Muitos de nós que aconselham não tem a vantagem da cronologia. No design ideal de Deus, cabelos brancos e sabedoria correm em faixas paralelas (Provérbios 16.31). Há momentos, no entanto, em que nos vemos aconselhando indivíduos que nos superam em termos de anos vividos, aniversários celebrados e filhos criados.
Eu sou um conselheiro jovem. Tenho trinta anos de idade e sou casado há apenas quatro anos. Tenho um filho e outro chegando em dois meses. Mesmo tendo sido bem treinado em aconselhamento e fazendo aconselhamento por vários anos, minha falta de experiência de vida naturalmente não gera muita confiança por parte de aconselhados que encontro.
Uma preocupação válida
Eu entendo—é completamente natural que aconselhados se preocupem com a juventude relativa e a inexperiência do seu conselheiro. “Você tem metade da minha idade—a idade dos meus filhos!” “Você está casado a um quarto do tempo que eu estou, o que o faz pensar que você pode nos ajudar?” “Você não entende o que é lutar com esse problema por anos.” Estas não são questões hipotéticas; são questões que eu ouço com frequência no início das sessões de aconselhamento. Muitos aconselhados vem ao aconselhamento como último recurso. Eles tentaram arrumar o que quer que fosse o problema deles por conta própria, frequentemente colhendo como resultado ainda mais dor, confusão e desesperança. Aconselhamento não é um jogo para o aconselhado, e é naturalmente alarmante quando—nas suas mentes pelo menos—o último indivíduo entre eles e o desespero tem metade da sua idade.
Voltando aos fundamentos
Jovens conselheiros são forçados a retornar consistentemente aos fundamentos do aconselhamento bíblico. Falta de vantagem cronológica significa que qualquer ideia que eu exponha que não parta da suficiência das Escrituras ou de Cristo como fundamento de toda esperança seja rapidamente taxada como ridícula ou boba. Declarações do tipo “eu acho” não carregam muito peso quando você tem a metade da idade de alguém. Deixe-me sugerir cinco oportunidades centrais que temos como jovens conselheiros—cinco formas em que podemos cuidar bem do povo de Deus e crescer em nosso ofício como praticantes do cuidado bíblico da alma.
- Temos a oportunidade de lembrar as pessoas a respeito da verdadeira fonte de autoridade no aconselhamento bíblico. O aconselhamento bíblico é único ao afirmar que o poder de transformação não está nem no conselheiro e nem no aconselhado. Se a possibilidade de ajuda aos meus irmãos e irmãs reside somente na minha metodologia precisa ou em minha própria experiência de vida, eles teriam uma boa causa para se preocupar. Mas este não é o caso. Eu não tenho nenhuma autoridade a mais sobre um aconselhado de 17 anos de idade do que tenho sobre um aconselhado de 60 anos de idade. O mundo confunde cronologia com autoridade; a Bíblia não (1 Timóteo 4.12; Jó 32.6–22). João 15 é um capítulo que ajuda conselheiros ao falarmos sobre aspectos de santificação—“sem mim nada podeis fazer” (João 15.5). É igualmente aplicável como ponto de partida para nós como conselheiros. Sem Cristo e o seu Espírito, nosso aconselhamento será, no melhor dos casos, em vão e, no pior dos casos, prejudicial.
- Temos uma oportunidade de refletir sobre a natureza de experiências de vida compartilhadas. Muitas vezes a raiz das objeções aos jovens conselheiros é “Você não teve a experiência que eu tive!” Muitas vezes isto é verdade. No entanto, isto normalmente é tão verdade para jovens conselheiros quanto para conselheiros mais velhos. Eu nunca cometi fornicação, fumei substâncias ilegais, ou bati em minha esposa com raiva. Eu sei o que é lascívia, buscar fugir de situações, e ficar irado. Cada jovem conselheiro tem uma experiência compartilhada nas raízes do pecado que levam a manifestações externas mais sérias. Por causa de nossas experiências compartilhadas ao lutar com as mesmas raízes pecaminosas, temos muito em comum com aqueles que andaram por caminhos que nós não andamos (1 Coríntios 10.13).
- Temos a oportunidade de praticar humildade e lembrar de nossas insuficiências. Com as verdades ditas nos pontos acima, também precisamos lembrar dos limites de nossas experiências. Eu preferiria ser um conselheiro de 60 anos do que um conselheiro de 30 anos pelo simples fato de antecipar ser um melhor conselheiro aos 60 anos do que aos 30. Há uma grande quantidade de experiência adquirida ao educar adolescentes na prática que não temos ao falar de coisas que são hipotéticas a nós. Do mesmo modo, não vimos a quantidade de casos que conselheiros mais velhos e sábios viram e podem tirar informações. Esta realidade nos obriga a sermos humildes e conscientes da maneira que buscamos aplicar a Palavra em casos particulares (1 Timóteo 5.1).
- Temos a oportunidade de crescer como conselheiros. Aperfeiçoamento só vem com a prática. Os conselheiros mais experimentes não ganharam experiência simplesmente ao ler sobre aconselhamento, mas praticando. Em meu primeiro aconselhamento conjugal eu fui perguntado, “Você já fez aconselhamento conjugal antes?” “Não, eu não fiz.” Na maioria das igrejas cristãs, provavelmente há conselheiros mais equipados do que você para lidar com os casos que aparecem diante de você. Mas Deus colocou você, um indivíduo que pode ter poucos anos de experiência, mas que é cheio do Espírito Santo e equipado com a Palavra de Deus, que é suficiente para lidar com os que estão sob sua responsabilidade. Enquanto você está nessa posição, o mandamento das Escrituras é simples—cresça (2 Pedro 3.18).
- Temos a oportunidade de aprender com outros que aconselham bem. Pela bondade de Deus, nós vivemos em uma época em que podemos pegar o telefone e receber conselhos e sabedoria em minutos. Na hora em que eu estava escrevendo isso, recebi um telefonema pedindo a recomendação de um conselheiro e um outro de um estudante que desejava observar aconselhamentos para aprimorar seus conhecimentos. Meu próprio aconselhamento foi grandemente aperfeiçoado ao aprender com aqueles que aconselharam muitos casos semelhantes aos meus. Paulo exortou os cristãos de Corinto a seguirem seu exemplo enquanto ele seguia a Cristo (1 Coríntios 11.1). Somos sábios ao fazer o mesmo com aqueles que tem muito a nos ensinar.
[Este post, de autoria de Nate Brooks, foi originalmente publicado no blog da Biblical Counseling Coalition. Traduzido por Gustavo Santos e republicado mediante autorização.]
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