Introdução
Eu não me importo – que vá todo o mundo para o inferno.” Eu estava explicando para um líder da igreja a essência de nosso ministério e como nós podemos ajudar as pessoas que entram em contato conosco. A resposta dele me chocou, para dizer o mínimo. A ira e a veemência de sua afirmação me assustaram.
Uma outra conversa com outro líder da igreja – dessa vez, sobre se os cristãos poderiam ser gays e adotar tanto o rótulo quanto a identidade – resultou em outra resposta que me chocou. Ele olhou diretamente para mim e disse com veemência: “Cristãos gays? O que há de errado com o fato de os cristãos serem gays?” Não era uma pergunta; era um comentário. Goste ou não, a igreja não conseguirá deixar de responder à homossexualidade por muito mais tempo.
Hoje, praticamente todo o mundo conhece alguém que é gay ou lésbica, ou é impactado pela homossexualidade de alguma outra forma. Em um sentido real, a homossexualidade abraçou a cultura, e essa cultura (e algumas igrejas) abraçou a homossexualidade. Tal fato cria um dilema crescente para muitas pessoas dentro da comunidade cristã que são pessoalmente impactadas por essas questões, por mais que queiramos dizer o contrário. Os dois líderes citados acima representam duas respostas polarizadas para a homossexualidade dentro da comunidade cristã.
As nossas duas únicas opções são virar as costas para os homossexuais ou abraçar o seu estilo de vida? De que maneira o povo de Deus, a sua Igreja, deve agir para com aqueles que lutam contra a homossexualidade em nossas igrejas? De que maneira nós devemos responder àqueles que adotaram a homossexualidade como um estilo de vida? Assim como em todas as áreas da vida, a Bíblia e o evangelho de Jesus Cristo têm muito a dizer a respeito da homossexualidade. O evangelho nos mostra uma resposta melhor do que a rejeição ou a aceitação plena. Existe um caminho de Deus de misericórdia e verdade para aqueles que lutam contra a atração pelo mesmo sexo (AMS) e para aqueles que buscam alcançar tais pessoas.
Parte do problema ou parte da solução? A maioria das pessoas que está lendo isso, provavelmente, concordaria com o fato de a prática homossexual ser errada – ou seja, pecaminosa. A Palavra de Deus condena a homossexualidade como uma prática do coração, mente e corpo em todos os lugares e em todos os casos. Na realidade, a Bíblia condena todos os atos sexuais fora da forma instituída por Deus em Gênesis 1.27-28, em que o padrão para a expressão sexual bíblica é definido dentro do contexto do casamento de um homem com uma mulher.
No entanto, se apenas pararmos de rotular a homossexualidade como pecaminosa, estamos bem longe de apresentar, para a família da fé, uma resposta redentora e cristã ao dilema crescente. Muitos de nós estamos lidando com essas lutas que devastam profundamente o coração em nossas próprias vidas e na vida daqueles a quem amamos. Como cristãos, temos de assumir a responsabilidade por algumas das “confusões” teológicas e ideológicas nas quais nós nos encontramos.
Historicamente, nós ou ignoramos esse grande dilema humano para muitas pessoas, ou separamo-lo, ou desassociá-lo de outros tipos de pecados sexuais. Nós estamos esperando que algum tipo de solução mágica e espontânea para as questões sérias de identidade e problemas relacionados ao pecado surja ao longe em vez de encorajar o nosso povo a ser honesto com relação a esses problemas desconcertantes, vergonhosos e bastante reais. Nós não atribuímos aos problemas a mesma importância que Deus lhes atribui – e isso é, e sempre foi, parte da ordem decaída das coisas – apesar de quase sempre acharmos que sim. Na realidade, nada é novo debaixo do sol, embora deixemos, erroneamente, nosso povo pensar desta forma: “Com certeza, nenhum de nós terá de lidar com esse problema”.
A mentalidade apática por parte da Igreja no decorrer dos últimos 50 anos contribuiu para as comunidades gays dos Estados Unidos se tornarem um dos “grupos” com o crescimento mais rápido na história. Hoje, na comunidade gay, muitas pessoas encontram amigos, apoio, incentivo, consolo e uma verdadeira comunidade entre eles mesmos.
Eles se consolam com outras pessoas que compreendem suas lutas e situação delicada, seu passado duro, o caminho doloroso até a autoaceitação, e também os estresses atuais quase sempre com a família extensa e a Igreja. Além do mais, ao relegar a luta contra esse pecado particular para a categoria de “outro”, nós dificultamos para qualquer pessoa admitir que esteja lutando contra a AMS e a homossexualidade. Ao tratar a AMS de maneira diferente e separada de outras lutas e pecados sexuais, dificultamos que a luz do amor e da misericórdia de Deus seja levada para essas pessoas que lutam e para os seus amigos.
Devido à sua natureza, nós atribuímos a esse pecado um lugar sombrio onde a luz não consegue brilhar. Muitos anos atrás, o meu professor do seminário sobre missões, Harvie Conn, ensinou o seguinte a respeito do texto de 1Coríntios 6.9-10: “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus”. Ele ressaltou que o fato de se viver uma vida sem arrependimento quanto a essas coisas era algo que poderia levá-lo a ter muitos problemas nesta vida e na próxima.
No entanto, ele também ressaltou que essa passagem ensinava que existem consequências para os pecadores heterossexuais assim como para os homossexuais, bem como para aqueles que cometem pecados mais “aceitáveis” não relacionados ao sexo. Eu aprendi com ele (e com a Bíblia!) que devemos tratar com seriedade todos os pecados, e não somente aqueles que consideramos pessoalmente ofensivos ou desagradáveis, ou aqueles com os quais não conseguimos nos identificar ou não conseguimos nos ver cometendo Todo pecado é uma ofensa a Deus, independentemente de sua natureza, seja ela sexual ou outra qualquer. De modo geral, um jovem sente e experimenta a atração pelo mesmo sexo em idade precoce sem tê-la pedido e sem ter saído por aí dizendo: “Eu acho que serei gay quando crescer”. Ao separarmos a atração pelo mesmo sexo do âmbito de outras lutas relacionadas ao pecado sexual “normal”, criamos um espaço silencioso que favorece a negligência, pastoralmente falando.
A cultura, nossos corações caídos e as estratégias do maligno conspiram para confundir, perturbar e arruinar a nossa fé, e têm levado muitos de nós a não compreender e reagir conforme as Escrituras nos ordenam. Devemos nos arrepender dessa negligência. Neste momento, nós estamos colhendo o fruto de muitos anos sem discutir e tratar sobre esses assuntos, pastoral e proativamente, em todos os níveis da vida da igreja. Isso significa que temos de mudar de lado e ignorar o pecado e a desobediência? Absolutamente, não.
Significa que o motivo de nossos corações para tratar esse pecado deve ser o amor genuíno e a compaixão – assim como Cristo se comporta para com as outras pessoas pegas em pecados de natureza sexual nas Escrituras. Qualquer tipo de reação por parte do povo de Deus deve ser redentora em essência. Nós precisamos perceber que aqueles que lutam contra o pecado sexual e são capturados por ele estão sempre entre as pessoas com o coração partido. Seja ou não reconhecido ou admitido, o vazio e o desespero são as companhias não só da homossexualidade, mas de todo pecado.
O que nós, a Igreja, estamos fazendo para alcançar, compartilhar o evangelho e resgatar essas pessoas que lidam com a atração pelo mesmo sexo e a homossexualidade? Como seria isso? Quaisquer esforços nesse sentido devem ser intencionaisFaz-se necessário um plano, um foco e uma estratégia, exatamente como seria se tentássemos alcançar alguém envolto em problemas predominantes da vida.
Nós não podemos mais contrapor ou negar o fato de que o nosso povo está, cada vez mais, trazendo uma série de cicatrizes e feridas abertas com relação ao sexo e à sexualidade para o seu relacionamento com Cristo. Além do mais, geralmente, o que está acontecendo e sendo experimentado pelas pessoas “de fora” também está impactando as pessoas nos bancos das igrejas. Ninguém escapa de cair no falso apelo do pecado. Claro, o primeiro lugar para se começar é em nossas próprias congregações. A intencionalidade nessa área significa educar de modo proativo os nossos jovens.
São nos primeiros anos, no geral, em torno dos 10 anos hoje, quando muitos de nossos jovens lutam pela primeira vez contra essas coisas. Com certeza, há vinte e cinco anos, a maioria dos jovens com 10 anos não estava se perguntando: “Eu sou gay?”. Hoje, eles estão fazendo essa pergunta cada vez mais cedo.
Os veículos tendenciosos e voltados à programação cultural da qual não conseguimos escapar de modo efetivo – filmes, televisão, mídia, música e o sistema de educação secular – impõem a pergunta para os nossos jovens cedo demais. Nós devemos preparar e envolver todos aqueles que participam do ministério de jovens, começando desde os primeiros anos do ministério infantil – incluindo os professores da Escola Dominical, os líderes voluntários e, em especial, a equipe de jovens – sobre esses assuntos. Nós queremos que o Jimmy, de 12 anos, seja capaz de se aproximar de um homem confiável do ministério de jovens e admitir: “Eu estou vendo fotos no computador que não deveria ver, e eu sei que isso é errado”.
Nós queremos que a Suzy, de 14 anos, seja capaz de ir até uma mulher confiável de nossa igreja e confessar: “Eu acho que sou lésbica.
O que eu faço agora?”.
Infelizmente, a minha experiência tem me mostrado que a maioria das pessoas que trabalha com os jovens está terrivelmente despreparada e quase sempre fica chocada e sem palavras diante de revelações desse tipo. Qualquer pessoa que lida com jovens ou qualquer pastor de jovens que não seja capaz e não esteja disposto a lidar com essas questões de forma direta, regular e misericordiosa não deve estar no ministério de jovens hoje! Se mais pessoas de nossas igrejas estivessem preparadas para tratar sobre essas questões reais do coração, nós talvez não veríamos tantos jovens de nossas igrejas inclinando-se e sendo influenciados por associações de estudantes gays e lésbicas e por organizações homossexuais no Ensino Médio e no campus universitário. Nós talvez não vejamos muitos de nossos jovens buscando genuinamente, na Internet, ajuda quanto aos seus questionamentos e lutas – só sendo enganados pelas falsidades e teologia ruim com relação à homossexualidade.
Os “anos de silêncio” – quando nem pré-adolescentes nem adolescentes conversam sobre o que está acontecendo em seu interior – devem ser intencionalmente tratados inúmeras vezes pelas pessoas que trabalham com os jovens junto com variadas e diversas mensagens que permitam a revelação de seus sentimentos. A igreja deve ser vista como um lugar auxiliador e seguro para o jovem revelar essas lutas.
Nós também queremos que nossas igrejas ofereçam ajuda pastoral sólida para os adultos que lutam contra a homossexualidade. Muitos homens e mulheres se sentam em silêncio nos bancos de nossas igrejas oprimidos pela vergonha, culpa e constrangimento por causa da atual atração pelo mesmo sexo ou pelo passado homossexual que ainda impede o seu relacionamento pessoal e crescimento em Cristo. Novamente, vamos repetir que as mensagens que permitem essa revelação dos sentimentos devem ser ministradas, o máximo possível, pela liderança, comunicando efetivamente que “nós sabemos e presumimos que essas lutas façam parte de sua experiência – e nós queremos ajudá-los. Juntos, podemos tratar essa questão”.
Muito frequentemente, mensagens contrárias são dadas, verbalmente ou não, e transmitem a seguinte ideia: “Nós somos deficientes nessa área; não podemos lidar com esse assunto”. Tal postura deve acabar se esperamos que o nosso povo busque ajuda voluntariamente. Nós temos de esperar que o evangelho faça a sua obra. Ser maduro espiritualmente em nossa liderança significa o fim da ingenuidade Isso quer dizer admitir, outra vez, a gravidade da queda e perceber que as coisas não são como deveriam ser – incluindo, especialmente, as lutas sexuais do nosso povo.
O ministério maduro aceita as pessoas exatamente onde elas estão – nos diversos estados de desilusão e pecado. Observe essas palavras formidáveis proferidas pelo pastor de uma megaigreja. Toda igreja efetiva terá aqueles que lutam contra o pecado sexual, bem como outros que lidam com diversos outros pecados predominantes na vida. Quando essas pessoas se sentam em nossos bancos, elas estão em vários estágios relacionados à conduta de seus problemas. Algumas estão no momento de negação de que exista o problema.
Algumas sabem que o seu pecado é contrário à lei de Deus e vivem vidas de hipocrisia e decepção. Algumas estão lutando contra vários níveis de sucesso e fracasso para fazerem as mudanças requeridas por Deus. Outras estão regular e efetivamente tendo acesso à graça presente no Evangelho a fim de viver vidas transformadas. O desafio da Igreja é assistir os pecadores em todos esses estágios. Nós evidenciamos o autoengano, expomos o desonesto, confrontamos o rebelde, oferecemos perdão ao oprimido pela culpa, damos esperança ao desesperado e suportamos o rendido. Além disso, a igreja deve convidar e prender a atenção daqueles que, antigamente, jamais ousariam olhar para a Igreja em busca de esperança e ajuda.1 Devemos nos organizar de forma proativa para ajudar aqueles que estão lutando. Hoje, muitas igrejas realizam, com sucesso, estudos bíblicos ou grupos de apoio ou grupos de integridade sexual focados nessas questões e nesses problemas para os seus membros e para a comunidade. Existem lugares onde homens e mulheres podem começar a tratar, quase sempre pela primeira vez, aquilo que tem alimentado seus corações e os levado a estilos ímpios de vida sexual. Essas pessoas também podem aprender, com a ajuda de outras pessoas cuidadosas e solícitas, a tratar as áreas em que ainda são tentadas a caminhar em incredulidade – as mentiras nas quais elas tendem a acreditar sobre outras pessoas e sobre a sua própria identidade, a sua falsa teologia “funcional” e os pensamentos errados pelos quais vivem. É também o lugar onde as pessoas aprendem a como se arrependerem. Como disse certo pastor: nós precisamos aprender a como “matar aquilo que está me matando sem matar a mim mesmo”. Ninguém consegue fazer isso sozinho, mas sim com a ajuda da comunidade de cristãos – incluindo os membros leigos da congregação e, talvez, aqueles com um coração especial voltado para as pessoas que lutam contra esses pecados “compulsivos” específicos. Qualquer tipo de assistência intencional deve ser baseada na verdade e na misericórdia
O fundamento da misericórdia e da verdade, claro, é necessário para ministrar para as pessoas de dentro da igreja, porém, é ainda mais crucial para as pessoas de fora da igreja. Eu estou pensando aqui naquelas que são incrédulas bem como naquelas que podem ser regeneradas, mas se encontram em explícita rebelião, e aquelas com cicatrizes profundas e experiências fragmentadas com a igreja e o cristianismo “organizado”. Hoje, mais do que nunca, esse cenário representa muitas pessoas.
Como nós ministramos para aqueles que não são da família da fé, ou para aqueles que estão desiludidos, abandonados e fora da família da igreja? Significa que nós ainda ministramos para as pessoas com a verdade e a misericórdia do evangelho. Nós não atenuamos a vontade revelada de Deus com relação à ilegitimidade de qualquer tipo de sexo fora dos limites por ele estabelecido, incluindo a homossexualidade. No entanto, nós também fazemos algo que é refletido e demonstrado com excelência por meio da encarnação: nós saltamos, com disposição e alegria, nos buracos com as
outras pessoas, nesse caso, com aquelas que estão perseguindo ou saindo de uma identidade ou de uma vida gay.
Não foi isso que Jesus fez ao deixar as riquezas do céu e vir para a terra por nós? Ele deixou o relacionamento mais íntimo e ininterrupto que já existiu para provar e experimentar a lama, a sujeira e a degradação da humanidade. O ministério do evangelho para aqueles com problemas relacionados à sexualidade fará a mesma coisa. Jesus fez isso por nós; como podemos deixar de fazer o mesmo pelos outros, em especial, nas áreas em que a igreja, no passado, teve uma mentalidade apática e imparcial?
Veja uma pessoa, e não um problema
Demonstrar misericórdia e compartilhar o evangelho com as pessoas envolvidas (seja ativa ou passivamente) parecerá diferente em diferentes circunstâncias. Eu acredito, no entanto, que os métodos bíblicos efetivos incluem alguns elementos cruciais.
Obviamente, nós temos de nos entristecer e lamentar pelo fato de qualquer pessoa enxergar a homossexualidade como a solução para as confusões e feridas da vida. Deixe-me ser direto: nós precisamos chegar às lágrimas, não apenas pelas ideias mal concebidas de onde a vida pode se encontrar, mas também por aquelas pessoas em rebelião absoluta. Por qual razão muitos cristãos reagem à homossexualidade com ira e aversão? Essa é a verdadeira semelhança a Cristo?
No texto de Lucas 19.41, Jesus foi levado às lágrimas e “chorou” à vista de Jerusalém – e por aqueles que o odiavam, o destratavam, rejeitavam a verdade, tinham planos específicos com relação a ele e, por fim, lhe tirariam a vida. Nós temos de pedir a Deus que nos dê o seu coração para as pessoas despedaçadas e destruídas sexualmente. Mesmo se elas não se enxergarem dessa maneira, nós certamente as enxergamos e temos de ser movidos para alcançá-las com compaixão.
Hoje, a maioria dos pontos de vista e percepções de nossa cultura quanto ao cristianismo, em especial, quando relacionados à homossexualidade, provém de evangelistas vociferantes e alucinados da televisão criticando publicamente os males da homossexualidade, e dos gays e lésbicas que se defendem. Além do mais, as discussões a respeito da legitimidade da homossexualidade quase sempre estão mescladas e entrelaçadas com os objetivos de partidos políticos. Em outras palavras, o evangelho e a política se misturam, resultando em uma visão distorcida do cristianismo. Não se pode negar que esse fato impacta a compreensão e a recepção do evangelho.
O livro de David Kinnaman e Gabe Lyons – unChristian – afirma que 91% das pessoas entrevistadas entre 16 e 29 anos disseram que o cristianismo é “anti-homossexual”. Os entrevistados afirmaram que os cristãos demonstram uma raiva excessiva, aversão e, de modo geral, atitudes desafetuosas para com os homossexuais.2 Claramente, a igreja está trabalhando a partir de uma deficiência e distorção das relações públicas. Para a maioria das pessoas, os cristãos não têm nada de importante para dizer a respeito desse assunto. Nós temos de trabalhar para superar e tratar dessas deficiências, os lugares onde o evangelho não foi proclamado com precisão no mercado. Cabe a nós mudar esse paradigma. Sim, nós admitiremos que o pecado é sério e destrutivo, mas também compartilharemos o evangelho e falaremos exaustivamente sobre o ótimo presente de Deus que é o sexo e a sexualidade, mesmo quando chorarmos pelas pessoas e com elas.
Nós precisamos enxergar os homossexuais como Cristo enxergaria – como pessoas, não como um problema. Quando reduzimos as pessoas aos seus pecados ou rebeldias, nós quase sempre reagimos por uma profunda motivação de acertar as coisas porque os nossos próprios sentimentos estão ofendidos. Infelizmente, eu vejo isso por toda a igreja hoje.
Eu já me envolvi em muitas discussões com congregações sobre esse assunto em que fica claro que o maior desejo das pessoas (quase sempre
inconscientemente) é que o homossexual “simplesmente deixe de sê-lo”, seja como eles e se torne heterossexual – não é que conheça a Cristo. Tal propensão trai os nossos próprios corações caídos e o nosso pensamento antibíblico imprudente.
Tratar as pessoas como pessoas significa que nós as enxergamos – e não o problema que queremos concertar ou mudar. Para fazer isso, nós temos de saber quem elas são. De fato, conhecer pessoas leva tempo e requer esforço. No entanto, a oração, a paciência e a tolerância devem estar no cerne de qualquer tentativa de alcançar quaisquer corações perdidos, feridos, confusos ou desorientados. Nosso objetivo não deve ser que as pessoas sejam “endireitadas”, mas que sejam ganhadas para Cristo, inicialmente ou de maneira mais profunda – que elas se tornem verdadeiros adoradores do verdadeiro Deus.
Quando os cristãos proclamam o evangelho para os gays e para a cultura em geral de uma maneira amorosa e redentora, pontuado pela graça e verdade, tal evangelho nos separa e reflete verdadeiramente a pessoa a de Cristo. Em uma discussão tão acalorada e emotiva, os cristãos têm a responsabilidade de representar Cristo, de quatro formas específicas e distintas, para um mundo caído e para as pessoas que estão na prática da homossexualidade.
1. Ouvir com paciência: “Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se” (Tg 1.19, NVI). Em um debate, nós não devemos procurar brechas ou buscar uma chance para criticar, envergonhar ou culpar, nem devemos conjecturar o que diremos a seguir para defender a nossa posição. Nós ouvimos para compreender os “batimentos cardíacos” daquilo que a outra pessoa está dizendo. Trata-se de um trabalho árduo. Não é natural.
É necessário praticar. Aprender a ouvir com paciência é uma maneira de nós amarmos as pessoas com o amor de Cristo.
Amar biblicamente implica em nós gastarmos tempo para observar, enxergar o mundo através dos olhos e da experiência da outra pessoa. Quando falamos muito rapidamente para impor nossos pontos de vista ou apontar um erro, nós não “enxergamos” a pessoa, apenas o problema que achamos que deva ser corrigido. Reagimos com frequência àquilo que nos faz sentir desconfortáveis. O evangelho, entretanto, oferece um apoio mais profundo quando entramos no mundo de outra pessoa. Nós descobrimos o porquê as pessoas acreditam naquilo em que acreditam, o que as faz ser o que são, o que (ou quem) as machucou no passado e tudo o que tem obstruído a sua “audição”. Tratar as pessoas com respeito, como quem leva a imagem de Deus, ajuda a derrubar as barreiras.
Não era esse o método rotineiro de Jesus ministrar? Ele dialoga e demonstra interesse pela mulher no poço – a qual poderia estar achando que ele seria apenas o próximo “pote de ouro no fim do arco-íris ” (Jo 4.1-42). Ele, misericordiosamente, embora, com autoridade espiritual, fala com a mulher pega em adultério (Jo 8.1-11). Ele conversa com a mulher pecadora que derrama perfume sobre os seus pés em respeito (Mc 14.3-9). Por isso, ele era sempre criticado por comer e confraternizar com “os publicanos e pecadores” (Mt 9.9-13).
Ao amar pelo ouvir, nós aprendemos muito mais sobre as pessoas e descobrimos por que elas têm buscado os falsos deuses. Quando não gastamos tempo para conhecer as pessoas, nós temos a tendência de colocá las em grupos, rotulá-las com base naquilo que lemos nos noticiários a respeito “dessas” pessoas e pensamos, erroneamente, que as entendemos.
2. Arrependimento pessoal: “’Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? [...] Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis’” (Lc 13.2-3). Somente um pecador redimido, sabendo que continua condenado, não fosse a morte de Cristo na cruz, pode alcançar um pecador que não sabe que precisa
de redenção. Portanto, verifique a sua motivação antes de se comprometer com alguém. Você está fazendo isso para alcançar uma pessoa perdida com o amor infinito que o encontrou – um amor que o expôs como um pecador cruel, impostor e depravado que foi, sem qualquer mérito próprio, envolvido pelo amor paternal? Você está fazendo isso por perceber que, em essência, você é um fraudulento, desajustado, mentiroso, farsante e não há nada de bom em seu interior que assegure o amor de Deus para você? Você realmente se importa com os homossexuais como homens e mulheres que precisam, desesperadamente, conhecer o amor do Pai – ou, pelo contrário, você preferiria que eles simplesmente se calassem e desaparecessem?
Lembre-se das palavras de Jesus: “Mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama” (Lc 7.47) – ou, colocado de outra forma: “Aquele que foi muito perdoado, muito ama”. A maneira como tratamos os demais pecadores mostra o quanto estamos cientes de nossa própria necessidade contínua do evangelho e da obra de Cristo em nossas vidas. Se não temos amor pelos gays e pelas lésbicas, então, nós não entendemos o amor perdoador de Jesus em nossas próprias vidas.
Em quais áreas precisamos nos arrepender de nossos próprios preconceitos e medos, de nossa indiferença e corações endurecidos? Que trave em nossos olhos deve ser removida antes de nós, em humildade, podermos confrontar ou desafiar outras pessoas? Em quais áreas nós precisamos do evangelho? De quais tentações ou hábitos pecaminosos nós precisamos ser continuamente salvos? O reconhecimento contínuo de nossas próprias tentações e pecados compulsivos – bem como alegrar-se com o fato de que o nosso próprio histórico foi apagado por meio da obra da cruz – devem nos dar um coração de arrependimento de nós mesmos.
3. Instruir com gentileza: “Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de
que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade” (2Tm 2.24-25). Como conversamos com as pessoas que não creem naquilo que nós cremos? Uma abordagem argumentativa que quer ganhar a qualquer custo não se adéqua ao que Paulo escreveu a Timóteo. Nós devemos pedir para o Espírito Santo instruir os nossos próprios corações enquanto buscamos instruir outras pessoas. Ter uma maneira gentil não significa ser fraco ou inseguro em seus argumentos; quer dizer tratar a todos com dignidade e respeito, mesmo quando essas pessoas discordam de nós persistentemente ou são hostis. Na realidade, nós precisamos esperar a hostilidade. Um membro dos funcionários da Harvest USA, Dave White, escreve:
Quando você interagir com alguém enraizado no pecado, perceba que a pessoa quase sempre será árdua e mal-humorada. Ao apontá-la para Deus, afastando-a de seus ídolos, você está tirando dela exatamente aquilo que ela está esperando ou buscando na “vida”. Quando você chama uma pessoa para abandonar suas falsas esperanças, parece que você está roubando o seu cantil de água e deixando-a abandonada no deserto. Em seu medo, solidão e desespero, ela está pronta para atacar aqueles que, agora, lhe oferecem uma nova fonte de vida. A maneira como você reage a esses ataques é essencial para o evangelho enraizar.
Eu participei de muitas conversas com gays e lésbicas, bem como com pessoas que são simpatizantes da causa gay. Aprendi que não tem problema deixar as pessoas me agredirem verbalmente. Aprendi que depois de um episódio em que uma pessoa está na minha frente questionando uma crença profundamente experimentada, há, no geral, um momento de silêncio – um espaço para se respirar – e nesse momento eu posso falar com gentileza. É quando, então, eu posso, quase sempre, fazer uma pergunta voltada para o coração que está baseada em algo dito pela pessoa.
Tratar as pessoas com gentileza abre portas para o evangelho que nem o afastamento nem a reação acalorada jamais abrirão! Essa atitude desarma os corações e os abre como nada mais é capaz de fazê-lo. O problema é que o nosso próprio medo, incredulidade, ira, capacidade de defesa, farisaísmo e despreparo quase sempre se colocam no caminho, por isso, nunca
conseguimos chegar a esse ponto.
Conversar com aqueles que estão cegos para a realidade de seus corações e vivem em um mundo que apoia e aplaude a rebeldia espiritual é tanto um privilégio quanto um desafio. Essas pessoas são vítimas de seu próprio pecado e estão presas nas mentiras e pecados dos outros. No entanto, elas também são responsáveis perante o Deus santo pelas suas escolhas constantes de viver segundo a sua própria maneira e pela recusa de se submeter a Cristo. Nós devemos lidar com ambas as realidades enquanto compartilhamos Cristo.
Instruir com gentileza também significa estar fundamentado nas Escrituras, e não em suas próprias opiniões. A verdadeira questão com relação ao que as Escrituras dizem a respeito da homossexualidade não é se as passagens-chave ainda são ou não relevantes, mas, se as Escrituras, em sua totalidade, ainda têm autoridade sobre toda a vida. O que as pessoas devem rejeitar sempre são as verdades das Escrituras, não a nossa conduta ou apresentação dela.
4. Busque com misericórdia e, depois, envolva-se com o coração: “E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne” (Jd 22-23). Deus não nos chama para sermos solitários nem rudes, mas para nos movermos com ousadia em direção às situações confusas e de alto risco com o evangelho de sua misericórdia. Isso significa que levamos o evangelho onde ele é mais necessário. Nós buscamos e envolvemos o anticristão declarado, o ativista pró-gay, o clérigo moderado que diz que o amor de Jesus
pretende afirmar a homossexualidade como um dom de Deus, a lésbica assumida em nosso escritório, o adolescente confuso e assustado que tem medo de ser gay e acredita que não há outra opção para buscar e a mulher abusada sexualmente que agora vê o relacionamento com outra mulher como sua única esperança.
Demonstrar misericórdia significa importar-se com as pessoas apesar de suas confusões, medos, dúvidas e pensamentos decaídos. Significa ser paciente, persistente e manter-se firme diante daquelas pessoas que dizem que nós somos fanáticos odiosos porque discordamos de suas convicções. Quando agimos dessa forma, nós somos capazes de passar intencionalmente para o mundo de outras pessoas com sinceridade e autenticidade, como servos e companheiros pecadores.
Seguir a Cristo envolvendo pessoas
Certa vez, me aproximei de um homem que estava marchando em uma parada gay há duas horas debaixo de uma chuva forte no calor e humidade de quase 37°C do Sul da Flórida. Eu disse: “Senhor, posso falar com você por um momento?” (Ele parou.) “O que é tão importante para você que o faz passar duas horas caminhando debaixo desse calor e dessa chuvarada? Em que ponto você está tentando chegar aqui?” (O melhor tipo de evangelismo sempre começa com a abordagem do óbvio – o que está à vista, o que nós ouvimos e observamos.)
A seguir, nós tivemos uma conversa que durou duas horas e encerrou com ele me dando um aperto de mãos e me agradecendo por tê-lo parado, apesar do fato de eu ter compartilhado o evangelho com ele e lhe pedido para pensar se Deus poderia ter um plano diferente para a vida dele. Eu o ouvi, escutei as suas preocupações e, depois, envolvi seu coração com questões importantes para ele – e para Deus. Ele, na realidade, me convidou para uma festa com os outros participantes que aconteceria depois da parada.
Envolver as pessoas nesse nível as introduz em sua história mais rapidamente do que qualquer outra coisa, e é isso o que nós queremos. Quando as pessoas se introduzem em suas histórias, as suas histórias e experiências pessoais, elas ficam mais abertas a nós e ao evangelho. Jesus era mestre nisso e nós devemos tentar ser como o Mestre. Com frequência, seus
métodos são os aspectos menos utilizados de evangelismo, contudo, eles exercem o impacto mais profundo e sincero, deixando, quase sempre, as pessoas querendo mais!
Você pode estar pensando: “Certo, tudo isso é legal e bom, mas onde entram a fé e o arrependimento?”. Minha resposta é: “Em todo lugar!”. A consciência da verdade e a convicção do pecado surgem em diversos passos menores antes de se tornarem fé, com F maiúsculo, e arrependimento, com A maiúsculo. Jesus nos busca de muitas maneiras, no contexto de pequenas e grandes coisas. Ele nos busca nos traumas, nos problemas, nas feridas e decepções da vida, na perda de amizades ou empregos – até mesmo no sucesso da vida, em especial, quando nós achamos que temos tudo e somos felizes, mas então, percebemos que não somos. Deus utiliza tudo o que a vida traz para o nosso caminho – especialmente quando ela desaba ao nosso redor – para chamar a nossa atenção e nos fazer começar a questionar as decisões e escolhas. Ele utiliza todos esses mesmos elementos na vida dos homossexuais para também levá-los a Cristo.
No entanto, Deus raramente faz isso do nada. Ele utiliza outras pessoas – o seu povo. Eu tenho visto isso retidas vezes na vida daqueles que vêm para o nosso ministério, ou em qualquer ministério com base na igreja que ajuda pessoas com desejos sexuais e comportamentos fora de controle. Na verdade, essa é a base de um dos livros da Harvest USA, Gays...Such Were Some of Us: Stories of Transformation and Change.4Todas as 12 histórias presentes nesse livro testificam o poder de outras pessoas que fizeram parte do processo de fé e arrependimento em cada vida.
O pecador homossexual precisa e deve experimentar o que todos nós devemos experimentar, o que Thomas Chalmers chamou de “The Expulsive Power of a New Affection” [O poder expulsivo de uma nova afeição ]. Ele explica como o nosso pecado, nossos hábitos e falhas não desaparecem simplesmente pelo processo de razão ou determinação mental
(compreendendo-os ou tentando mais). No entanto, as afeições ruins do coração – que nos mantêm condenados, que nos leva a lugares obscuros, que nos corrompem e que nos roubam da vida verdadeira – podem ser expelidas por algo maior.5
Somente quando nós demonstrarmos verdadeiramente a misericórdia e formos movidos pela visão, conhecimento e sentido de Deus em Cristo, nossas afeições naturais serão transformadas. Somente quando começarmos a compreender o amor de Deus por nós em Cristo por meio das riquezas de sua graça, o apelo de nosso pecado começará a diminuir. Somente quando a graça é compreendida, aplicada e vivida ao ponto de percebermos que nós “estamos” na graça por causa de Jesus – nós não rastejamos, engatinhamos, arrastamos ou deslizamos em sua direção – então, e só então, nós enxergaremos a natureza fatal e que rouba a vida dos ídolos do coração. Essas mesmas verdades são reais para aqueles que lutam contra a homossexualidade.
Uma oração puritana capta muito bem a essência disso, daquilo que tem de acontecer em todo o coração, gay ou heterossexual: “Quando Teu Filho, Jesus, entrou em minha alma, em vez do pecado, Ele tornou-se mais caro para mim do que o pecado tinha sido anteriormente; Teu governo gentilmente substituiu a tirania do pecado. Ensina-me a crer que se algum dia eu tivesse algum pecado subjugado devo não apenas esforçar-me para vencê-lo, mas devo convidar a Cristo para habitar no lugar dele, e Ele deve tornar-se para mim mais precioso do que a luxúria vil havia sido; que Tua doçura, poder e vida estejam lá”. Aqueles pegos pelos desejos impróprios da homossexualidade e aqueles que abraçaram a homossexualidade por completo como vida e identidade, mas que lutam contra, precisam da mesma coisa e são mudados exatamente pelas mesmas verdades. Nós temos fé que isso possa acontecer? Nós cremos que o evangelho ainda traz visão para o cego e libertação para os
encarcerados? Nós estamos dispostos a fazer parte dessa tentativa de salvamento e resgate para a glória de Cristo e regeneração dos pecadores? Se nós concordarmos que temos de fazer parte dessa obra salvífica, haverá uma mudança radical na maneira como “fazemos igreja”, como começamos a tratar essas áreas problemáticas com ousadia entre o nosso próprio povo e como nós entramos e nos envolvemos com o mundo perdido e corrompido.
Traduzido do original em inglês [The gay dilemma and your church: reaching out to those who struggle] por John Freeman
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