões, em muitas coisas e em todas as ocasiões Um dos grandes valores é que auxilia o seu coração. A oração põe o coração do pregador no seu sermão; a oração coloca o sermão do pregador no seu coração.
O coração faz o pregador. Homens de grandes corações são grandes pregadores. Homens de maus corações podem fazer algum bem, mas isto é raro. O mercenário e o estranho podem ajudar o rebanho em algumas ocasiões, mas é o bom pastor com bom coração de pastor quem abençoará as ovelhas e corresponderá em toda a medida à posição de pastor.
Nós damos tanta ênfase à preparação do sermão que temos perdido a visão da coisa mais importante a ser preparada — o coração. Um coração preparado é muito melhor do que um sermão preparado. Um coração preparado fará um sermão preparado.
Volumes têm sido escritos estabelecendo a mecânica e o gosto da preparação de sermões, de tal modo que estamos possuídos da idéia de que os andaimes são o prédio. Ao jovem pregador tem sido ensinado a empregar todo o seu esforço na forma, no gosto e na beleza do seu sermão como um produto mecânico e intelectual. Temos, por isso, cultivado um gosto viciado no povo e despertado o clamor por talento em lugar da graça, eloqüência em vez de piedade, retórica em lugar de revelação, reputação e brilhantismo ao invés de santidade. Por causa disto, temos perdido a verdadeira idéia da pregação, o poder da pregação, a convicção pungente do pecado, a rica experiência e o
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elevado caráter cristão, autoridade sobre as consciências e vidas, que sempre resulta da pregação genuína.
Isto não quer dizer que os pregadores estudam demais. Alguns deles nada estudam; outros não estudam o suficiente. Inúmeros pregadores não estudam de um modo correto para se mostrarem obreiros aprovados por Deus. Mas a nossa grande falta não é de cultura mental, mas de cultura do coração; não a falta de conhecimento, mas a falta de santidade é o nosso triste e saliente defeito — não que não conheçamos muito, mas é que não meditamos sobre Deus e sobre Sua Palavra, não vigiamos, jejuamos e oramos suficientemente. O coração é o grande impedimento para a nossa pregação. As palavras impregnadas da verdade divina não encontram em nossos corações bons condutores; detidas, tornam-se impotentes.
Pode um homem ambicioso, que busca louvor e posição destacada, pregar o Evangelho dAquele que não buscou para si mesmo reputação, mas tomou a forma de um servo? Pode o orgulhoso, o vaidoso, o egoísta, pregar o Evangelho dAquele que era modesto e humilde? Pode o mal-humorado, colérico, duro e mundano pregar as doutrinas que estão cheias de longanimidade, auto-abnegação, ternura, que imperativamente exigem separação da inimizade e crucificação para o mundo? Pode o mercenário oficial, sem coração e negligente, pregar o Evangelho que exige que o Pastor dê Sua vida pelo rebanho? Pode o homem ambicioso, que pensa em termos de salário e dinheiro, pregar o Evangelho até que esgote o seu coração e possa dizer no espírito de Cristo e Paulo com as palavras de Wesley: “E eu o considero como esterco e escória; o calco sob os meus pés; e eu (ainda que não seja eu, mas a graça de Deus em mim) o estimo apenas como a lama de estrada, não o desejo, não o busco”?
A revelação de Deus não necessita da luz do gênio humano, a polidez e força da cultura humana, o brilhantismo do pensamento humano, o poder do cérebro humano para adornála ou reforçá-la; mas exige a simplicidade, a docilidade, a humildade e a fé que se aninham no coração de uma criança.
Foi esta submissão e subordinação do intelecto e do gênio às forças divinas e espirituais que fez Paulo inigualável entre os apóstolos. Foram estas coisas que deram a Wesley o seu poder.
A nossa grande necessidade é a preparação do coração. Lutero tomou-o como um axioma: “Quem orou bem, estudou bem”. Não dizemos que os homens não devem pensar e usar a sua inteligência; mas usará melhor a sua inteligência quem cultivar mais o seu coração. Não estamos dizendo que os pregadores não devem ser estudiosos; mas queremos dizer que seu grande estudo deveria ser a Bíblia e estudará melhor a Bíblia quem guarda o seu coração com diligência. Não dizemos que o pregador não deveria conhecer os homens, mas será maior adepto da natureza humana quem sondou as profundezas e os segredos do seu próprio coração.
Queremos dizer que o canal da pregação é a mente, ao passo que sua fonte é o coração; podeis alargar e aprofundar o canal, mas, se não cuidais da pureza e profundidade da fonte, tereis um canal seco ou contaminado. Quase todos os homens de inteligência comum têm capacidade suficiente para pregar o Evangelho, mas são muito poucos os que tem graça suficiente para isso. Queremos dizer que, quem lutou com seu próprio coração e o conquistou, quem aprendeu a humildade, fé, o amor, a verdade,
misericórdia, simpatia, coragem; quem pode derramar ricos tesouros do coração assim treinado através do intelecto humano, sobrecarregado com o poder do Evangelho, na consciência dos ouvintes — tal pessoa será o pregador verdadeiro e mais bem sucedido, segundo a estimação do seu Senhor.
O coração é o salvador do mundo. As cabeças não salvam. Gênio, cérebro, brilhantismo, força, dons naturais não salvam. O Evangelho derrama-se através dos corações. Todas as forças mais poderosas são as do coração. Todas as graças mais doces e mais suaves são as do coração. Grandes corações fazem grandes caracteres; grandes corações fazem caracteres divinos. Deus é amor. Nada há maior que o amor, nada maior que Deus. Os corações fazem o céu: o céu é amor. Nada há mais sublime, mais doce do que o céu. É o coração e não a cabeça que torna grandes os pregadores de Deus. O coração vale muito em todo sentido na religião. O coração deve falar do púlpito. O coração deve ouvir da audiência. De fato, servimos a Deus com os nossos corações. A homenagem intelectual não é aceita no céu.
Cremos que um dos erros mais sérios, mais comuns do púlpito de hoje é o de colocar mais pensamento do que oração, mais cérebro do que coração nos sermões. Grandes corações fazem grandes pregadores, bons corações fazem bons pregadores. Uma escola teológica para engrandecer e cultivar o coração é o objetivo áureo do Evangelho. O pastor atrai seu povo a ele e governa seu povo pelo seu coração. Eles podem admirar seus dons, podem estar orgulhosos de sua capacidade, podem ser influenciados por algum momento pelos seus sermões; mas a fortaleza do seu poder é o seu coração. Seu cetro é o amor. O trono do seu poder é o seu coração.
O Bom Pastor dá Sua vida pelas ovelhas. Os cérebros nunca fazem mártires. E o coração que sujeita a vida ao amor e à fidelidade. É necessário grande coragem para ser um pastor fiel, mas o coração, ele só, pode suprir esta coragem. Dons e gênio podem ser excelentes, mas são os dons e gênio do coração e não os da cabeça.
É mais fácil encher o cérebro do que preparar o coração; é mais fácil fazer um sermão intelectual do que um sermão de coração. Foi o coração que trouxe o Filho de Deus dos céus. É o coração que levará os homens aos céus. O mundo necessita de homens de coração para simpatizar com suas aflições, para sarar as dores, para ter compaixão de suas misérias e para aliviar seu sofrimento. Cristo foi eminentemente Varão de dores porque Ele foi preeminenternente o homem do coração.
“Dá-Me teu coração”, é o pedido de Deus aos homens. “Dá-me o teu coração”, é o que o homem pede aos outros.
Um ministério profissional é um ministério sem coração. Quando o salário representa um grande papel no ministério, o coração representa um papel mesquinho. Podemos fazer da pregação a nossa tarefa e não colocar os nossos corações nessa tarefa. Quem põe a si mesmo diante da sua pregação, põe o coração no último lugar. Quem não planta com seu coração no seu gabinete, nunca ceifará uma seara para Deus. O recinto secreto é o gabinete do coração. Ali aprenderemos sobre a maneira de pregar e o que pregar mais do que podemos aprender em nossas bibliotecas. “Jesus chorou” é o mais curto e o maior versículo da Bíblia. É aquele que sai chorando (não pregando grandes sermões), levando a preciosa semente, quem voltará com regozijo, trazendo seus molhos com ele (Sl. 126:6).
A oração dá inteligência, traz sabedoria, alarga e fortalece a mente. O recinto secreto é um perfeito professor e escola para o pregador. O pensamento não só é iluminado e aclarado na oração. Podemos aprender mais em uma hora de oração, quando oramos realmente, do que em muitas horas no gabinete. Há livros, no recinto secreto, que não podem sem encontrados ou lidos em qualquer outro lugar. Há revelações que não podem ser feitas em qualquer lugar que não seja o secreto.
— Spurgeon
Alexandre Knox, um filósofo cristão dos dias de Wesley, não um adepto, mas um grande amigo pessoal de Wesley, com muita simpatia espiritual para com o movimento wesleiano, escreve: “É estranho e lamentável, mas verdadeiramente creio que, a não ser entre os metodistas e os clérigos metodistas, não há muita pregação interessante na Inglaterra. O clero em geral perdeu totalmente essa arte. Há, penso eu, nas grandes leis do mundo moral uma espécie de entendimento secreto, como as afinidades químicas, entre a verdade religiosa corretamente promulgada e os sentimentos mais profundos do espírito humano. Onde um se manifesta devidamente, o outro responderá ‘Não ardia em nós o coração?’ — mas este sentimento devoto é indispensável ao orador. Ora, sou obrigado a estabelecer da minha própria observação que esta ‘onction’, como os franceses bem o denominam, está mais na convenção metodista do que na igreja do Estado na Inglaterra. Isto, e só isto, parece realmente ser o que enche as casas metodistas e rarefaz as igrejas do Estado. Eu não sou, como verdadeiramente penso, um entusiasta; sou anglicano muito sincero e de coração e um discípulo humilde da escola de Hale e Boyle, de Burnet e Leighton. Agora, devo asseverar que, quando eu estive nesta cidade há dois anos atrás, não ouvi nenhum pregador que me falasse como os meus próprios e grandes mestres a não ser os que são considerados metodistas. Agora estou desenganado de procurar um átomo de instrução de coração em outro qualquer lugar. Os pregadores metodistas (embora eu não possa aprovar sempre todas as suas afirmações) difundem com maior convicção esta religião verdadeira e pura. Eu senti um verdadeiro prazer no último domingo. Posso dar testemunho de que o pregador falou realmente palavras da verdade e sobriedade. Não havia eloqüência — o homem honesto nunca sonhou com tal coisa — mas havia coisa muito melhor: uma comunicação cordial de verdade vitalizada. E eu digo vitalizada porque aquilo que ele declarou aos outros, era impossível não sentir que ele próprio o vivia”.
Essa unção é a arte de pregar. O pregador que nunca teve esta unção nunca teve a arte de pregar. O pregador que perdeu essa unção, perdeu a arte de pregar. Qualquer outra arte que ele possa ter ou reter — a arte de preparar sermões, a arte de eloqüência, a arte de grandes e claros pensamentos, a arte de agradar ao auditório — sem essa unção terá perdido a divina arte da pregação. Essa unção torna a verdade de Deus poderosa e interessante, cativa e atrai, edifica, convence e salva.
Essa unção vitaliza a verdade revelada de Deus, torna-a viva e vivificante. Ainda que seja a verdade de Deus, quando transmitida sem esta unção é superficial, morta e mortífera. Embora abunde em verdade, embora carregada de pensamentos, embora brilhe com retórica, embora engrandecida pela lógica, embora poderosa pelo zelo, sem
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essa divina unção ela traz a morte e não a vida. Spurgeon diz: “E penso quanto não seria necessário martelar a nossa cabeça antes de poder explicar plenamente o que significa pregar com unção. Mas aquele que prega sente a sua presença, e aquele que ouve logo sente a sua ausência. Samaria, em estado de fome, representa um discurso sem unção. Jerusalém, com sua festa de fartura, cheia de tutano, pode representar um sermão enriquecido com ela. Qualquer um sabe o que a brisa da manhã é quando as pérolas orientais abundam em cada folha da grama, mas quem pode descrevê-la e muito menos produzi-la? Tal é o ministério da unção espiritual. Sabemos o que ela é, mas não podemos defini-la. Imitá-la pode parecer fácil, mas representa uma grande tolice. Unção espiritual é uma coisa que não se pode fazer e imitá-la é uma indignidade. No entanto ela é, em si mesma, inestimável e é necessária acima de qualquer medida, se desejamos edificar os crentes e conduzir pecadores a Cristo”.
A unção é algo indefinível e indescritível que um velho pregador escocês de renome descreve assim: “Há algumas vezes, algo na pregação que não pode ser descrito nem com pena nem com palavras, o que é ou donde vem, mas que com uma violência suave penetra no coração e nos sentimentos e vem diretamente do Senhor; mas se há algum meio para obter tal coisa é pela disposição celestial do orador”.
Nós a chamamos unção. Essa unção é que torna a Palavra de Deus “viva e eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas e apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb. 4:12). É essa unção que dá às palavras do pregador penetração, agudeza e poder, e que cria tal impacto e agitação em muitas congregações mortas.
As mesmas verdades têm sido anunciadas com tal rigor da letra, tão macias quanto o óleo humano pode torná-las; mas não tem sinal de vida nem de pulsação; todas são tão pacíficas como os túmulos e os mortos. Quando o mesmo pregador recebe um batismo desta unção está nele o sopro divino e a letra da Palavra foi embelezada e inflamada por este poder misterioso e as palpitações da vida começam — vida que recebe ou vida que resiste. A unção penetra e convence a consciência e quebranta o coração.
Esta unção divina é a característica que separa e distingue a verdadeira pregação do Evangelho de todos os outros métodos de apresentar a verdade e que produz um grande abismo espiritual entre o pregador que a tem e o pregador que não a tem. Sustenta e impregna a verdade revelada com toda a energia de Deus. Unção é simplesmente colocar Deus em Sua própria Palavra e sobre Seu próprio pregador. Pela oração poderosa e pela oração contínua, ela se torna toda potente e pessoal para o pregador; inspira e esclarece o seu intelecto, dá penetração, poder e influência; dá ao pregador o poder do coração que é maior do que o poder da mente; ternura, pureza e força fluem do seu coração por meio dela. Esta unção produz grandeza e liberdade, plenitude de pensamento, retidão e simplicidade de expressão.
Muitas vezes, o ardor é equivocamente tomado por esta unção. Aquele que tem a divina unção será ardoroso pela própria natureza espiritual das coisas, mas pode haver uma ampla gradação de ardor sem a mínima mistura de unção.
Ardor e unção parecem semelhantes sob alguns pontos de vista, O ardor pode ser, facilmente, tomado por unção. É necessário um olho espiritual e um discernimento espiritual para descriminá-los.
O ardor pode ser sincero, sério, ardente e perseverante. Dispõe-se a fazer as coisas com boa vontade, persegue-as com perseverança, insiste nelas com ardor; põe as forças nelas. Mas todas essas forças nada mais são do que forças humanas. O “homem” está nele — o homem inteiro com tudo aquilo que é de sua vontade e seu coração, do cérebro, do gênio, do seu plano, trabalho e de sua palestra. Ele tomou para si algum propósito que o dominou e persiste para dominá-lo. Pode não haver nada de Deus nele. Pode haver pouco de Deus nele, porque nele há muito do homem. Pode apresentar todos os argumentos na defesa do seu sincero propósito que agradam ou tocam e movem ou abatem com convicção de sua importância; em todo este ardor pode mover-se ao longo dos caminhos terrenos, sendo propulsionado só pelas forças humanas, seu altar feito pelas mãos terrenas e seu fogo aceso com chamas terrenas. Diz-se de um famoso pregador, dotado de talento, que cumpria a Escritura segundo o seu gosto e propósito, que “chegou a ser muito eloqüente com sua própria exegese”. Os homens assim tornam se excessivamente ardorosos com seus próprios planos ou movimentos. O ardor pode ser egoísmo simulado.
Que é unção? É o indefinível na pregação, que faz a pregação. É aquilo que distingue e separa a pregação de todos os discursos meramente humanos. É o divino na pregação. Ela torna penetrante a pregação para aqueles que necessitam de iluminação. Ela destila como orvalho sobre aqueles que necessitam ser refrigerados.
Esta unção vem ao pregador não no gabinete, mas no recinto secreto. É a destilação do céu em resposta à oração. É a mais doce exalação do Espírito Santo. Ela impregna, infunde, suaviza, filtra, apara e abranda. Leva a Palavra como dinamite, como sal, como açúcar; torna a Palavra um suavizador, um revelador e um inquisidor; torna o ouvinte um réu ou um santo, fá-lo chorar como criança e viver como gigante; abre seu coração e sua bolsa tão gentilmente, no entanto tão fortemente como a primavera abre as folhas. Esta unção não é o dom do gênio. Não é encontrada nas escolas. Nenhuma eloqüência pode pretendê-la. Nenhuma indústria pode ganhá-la. As mãos preláticas não podem conferi-la. É o dom de Deus — é o sinete conferido aos Seus próprios mensageiros. É a dignidade de cavaleiro celestial concedida aos verdadeiros escolhidos e bravos que procuram esta honrosa unção através de muitas horas de oração com lágrimas e luta.
O ardor é bom e impressionante; o gênio é um grande dom. O pensamento brilha e inspira, mas necessita de investidura mais divina, uma energia mais poderosa do que o ardor, gênio ou pensamento para quebrar as cadeias do pecado, para ganhar corações extraviados e depravados para Deus, para reparar as brechas e restaurar a Igreja ao seu antigo caminho de pureza e poder. Nada a não ser esta santa unção pode fazer isto.
No sistema cristão, a unção é o derramamento do Espírito Santo separando-nos e qualificando-nos para o trabalho de Deus. Esta unção é uma divina capacitação pela qual o pregador cumpre os fins peculiares e salvadores da pregação. Sem esta unção não há resultados verdadeiramente espirituais; os resultados e as forças na pregação não sobrepujam os resultados de um discurso não santificado. Sem a unção, o discurso é tão poderoso quanto o púlpito.
Esta unção divina sobre o pregador gera, através da Palavra de Deus, os resultados espirituais que emanam do Evangelho; sem esta unção, estes resultados não são assegurados. Muitas impressões agradáveis podem ser produzidas, mas todas elas ficam
aquém dos fins da pregação do Evangelho. Esta unção pode ser simulada. Há muitas coisas que se lhe assemelham, há muitos resultados que se parecem com os seus efeitos; mas elas são estranhas aos seus resultados e à sua natureza. O fervor ou a ternura excitados por um sermão patético ou emocional podem assemelhar-se com os movimentos da unção divina, mas não têm força pungente, penetrante e que quebranta o coração. Não há em seus movimentos superficiais, atraentes e emocionais, o bálsamo que cura o coração. Não são radicais, nem sondam o coração, nem curam o pecado.
Esta unção divina é um aspecto característico que separa a verdadeira pregação do Evangelho de todos os outros métodos de apresentação da Verdade. Ela sustenta e interpreta a verdade revelada com toda a força de Deus. Ilumina a Palavra, alarga e enriquece o intelecto, capacita-o a aprender a Palavra. Qualifica o coração do pregador e trá-lo para aquela condição de mansidão, de pureza, de força e luz que são necessárias para assegurar os mais altos resultados. Esta unção dá ao pregador liberdade e grandeza de pensamento e de alma — uma liberdade, plenitude e penetração direta da palavra que não podem ser asseguradas por nenhum outro processo.
Sem esta unção sobre o pregador, o Evangelho não tem mais poder para propagar-se do que qualquer outro sistema de verdade. Este é o selo do seu caráter divino. A unção no pregador coloca Deus no Evangelho. Sem a unção, Deus está ausente e o Evangelho é abandonado às forças inferiores e insatisfatórias que a ingenuidade, o interesse ou os talentos dos homens podem criar para dar força e projeção às suas doutrinas.
É neste aspecto que o púlpito falha, mais do que em outro qualquer aspecto. Justamente neste ponto mais importante é que ele falha. O estudo pode ter brilho e eloqüência, pode agradar e encantar; o sensacionalismo ou os métodos menos ofensivos podem atrair os homens em massa; o poder mental pode impressionar e dar força à verdade com todos os seus recursos; mas sem esta unção, cada uma destas coisas e todas elas serão somente como assalto das águas embravecidas sobre um Gibraltar. Borrifo e espuma podem cobrir, mas as rochas ainda estão lá sem ser movidas e inamovíveis. O coração humano não pode ser varrido da sua dureza e pecado por estas forças humanas, como essas rochas não podem ser varridas pelas ondas incessantes do oceano.
Esta unção é a força de consagração e sua presença, a prova contínua dessa consagração. É esta divina unção no pregador que assegura sua consagração a Deus e à Sua obra. Outras forças e motivos podem chamá-lo para a obra, mas só esta é a consagração! Uma separação para o trabalho de Deus pelo poder do Espírito Santo é a única consagração reconhecida por Deus como legítima.
A unção, a divina unção, este derramamento celestial, é o que o púlpito necessita e deve ter. Este óleo divino e celestial, colocado sobre ele pela imposição da mão divina, deve suavizar e lubrificar o homem todo — coração, mente, espírito — até que ela o separe, com uma separação poderosa, de todos os motivos e objetivos terrenos, seculares, mundanos e egoístas, separando-o para tudo o que é puro e divino.
É a presença desta unção no pregador que causa excitação e agitação em muitas congregações. As mesmas verdades têm sido anunciadas na rigidez da letra, mas nenhuma comoção foi vista, nenhuma dor ou pulsão sentidas. Tudo é tranqüilo como um túmulo. Um outro pregador vem e esta influência misteriosa está sobre ele; a letra da Palavra tem sido inflamada pelo Espírito, sentem-se as agonias de um movimento
poderoso, é a unção que penetra e comove a consciência e quebranta o coração. A pregação sem unção torna difícil todas as coisas, tornam-se secas, acres e mortas.
Essa unção não é apenas uma era ou uma memória do passado; é um fato presente, notado e cônscio. Pertence à experiência do homem assim como à sua pregação. É ela que o transforma na imagem do seu Divino Mestre, assim como pela qual declara as verdades de Cristo com poder. É de tanto poder no seu ministério que tudo o mais parece fraco e vão sem ela, e sua presença compensa a ausência de todas as outras forças mais fracas.
Esta unção não é um dom inalienável. É um dom condicional e sua presença é perpetuada e intensificada pelo mesmo processo pelo qual foi no começo conseguida, pela oração incessante a Deus, pelo ardente anseio para com Deus, estimando-a, buscando-a com ardor incansável, considerando tudo o mais perdido e falho sem ela.
Como e de onde vem essa unção? Diretamente de Deus em resposta à oração. Só os corações que oram são os coraçoes repletos desse óleo santo; somente os lábios que oram são ungidos com essa divina unção.
Oração, muita oração, é o preço da unção de pregar; a oração, muita oração é a única condição para conservar esta unção. Sem a oração incessante, a unção nunca virá ao pregador. A unção, tal como o maná desnecessariamente colhido, sem a perseverança na oração, cria bichos.
Dê-me uma centena de pregadores que nada temem a não ser o pecado, nada desejam a não ser Deus, e não me importa se são clérigos ou leigos; somente tais pessoas abalarão os portões do inferno e estabelecerão o reino dos céus sobre a terra. Deus nada fez a não ser em resposta à oração.
— John Wesley
Os apóstolos conheciam a necessidade e o valor da oração para o seu ministério. Reconheceram que a sua nobre missão como apóstolos, em lugar de aliviá-los da necessidade da oração, impelia-os a ela como uma necessidade mais urgente; assim eles foram excessivamente zelosos para que alguma outra tarefa importante não viesse esgotar seu tempo e impedisse a sua oração como deviam fazer; assim, escolheram leigos para cuidar dos deveres delicados e crescentes de ministrar aos pobres, a fim de que eles (os apóstolos) pudessem, sem empecilho, “perseverar na oração e no ministério da palavra” (At., 6:4). Çolocaram a oração em primeiro lugar e deram ênfase à sua posição com respeito à oração, “entregaram-se a ela”, tornando-a uma tarefa, sujeitando-se a ela, dando-lhe fervor, urgência, perseverança e tempo.
Como os santos apóstolos se devotaram a este divino trabalho da oração! “Orando abundantemente dia e noite”, diz Paulo. “Mas nós perseveraremos na oração...” foi a resolução dos dedicados apóstolos.
Como estes pregadores do Novo Testamento se entregaram à oração pelo povo de Deus! Como apresentaram Deus às suas igrejas, com toda plenitude, por suas orações! Estes santos apóstolos não tinham a presunção de que haviam satisfeito seus altos e solenes deveres pela entrega fiel da Palavra de Deus, mas sua pregação, pelo ardor e insistência de suas orações, ficou gravada nas mentes dos ouvintes e produziu efeitos.
A oração apostólica era tão determinante, árdua e imperativa como a pregação. Oravam poderosamente, de dia e de noite para trazer seu povo aos lugares mais altos da fé e santidade. Oravam mais poderosamente para conservá-lo nesta atitude espiritual. O pregador que nunca aprendeu, na escola de Cristo, a nobre e divina arte da intercessão pelo seu povo, nunca aprenderá a arte da pregação, mesmo que conheça muito bem as regras da homilética e seja o mais dotado gênio na confecção do sermão e na transmissão.
As orações dos santos líderes apostólicos fizeram muito para tornar santos aqueles que não eram apóstolos. Se os líderes da Igreja, nos anos posteriores tivessem sido tão cuidadosos e fervorosos em suas orações pelo seu povo, como os apóstolos, os tempos tristes e tenebrosos do mundanismo e apostasia não teriam manchado a história, ofuscado a glória e detido o avanço da Igreja. A oração apostólica faz santos apostólicos e conserva os tempos apostólicos de pureza e poder da Igreja.
Se alguns cristãos, que se têm queixado dos seus ministros, tivessem dito e agido menos diante dos homens e tivessem se aplicado com todo o seu poder em clamar a Deus pelos seus ministros — teriam, por assim dizer, levantado e agitado o céu com suas orações humildes, fervorosas e incessantes em favor deles e teriam tido muito maior sucesso.
— Jonathan Edwards
De algum modo, a prática de orar em particular pelo pregador tem caído no desuso ou tem sido menosprezada. De vez em quando, ouvimos a denúncia de que orar pelo ministro é fazer declaração pública da sua ineficiência, e pô-lo em descrédito. Isto talvez ofenda o orgulho da erudição e da auto-suficiência, mas estas coisas devem ser ofendidas e desaprovadas num ministério que é tão desleixado a ponto de permitir a sua existência.
A oração, para o pregador, não é um simples dever de sua profissão, um privilégio, mas é uma necessidade. O ar não é mais necessário aos pulmões quanto a oração o é para o pregador. É absolutamente necessário que o pregador ore. É uma necessidade absoluta que se ore pelo pregador. Estas duas proposições estão unidas com um laço que nunca deve conhecer o divórcio: O PREGADOR DEVE ORAR; DEVE-SE ORAR EM FAVOR DO PREGADOR. Nelas está encerrada toda a oração que ele pode fazer e todas as orações que se pode fazer por ele para enfrentar as terríveis responsabilidades e conseguir o maior e mais verdadeiro sucesso na sua grande obra. O verdadeiro pregador, depois do cultivo do espírito e da oração em si mesmo, na forma mais intensa, anseia com grande veemência as orações do povo de Deus.
Quanto mais santo for o homem, mais estimará a oração; quanto mais claro ele vir que Deus se entrega a Si mesmo ao que ora e que a medida de relevação divina à alma é proporcional à aspiração da alma, mais importunará a Deus em oração. O caminho da salvação não se encontra no coração que não ora. O Espírito Santo nunca habita no coração sem oração. A pregação nunca edifica uma alma sem oração. Cristo desconhece os cristãos sem oração. O Evangelho não pode ser espalhado por um pregador que não ora. Dons, talentos, educação, eloqüência, vocação não podem abater a exigência da oração, mas somente intensificar a necessidade de o pregador orar e receber orações em seu favor. Quanto mais os olhos do pregador estiverem abertos para a natureza, responsabilidades e dificuldades da sua obra, mais ele verá e, se for um verdadeiro pregador, mais sentirá a necessidade de orar; não só o desejo crescente de orar, mas chamar outros para ajudá-lo com suas orações.
Que nobreza de alma, que pureza e elevação de motivos, que desinteresse, que sacrifício próprio, que dedicação exaustiva, que ardor de espírito, que tato divino constituem os requisitos para ser intercessor dos homens!
O pregador deve entregar-se à oração pelo seu povo; não para que eles sejam salvos simplesmente, mas para que sejam poderosamente salvos. Os apóstolos entregaram-se à oração para que os seus santos pudessem ser perfeitos; não para que tivessem uma
pequena experiência das coisas de Deus, mas para que eles fossem “cheios de toda a plenitude de Deus” (Ef. 3:19). Paulo não ficou na sua pregação apostólica para assegurar este fim, mas “por causa disto se pôs de joelhos perante o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef. 3:14). A oração de Paulo levou os convertidos pela sua instrumentalidade muito mais longe no caminho da santidade do que a sua pregação. Epafras fez muito mais pela oração em favor dos santos de Colossos do que por sua pregação. Esforçou-se fervorosamente sempre na oração por eles, para que “eles se conservassem firmes, perfeitos e convictos em toda a vontade de Deus” (Cl. 4:12).
Os pregadores são preeminentemente escolhidos por Deus. São os principais responsáveis pela condição da Igreja. Eles moldam seu caráter, dão matiz e direção à sua vida.
Muito, de todas as maneiras, depende desses líderes. Eles formam as épocas e as instituições. A Igreja é divina, o tesouro que ele encerra é celestial, mas ela traz a estampa humana. O tesouro está num vaso de barro e toma o gosto do vaso. A Igreja de Deus faz seus líderes ou é feita por eles. Seja ela quem faz os líderes, seja ela feita por eles, será o que seus líderes são; espiritual, se eles o forem; mundana, se eles o são.
Os reis de Israel deram caráter à piedade israelita. Uma Igreja raramente se revolta ou se põe acima da religião dos seus líderes. Líderes fortemente espirituais, homens de santo poder, à frente, são símbolos do favor de Deus; desastre e fraqueza seguem ao aparecimento dos líderes fracos ou mundanos. Israel decaiu quando Deus lhe deu crianças para serem seus príncipes e bebês para os governarem. Nenhum estado de felicidade é predito pelos profetas quando as crianças oprimem o Israel de Deus e inimigos o governam. Os tempos de liderança espiritual são tempos de grande prosperidade para a Igreja.
A oração é uma das características eminentes de uma forte liderança espiritual. Homens de oração poderosa são homens de grande poder e moldam as coisas. Seu poder com Deus tem o passo de um conquistador.
Como pode um homem pregar se não recebeu de Deus sua mensagem no recinto secreto? Como pode pregar sem ter sua fé avivada, sua visão esclarecida e seu coração aquecido pela sua estreita União com Deus? Ai, se os lábios não estiverem tocados pela chama dessa comunhão! Eles serão sempre secos e sem unção. As verdades divinas nunca virão com poder de tais lábios. Até onde se implicam os interesses reais da religião, um púlpito sem o recinto secreto será sempre um deserto.
Um pregador pode pregar de um modo oficial, atraente e estudado sem oração, mas, entre esta espécie de pregação e o ato de semear a semente preciosa de Deus com mãos santas e corações cheios de oração e de lágrimas, há uma distância incomensurável.
São Paulo é um exemplo. Se algum homem podia espalhar ou fazer avançar o Evangelho pela eficácia da força pessoal, pelo poder do intelecto, pela cultura, pelo talento pessoal, pela comissão apostólica de Deus, pela vocação extraordinária de Deus, este homem foi Paulo. De que o pregador deve ser um homem entregue à oração, Paulo é um exemplo eminente. De que o verdadeiro pregador apostólico deve ter as orações de outros bons irmãos para dar ao seu ministério seu contingente pleno de sucesso, Paulo é um exemplo preeminente. Ele pede, anseia, suplica de um modo apaixonado o auxílio
de todos os santos de Deus. Sabia que no mundo espiritual, como em qualquer outra parte, a união faz a força; que a concentração e a reunião da fé, desejo e oração aumentavam o volume da força espiritual até tornar-se esmagadora e irresistível em seu poder. Unidades de oração combinadas, como as gotas de água, fazem um oceano que desafia a resistência. Assim Paulo, com a sua clara e plena apreensão do dinamismo espiritual, determinou tornar o seu ministério tão influente, eterno, irresistível como o oceano, reunindo todas as unidades dispersas de oração e precipitando-as sobre o seu ministério.
Não pode a explicação da preeminência de Paulo no trabalho, nos resultados e na influência sobre a Igreja e o mundo, ser encontrada no fato de que foi capaz de centralizar nele e no seu ministério mais orações do que outros? Aos seus irmãos de Roma escreveu: “Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor” (Rm. 15:30).
Aos efésios ele diz: “Com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito, e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos, e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para com intrepidez fazer conhecido o mistério do evangelho” (Ef. 6:18,19).
Aos colossenses reitera: “Suplicai ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também estou algemado; para que eu o manifeste, como devo fazer” (Cl. 4:3,4).
Aos tessalonicenses ele diz, aguda e fortemente: “Irmãos, orai por nós” (1 Ts. 5:25).
Paulo chama a igreja de Corinto em seu auxílio: “Ajudando-nos também vós, com as vossas orações a nosso favor” (II Co. 1:11). Esta devia ser uma parte da sua obra. Eles deviam auxiliá-lo com as suas orações.
Ele, num apelo adicional e final à igreja de Tessalônica, acerca da importância e necessidade de suas orações, dizia: “Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague, e seja glorificada, como também está acontecendo entre vós; e para que sejamos livres dos homens perversos e maus; porque a fé não é de todos” (II Ts. 3:1,2).
Inculca nos filipenses que todas as suas provações e oposição podem tornar-se meios para a expansão do Evangelho pela eficiência de suas orações por ele. Filemon estava preparando um alojamento para ele, pois através da sua oração Paulo iria ser seu hóspede.
A atitude de Paulo nesta questão ilustra sua humildade e sua profunda penetração nas forças espirituais que projetam o Evangelho. Mais do que isto, ensina uma lição para todos os tempos que, se Paulo dependia tanto das orações dos santos de Deus para dar êxito ao seu ministério, quão maior deve ser a necessidade de que as orações dos santos de Deus sejam centralizadas sobre o ministério hoje!
Paulo não pensou que esta urgente súplica por oração viesse rebaixar a sua dignidade, diminuir sua influência ou depreciar sua piedade. Que importa se o fez? Perca-se a
dignidade, destrua-se a influência, prejudique-se a sua reputação — ele devia ter suas orações. Vocacionado, comissionado, e sendo principal entre os apóstolos como ele era, todo o seu equipamento era imperfeito sem as orações do seu povo. Escreveu cartas para todos os lugares, instando com eles para orar em seu favor. Orai pelo vosso pregador? Orai por ele em secreto? As orações públicas têm pouco valor a menos que estejam fundamentadas e seguidas pela oração particular. Aqueles que oram pelo pregador serão para ele o que Aarão e Hur foram para Moisés: sustentaram suas mãos levantadas e decidiram a batalha que se travava encarniçadamente em seu redor.
A súplica e o propósito dos apóstolos foram fazer a Igreja orar. Não ignoraram o lugar que a atividade, a capacidade e obras religiosas ocupavam na vida espiritual, mas nenhuma, nem todas elas, na estima ou urgência apostólica, podiam, de maneira alguma, compararse à necessidade e importância da oração. As mais sagradas e urgentes súplicas foram empregadas, as mais fervorosas exortações, as mais compreensivas e despertadoras palavras foram pronunciadas para reforçar a importantíssima obrigação e necessidade da oração.
“Orem os homens em todo lugar”, é o cuidado do esforço apostólico e a nota-chave do sucesso apostólico. Jesus Cristo havia-se esforçado para fazer isso nos dias de Seu ministério pessoal. De maneira que Ele foi movido por infinita compaixão nos campos maduros da terra que se perdiam por falta de trabalhadores — e pausando em Suas próprias orações — Ele procurou despertar as sensibilidades embotadas de seus discípulos para o dever da oração conforme lhes confiou, “Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Mt. 9:38). “Disse-lhes Jesus uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer” (Lc. 18:1).
Nossas devoções não se medem pelo relógio, mas o tempo está na sua essência. A habilidade para esperar e permanecer, e insistir, pertence essencialmente à nossa comunhão com Deus. A precipitação que é imprópria e daninha em todo lugar o é em extensão mais alarmante na grande ocupação de comunhão com Deus. Devoções curtas são a ruína da profunda piedade. Quietude, alcance, fortaleza nunca são os companheiros da precipitação. As devoções curtas arrefecem o vigor espiritual, detêm o progresso espiritual, carcomem os fundamentos espirituais, crestam a raiz e a flor da vida espiritual. Elas são a fonte prolífica da apostasia, segura indicação de uma piedade superficial; elas defraudam, mirram, apodrecem a semente e empobrecem o solo.
É verdade que as orações bíblicas em palavras e impressas são curtas, mas os homens de oração da Bíblia estavam com Deus através de muitas horas de lutas doces e santas. Ganharam por poucas palavras, mas por longa espera. As orações de Moisés registradas podem ser curtas, mas orou a Deus com jejum e poderoso clamor por quarenta dias e quarenta noites.
A exposição da oração de Elias pôde condensar-se em uns poucos e breves parágrafos, mas sem dúvida Elias, que quando “orando orava”, empregou muitas horas em luta impetuosa e elevada comunhão com Deus, antes que pudesse com segura intrepidez dizer a Acabe: “Nem orvalho nem chuva haverá nestes anos segundo a minha palavra” (1 Rs. 17:1). O sumário verbal das orações de Paulo é curto, mas Paulo “orava dia e noite com grande instância” (1 Ts. 3:10). O Pai Nosso é um divino epítome para lábios infantis, mas o homem Jesus Cristo orou muitas noites inteiras, antes que Sua obra fosse
realizada, e Suas devoções de toda a noite e longamente sustentadas deram à Sua obra seu acabamento e perfeição, e ao Seu caráter a plenitude de glória de Sua divinidade.
A obra espiritual é uma obra desgastante e aos homens repugna-lhes fazê-la. A oração, a verdadeira oração, custa um preço de sérias atenções e de tempo que a carne e o sangue não estimam. Poucas pessoas são feitas de tão forte fibra que queiram fazer tão custoso gasto, quando a obra superficial bem pode passar no mercado. Podemos habituar-nos, nós mesmos, à nossa miserável oração até que ela pareça bem a nós e, pelo menos, guarda uma forma decente e uma consciência tranqüila — o mais mortal dos narcóticos! Podemos descuidar a nossa oração e não perceber o perigo até que os fundamentos tenham desaparecido. As devoções apressadas tornam a fé débil, convicções débeis, piedade suspeita. Estar pouco tempo com Deus é ser pequeno para Deus. Encurtar a oração torna todo o caráter religioso curto, escasso, mesquinho e descuidado.
É necessário muito tempo para o pleno derramamento de Deus no espírito. As devoções curtas cortam o condutor do pleno derramamento de Deus. Necessita-se de muito tempo em lugares secretos para conseguir a plena revelação de Deus. O tempo exíguo e apressado danifica o quadro.
Henry Martyn, missionário inglês, lamenta que “a falta de leitura devocional particular e as orações curtas, por causa do trabalho incessante de fazer sermões, produziram muita estranheza entre Deus e sua alma”. Julgou que havia dedicado demasiado tempo às ministrações públicas e muito pouco tempo à comunhão particular com Deus. Ficou impressionado com a necessidade de separar tempo para o jejum e devotar tempo à oração solene. Como resultado disso ele relata: “Fui auxiliado esta manhã a orar por duas horas”; William Wilberforce, o companheiro dos reis, diz: “Devo reservar mais tempo para as devoções particulares. Tenho vivido demasiado em público e para mim, o encurtamento das devoções particulares mata a alma de fome; ela se torna pobre e lânguida. Tenho estado velando até altas horas da noite”. De um fracasso no Parlamento, ele diz: “Deixa-me registrar minha tristeza e minha vergonha, pois, provavelmente, as devoções secretas foram cortadas e assim Deus me deixou tropeçar”. Mais solidão e mais horas matutinas foram o seu remédio.
Mais tempo e mais horas matutinas para a oração atuariam maravilhosamente para reavivar e revigorar a vida espiritual decaída de muitos. Mais tempo e horas matutinas em oração se manifestariam em um viver santo. Uma vida santa não seria uma coisa tão rara e tão difícil, se as nossas devoções não fossem tão curtas e tão apressadas. Um temperamento cristão em sua doce e desapaixonada fragrância não seria uma herança tão estranha e desesperada se as nossas permanências no recinto secreto fossem alongadas e intensificadas. Vivemos tão mesquinhamente porque oramos mediocremente. A abundância de tempo para festejarmo-nos em nossos recintos secretos traria tutano e gordura às nossas vidas. Nossa capacidade para estarmos com Deus e em nosso recinto secreto mede a nossa habilidade para estarmos com Deus fora dele. As visitas apressadas ao recinto secreto são enganosas e negligentes. Não somente somos enganados por elas, mas também perdemos por causa delas muitos meios e muitos ricos legados. A permanência no recinto secreto instrui e faz triunfar. Ela nos ensina, e as maiores vitórias são resultado de grandes esperas — esperas até que as palavras e os planos sejam esgotados. A espera silenciosa e paciente ganha a coroa. Jesus Cristo pergunta com ênfase provocativa: “E Deus não fará a justiça aos seus escolhidos, que chamam a Ele de dia e de noite”? (Lc. 18:7).
Orar é a maior coisa que podemos fazer e para fazê-la bem deve haver quietude, tempo e deliberação; de outro modo, degrada-se até o nível das coisas mais pequenas e insignificantes. A verdadeira oração tem os maiores resultados para o bem e a oração pobre, os menores. Nunca oramos demasiadamente quando realmente oramos; não podemos nos dedicar a imitações. Devemos aprender de novo o valor da oração. Não há nada que tome mais tempo para aprender-se. E se desejamos aprender a maravilhosa arte, não devemos dar um fragmento de tempo aqui e acolá, mas devemos requerer e tomar com poder férreo as melhores horas do dia para Deus e para oração, ou não haverá oração digna de tal nome.
Esta, no entanto, não é era de oração; poucos são os homens que oram. A oração é caluniada pelo pregador e pelo sacerdote. Nesses dias de precipitação e afã, de eletricidade e vapor, os homens não querem tomar tempo para a oração. Há pregadores que “dizem orações” como uma parte de seu programa, em ocasiões regulares ou importantes, mas quem “há que invoque o teu nome, que se desperte, e te detenha?” (Is. 64:7). Quem ora como orou Jacó — até que é coroado como intercessor prevalecente e régio? Quem ora como Elias — até que todas as forças detidas da natureza sejam abertas e uma terra castigada e faminta floresça como o jardim de Deus? Quem ora como orou Jesus Cristo que saindo para o monte “esteve toda a noite em oração com Deus” (Lc. 6:12)? Os apóstolos “se consagraram à oração” (At. 6:4) — é a coisa mais difícil de levar os homens e mesmo os pregadores a fazerem.
Há leigos que darão seu dinheiro — alguns deles em abundância — mas não querem “entregar-se” à oração, sem a qual o seu dinheiro é apenas uma imprecação. Há abundância de pregadores que pregarão e pronunciarão discursos grandes e eloqüentes sobre a necessidade de avivamento e de espalhar o Reino de Deus, mas poucos farão aquilo sem o qual toda pregação e organização serão piores do que vãs: ORAR. Está fora da moda, a arte quase perdida, e o maior benfeitor que este século poderia ter seria o homem que fizesse os pregadores e a Igreja voltarem à oração.
Os apóstolos podiam adquirir apenas os reflexos da grande importância de oração antes do Pentecostes. Mas o Espírito, vindo e enchendo no Pentecostes, elevou a oração à sua posição vital e todo dominante no Evangelho de Cristo. O chamado, agora, à cada santo para oração é o apelo clamoroso e exigente do Espírito. A piedade dos santos é feita, refinada e aperfeiçoada pela oração. O Evangelho move-se com passo lento e tímido quando os santos não estão orando de manhã, de tarde e por longo tempo.
Onde estão os líderes cristãos que podem ensinar os santos modernos a orar e colocá-los na obra? Estamos cientes de que estamos levantando um grupo de santos sem oração? Onde estão os líderes apostólicos que podem pôr o povo de Deus a orar? Deixe-os vir à frente e fazer a obra; será a maior obra que se pode fazer. O incremento das facilidades educacionais e o grande incremento de força monetária serão a mais cruel blasfêmia à religião, se eles não forem santificados por mais e melhor oração do que a que estamos fazendo.
Mais oração não virá como uma coisa natural. Nada senão um esforço específico de uma liderança que ora terá proveito. Os chefes devem orientar, com esforço apostólico, para enraizar a importância vital e a realidade da oração no coração e na vida da Igreja. Ninguém, a não ser os líderes que oram, pode ter seguidores que oram. Os apóstolos de oração gerarão santos que oram. Um púlpito de oração gerará bancos de penitentes que
oram. Temos grandes necessidade de alguém que possa reunir os santos para a tarefa da oração. Não somos uma geração de santos de oração. Santos sem oração constituem um grupo miserável de santos que não têm o ardor, nem a formosura, nem o poder dos santos. Quem restaurará esta brecha? O maior dos reformadores e apóstolos será aquele que reunir a Igreja para a oração.
Isto colocamos como o nosso mais sóbrio juízo: a grande necessidade da Igreja nesta e em todas as épocas é de homens de fé dominante, de tal santidade sem mancha, de tal marcado vigor espiritual e zelo consumidor, que suas orações, sua fé, suas vidas e seu ministério sejam de tal forma radicais e agressivos como se operassem revoluções espirituais, que marcarão época na vida dos indivíduos e da Igreja.
Não queremos dizer homens que permitem agitações sensacionais por meio de projetos originais nem aqueles que atraem por um entretenimento agradável; mas homens que podem agitar as coisas e operar revoluções pela pregação da Palavra de Deus e pelo poder do Espírito Santo; revoluções que transformam a corrente inteira dos fatos. A capacidade natural e as vantagens educacionais não figuram como fatores nesta questão, mas capacidade pela fé, a capacidade de orar, o poder da inteira consagração, a habilidade da pequenez própria, uma absoluta perda do “eu” na glória de Deus e uma constante e insaciável busca e aspiração de toda a plenitude de Deus. Homens que podem inflamar a Igreja para Deus, não de uma maneira turbulenta e ostentosa, mas com um intenso e silencioso calor que derrete e move todas as coisas para Deus, são necessários.
Deus pode operar maravilhas, se Ele puder encontrar o homem conveniente. Os homens podem operar maravilhas, se puderem encontrar Deus que os guie. A completa dotação de espírito que revira o mundo de cima para baixo, seria eminentemente útil nestes últimos dias. Homens que podem agitar as coisas poderosamente para Deus, cujas revoluções espirituais mudam o aspecto inteiro das coisas, são a necessidade universal da Igreja.
A Igreja nunca tem estado sem estes homens; eles adornam sua história: eles constituem os milagres que provam a divindade da Igreja; seus exemplos e histórias são uma inspiração inesgotável e bendita. Um aumento de seu número e poder deveria ser o objeto de nossas orações.
Aquilo que foi feito nas coisas espirituais, pode ser feito novamente e ser feito melhor. Esta foi a visão de Cristo. Ele disse: “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (Jo. 14:12).
O passado não esgotou as possibilidades nem as exigências para fazer grandes coisas para Deus. A Igreja que depende do seu passado histórico para os seus milagres de poder e graça, é uma Igreja falida.
Deus necessita de homens eleitos — homens dos quais o eu e o mundo saíram para uma severa crucificação, por uma bancarrota que tão totalmente arruinou o eu e o mundo que não há nem esperança nem desejo de restaurá-los; homens que por esta insolvência e crucificação voltaram para Deus os corações perfeitos.
Oremos ardentemente a fim de que as promessas de Deus concernentes à oração possam ser mais do que realizadas.
SOBRE O AUTOR
Edward McKendree Bounds, ministro metodita e escritor devocional, nasceu em 15 de Agosto de 1835 (em Shelby County, Missouri) e morreu em 24 de Agosto de 1913. EstudoU direito e aos 21 anos de idade já estava praticando a advocacia. Após advogar por três anos, começou a pregar na Igreja Episcopal Metodista do Sul. No tempo de seu pastorado em Brunswick, Misouri, foi declarada uma guerra, e ele foi feito prisioneiro de guerra por rejeitar fazer o juramento de lealdade ao Governo Federal. Depois de solto, ele serviu como capelão do Quinto regimento de Missouri [para o Exército Confederado] até o término da guerra, quando capturado e mantido como prisioneiro em Nashville, Tennessee. Após a guerra terminar, Bounds serviu como pastor de igrejas em Tennessee, Alabama, e St. Louis, Missouri... Gastou os últimos dezessete anos de sua vida com sua família em Washington, Georgia, escrevendo seus “Livros sobre Vida Espiritual”. Seu fervor e profunda devoção à oração são misturados com uma influência da teologia Reformada, que é evidente em suas muitas obras. Títulos: Essentials of Prayer; The Necessity of Prayer; Obtaining Answers to Prayers; The Possibilities of Prayer; Power Through Prayer; Purpose in Prayer; The Reality of Prayer; Winning the Invisible War .
Tradução de: Editora Batista Regular
Editado por: Israel Carlos Biork
Título original: Power Through Prayer, Edward McKendree Bounds (1835-1913)
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