VISÃO GERAL DA BÍBLIA
A maioria das pessoas que está lendo este post está familiarizada com a Bíblia. Apesar disso, estou incluindo esta pergunta básica por duas razões:
(1) algumas pessoas que depararão com este post têm pouco ou nenhum conhecimento das Escrituras cristãs. Se isso descreve você, não há lugar melhor para começar do que por esta pergunta.
(2) Até mesmo pessoas que já passaram vários anos lendo a Bíblia podem beneficiar-se ao retornarem aos fundamentos. Espero que minha resposta, apresentada em seguida, seja compreensível para aqueles que ignoram a Bíblia, mas que não seja tão simples que não beneficie aqueles que já são bem versados nas Escrituras.
A Bíblia é uma coleção de escritos que os cristãos consideram singularmente inspirados e autoritários. Embora seja um livro unificado, a Bíblia é também uma compilação de 66 livros ou obras literárias. Essas obras, produzidas por homens de vários períodos históricos, contextos sociais, personalidades e culturas diferentes, afirmam o Espírito Santo como a autoridade suprema e a garantia por trás de seus escritos. Como 2 Timóteo 3:16 assevera: “Toda a Escritura é inspirada por Deus”.
A Bíblia pode ser dividida em duas grandes seções:
o Antigo e o Novo Testamento. A palavra testamento vem da palavra latina testamentum, que significa “aliança”.
Portanto, em sua divisão básica, a Bíblia nos lembra os dois relacionamentos de aliança entre Deus e a humanidade.
O primeiro (antigo) relacionamento de aliança foi ratificado no monte Sinai entre Deus e a nação judaica (Êx 19- 31).
Essa aliança era antecipatória e apontava para uma nova aliança, prometida em Jeremias 31:31, quando Deus atrairia para si mesmo um povo de todas as nações e inscreveria suas palavras nos corações deles (Is 49:6).
De fato, essa nova aliança era nada mais que o cumprimento das muitas promessas salvadoras que Deus fizera no decurso da história – que Satanás seria esmagado por um descendente de Eva (Gn 3:15), que, por meio da descendência de Abraão, todas as nações do mundo seriam abençoadas (Gn 22:18), entre outras.
No Antigo Testamento, há 39 livros de vários gêneros (narrativas históricas, provérbios, poesia, salmos etc.). O Novo Testamento contém 27 livros, sendo também constituído de vários tipos literários (narrativas históricas, cartas, parábolas etc.).
O PROPÓSITO DA BÍBLIA
A Bíblia é, ela mesma, evidência de suas principais afirmações – ou seja, que o Deus que fez os céus, a terra, o mar e tudo que há neles é um comunicador que tem prazer em se revelar a seres humanos caídos.
Em Hebreus 1:1-2, lemos: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo”.
Esses versículos de Hebreus apontam para a culminação da revelação bíblica no eterno Filho de Deus. Esse Filho se encarnou em Jesus de Nazaré, unindo para sempre Deus e o homem numa mesma pessoa – 100% Deus, 100% homem (Jo 1:14).
As profecias, as promessas, os anseios e as antecipações na antiga aliança acham seu cumprimento, significado e culminação na vida, morte e ressurreição de Cristo.
Como diz o apóstolo Paulo:
“Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim” (2 Co 1:20).
O propósito da Bíblia é tornar uma pessoa sábia “para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2 Tm 3:15).
A Bíblia não é um fim em si mesma. Como Jesus disse aos peritos religiosos de seus dias: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (Jo 5:39).
Assim, sob a superintendência divina, o alvo da Bíblia é levar seus leitores a receberem o perdão de Deus em Cristo e a possuírem a vida eterna no relacionamento com o Deus trino (Jo 17:3).
A LINHA HISTÓRICA BÁSICA DA BÍBLIA
A Bíblia explica a origem do universo (Deus criou todas as coisas, Gn 1-2). A Bíblia revela também por que há pecado, doença e morte (os seres humanos se rebelaram contra Deus e trouxeram o pecado e a decadência ao mundo, Gn 3:1-24).
E a Bíblia promete que Deus enviará um Messias (Jesus) que vencerá a morte e Satanás e, por fim, renovará todas as coisas (Gn 3:15; Ap 22:1-5). Deus preparou as coisas para a vinda desse Messias por focalizar sua obra reveladora e salvadora nos descendentes de Abraão – ou seja, os israelitas ou judeus.
Quando Deus outorgou suas leis santas e enviou seus profetas à nação de Israel, isso deixou claro que ele planejava uma bênção mundial que procederia dos judeus num tempo futuro. Deus prometeu a Abraão: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:3, ênfase minha).
De modo semelhante, no livro de Isaías, lemos que Deus falou profeticamente da vinda do Messias: “Pouco é o seres meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e tornares a trazer os remanescentes de Israel; também te dei como luz para os gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra” (Is 49:6, ênfase minha). De acordo com a Bíblia, Jesus inaugurou essa salvação mundial, que será consumada no retorno dele.
Enquanto todas as pessoas são condenadas justamente pela ira santa de Deus, a morte de Jesus na cruz concede perdão àqueles que confiam nele. Uma pessoa se torna parte do povo de Deus – um súdito do domínio do Rei Jesus – por se converter de sua rebelião e confiar na morte substitutiva de Jesus por seus pecados. Como lemos em João 3:36: “Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”.
A consumação da salvação de Deus ainda está para ser revelada.
A Bíblia ensina que Jesus certamente virá de novo (1 Ts 4:13-18). Enquanto eruditos debatem sobre alguns dos detalhes concernentes à volta de Jesus, as Escrituras são claras em afirmar que a morte e o pecado (agora vencidos na cruz) acabarão para sempre (Ap 20:14- 21:4). Todos que receberam o perdão de Deus em Cristo habitarão com Deus para sempre em alegria infinda (Jo 14:2-3; 17:24). Aqueles que se tiverem mantido em rebelião contra Deus não terão uma segunda chance de arrependimento depois da morte; serão punidos com a separação eterna de Deus (Jo 3:36; Mt 25:46).
FUNÇÕES DA BÍBLIA
No abrangente propósito de revelar a Deus e levar as pessoas a um relacionamento salvador com ele por meio de Jesus, há várias funções relacionadas que a Bíblia cumpre, incluindo as seguintes:
Convicção de pecado. O Espírito Santo aplica a Palavra de Deus ao coração humano, convencendo as pessoas de sua falha em satisfazer ao padrão santo de Deus e convencendo-as de sua justa condenação e necessidade de um Salvador (Rm 3:20; Gl 3:22- 25; Hb 4:12-13).
Correção e instrução. A Bíblia corrige e instrui o povo de Deus, ensinando-lhe quem é Deus, quem são eles e o que Deus espera deles. Tanto pelo estudo individual do crente como pelos mestres capacitados da igreja, Deus edifica e corrige seu povo (Js 1:8; Sl 119:98-99; Mt 7:24- 27; 1 Co 10:11; Ef 4:11-12; 2 Tm 3:16; 4:1-4).
Frutificação espiritual. À medida que a Palavra de Deus vai-se enraizando nos verdadeiros crentes, produz uma colheita de justiça – uma manifestação genuína de amor a Deus e amor aos outros (Mc 4:1-20; Tg 1:22-25).
Perseverança. Capacitados pelo Espírito Santo, os crentes perseveram na mensagem salvadora das Escrituras ao passarem por tribulações e tentações na vida. Por meio dessa perseverança, eles ganham confiança crescente na promessa Deus de guardá-los até o fim (Jo 10:28-29; 1 Co 15:2; 2 Co 13:5; Gl 3:1-5; Fp 1:6; Cl 1:23; 1 Tm 3:13; 1 Jo 2:14).
Alegria e deleite. Para aqueles que conhecem a Deus, a Bíblia é uma fonte de alegria e deleite incessantes. Como Salmos 19:9-10 afirma: “Os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos, igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais que muito ouro depurado; e são mais doces que o mel e o destilar dos favos”.
Autoridade suprema em doutrina e obras. Para o cristão, a Bíblia é a autoridade suprema no que diz respeito a comportamento e crença (Lc 10:26; 24:44-45; Jo 10:35; 2 Tm 3:16; 4:1-2; 2 Pe 3:16). A retidão de todas as pregações, credos, doutrinas ou opiniões é estabelecida decisivamente por esta pergunta: O que a Bíblia diz? Como observou John Stott: “A Escritura é o cetro real pelo qual o Rei Jesus governa sua igreja”.
CRONOLOGIA DA COMPOSIÇÃO DA BÍBLIA
Os primeiros cinco livros do Antigo Testamento, os livros de Moisés (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), muito provavelmente foram escritos por volta de 1400 a.C.2 Visto que esses livros descrevem eventos desde milhares de anos antes, é quase certo que muitas fontes orais e escritas estejam por trás de nosso texto corrente.
É claro que a seleção, ou a edição, que Moisés fez dessas fontes aconteceu sob a supervisão de Deus. O último livro do Antigo Testamento, Malaquias, foi escrito por volta de 430 a.C. Portanto, os 39 livros do Antigo Testamento foram compostos num espaço de mais de 1.000 anos, por cerca de 40 autores diferentes. (Alguns livros do Antigo Testamento foram escritos pelo mesmo autor – Jeremias e Lamentações, por exemplo.
Outros livros, como 1 e 2 Reis, não citam explicitamente um autor. E outros livros, como os Salmos e Provérbios, citam vários autores para várias porções.) O Antigo Testamento foi escrito em hebraico, com algumas pequenas porções em aramaico (Es 4:8-6:18; 7:12-12:26; Dn 2:4b-7:28; Jr 10:11).
O primeiro livro do Novo Testamento (provavelmente, Gálatas ou Tiago) foi escrito talvez entre a metade e o final dos anos 40 d.C.
A maioria dos livros do Novo Testamento foi escrita nos anos 50 e 60 d. C. O último livro do Novo Testamento, o livro de Apocalipse, foi escrito talvez por volta de 90 d.C. O Novo Testamento foi escrito em grego, a língua comum de seus dias, embora contenha algumas palavras transliteradas do aramaico e do latim.
CRONOLOGIA DE EVENTOS E LIVROS DA BÍBLIA |
Adão e Eva | h.m.t.4 |
Noé | h.m.t. |
O chamado de Abraão 2000 a.C. |
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O êxodo | 1446 a.C. (primeiros livros da Bíblia escritos por Moisés) |
A monarquia começa | 1050 a.C. (Deus escolhe Saul) |
Rei Davi | 1010-970 a.C. |
Rei Salomão | 970-930 a.C. |
O reino dividido | 931 a.C. (Israel e Judá divididos) |
O exílio assírio | 722 a.C. (destruição de Samaria) |
O exílio babilônico | 586 a.C. (destruição de Jerusalém) |
O período persa | 537 a.C. (retorno dos judeus no reinado de Ciro) |
O segundo templo terminado | 515 a.C. |
Neemias/Esdras | meados de 400 a.C. |
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Malaquias (último livro do Antigo Testamento) | 430 a.C. |
O período intertestamentário | 430 a.C.- 45 d.C. |
O nascimento de Jesus 7-4 a.C. |
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O ministério de Jesus 27-30 d.C. |
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A crucificação de Jesus | 30 d.C. |
O primeiro livro escrito do Novo Testamento | 45 d.C. |
Apocalipse escrito | 90 d.C. (último livro do Novo Testamento) |
4. H.m.t. significa “há muito tempo”. Embora eu creia que Adão e Eva foram pessoas históricas, não me arriscarei a imaginar o ano em que Deus os criou. Isso foi (e todos podemos concordar) há muito tempo até pela naturesa do seu estado até a queda.
SOURCES FOR FURTHER STUDY
Carson, D. A. “Approaching the Bible”. Em The New Bible Commentary: 21st Century Edition, editado por D. A. Carson et al., 1-19. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1994.
Erickson, Millard J. Christian Theology. 2nd ed. Grand Rapids: Baker, 1998. (Ver cap. 10, pp. 224-45).
Marshall, I Howard. Biblical Inspiration. Grand Rapids: Eerdmans, 1982.
Esse resumo de cinco teorias é extraído de Millard J. Erickson, Christian Theology, 2nd ed. (Grand Rapids: Baker, 1998), 231-33. Erickson chama a teoria de inspiração verbal e plenária de “teoria verbal”.
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