Até o início deste século a crença na reencarnação estava restrita a pequenos grupos como a Unity School of Christianity, a Theosophical Society, e a Association for Research and Enlightenment de Edgar Cayce. 1 Pelos anos 80, contudo, não apenas estes grupos ganharam bem mais que um milhão de seguidores, mas celebridades como Jeanne Dixon e Shirley MacLaine popularizaram a reencarnação para as massas. Enquanto cinquenta anos atrás relativamente poucos americanos acreditavam em reencarnação, hoje mais ou menos um quarto de todos os americanos a aceitam, juntamente com cerca de metade da população mundial.2
Virtualmente todos os modernos proponentes da reencarnação no Oeste clamam que ela "está em completa harmonia com o verdadeiro espírito do Cristianismo." A igreja antiga ensinou a reencarnação, alguns dizem, até o sexto século quando foi suprimida em um concílio. Neste artigo nós vamos examinar este clamor que a igreja suprimiu a doutrina da reencarnação.
Reencarnação definida
A doutrina da reencarnação deriva-se da antiguidade, originando-se do Leste, mas também encontrada na Grécia. Ela "ensina que a alma entra nesta vida, não como uma criação recente, mas depois de um longo curso de existências prévias nesta terra e em outros lugares... e que está a caminho de futuras transformações que agora está a formando." 3
De acordo com um conceito oriental de reencarnação, homem dependendo de seus atos em sua existência prévia pode vir em qualquer tipo de forma de vida, incluindo vários animais, bem como a forma humana. Reencarnacionistas do Oeste contudo geralmente defendem que homens e mulheres só podem ser reencarnados em seres humanos. Reencarnacionistas ocidentais frequentemente referem-se à visão oriental como "transmigração" e à visão ocidental de "reencarnação". Tradicionalmente, no entanto, os termos "transmigração", "reencarnação", e "metempsicose" tem sido usados como sinônimos.4 Por outro lado, reencarnação deve ser distinguida de pré-existência da alma. Enquanto que todos aqueles que acreditam em reencarnação devem acreditar que as almas reencarnadas pré-existiram, nem todos aqueles que aderem à pré-existência da alma aceitam a reencarnação. Um exemplo moderno seria os mórmons.
A fundamental e geralmente não mencionada premissa da reencarnação é "monismo", a crença que somente uma realidade existe. Desde que isto significa que todas as coisas são parte de uma realidade essencial, não há distinção real entre Deus, o mundo, e pessoas - eles são todos "um". Neste sistema de pensamento "Deus" é considerado, não um Criador pessoal, mas uma força impessoal ou consciência da qual todos fazemos parte. 5 Assim, Shirley MacLaine declara que "Deus" é "a palavra que usamos para um conceito de energias espirituais incrivelmente complexas" e sugere que "a tragédia da raça humana era que nós esquecemos que éramos cada um Divinos". 6 A reencarnação de uma alma, então, tem sido classicamente entendida como uma jornada de Deus a Deus, o objetivo sendo a reabsorção no Um. 7
Reencarnção e a Bíblia
As crenças que forma o contexto do reencarnacionismo tanto Oriental como Ocidental são claramente incompatíveis com o Cristianismo bíblico. Então, o caso contra a reencarnação ser "Cristã" vai além de suas implicações para a pós-vida, e envolve muito mais que alguns textos-chave da Bíblia. De preferência, a revelação bíblica inteira em seu ensino sobre Deus, o mundo, homem, pecado e salvação se levantam como um todo contra o reencarnacionismo.
No entanto, adeptos da reencarnação no Oeste invariavelmente tentam reconciliar sua crença com o Cristianismo. Se diz que o Novo Testamento foi escrito por autores desconhecidos em um período muito posterior para ser confiável em seu testemunho dos ensinos de Jesus, e então Seus ensinos sobre a reencarnação foram largamente perdidos. (Muitas pessoas rejeitam a Bíblia que temos como um conhecimento não real sobre os ensinos de Jesus). Também é dito que o Novo Testamento foi codificado com exclusões e interpolações incluídas no texto no sexto século e depois por anti-reencarnacionistas, que até removeram livros inteiros, assim que o próprio texto não é confiável. Finalmente, a despeito da alegada tentativa no sexto século de remover a reencarnação da Bíblia, diz-se que certos "vestígios" da doutrina podem ser detectados em alguns textos (ex., Mt. 17:10-13; Jo 3:3,7; Jo 9:1-3; Ef 1:4; Ap 3:12)8.
Não é possível dar uma refutação cuidadosa no espaço limitado deste artigo. 9 Os dados de data, autoria e transmissão dos documentos do Novo Testamento receberam tratamento definitivo por eruditos evangélicos, aos quais o leitor é referenciado.10 Estes eruditos mostraram que todo o Novo Testamento foi escrito no primeiro século, por apóstolos ou associados próximos e que o texto do Novo Testamento foi fielmente transmitido através dos séculos. A respeito do cânon (livros aceitos como inspirados) do Novo Testamento,11 não foi contra a reencarnação que houve a aceitação de alguns escritos e a rejeição de evangelhos apócrifos e outros escritos que foram excluídos do cânon. Ao invés disto, os livros do Novo Testamento foram aceitos porque eles foram escritos por apóstolos ou associados apostólicos e foram rastreados até o primeiro século. Os livros que foram excluídos não eram apostólicos, e foram escritos entre o segundo e o nono século. 12 Além disto, o cânon do Novo Testamento foi desenvolvido no segundo e terceiro século e recebeu sua forma final no quarto século,13 não no sexto século, como os reencarnacionistas clamam. Então, a crítica dos reencarnacionistas é inválida.
O argumento que vestígios da crença no reencarnacionismo podem ser encontradas espalhadas pelo Novo Testamento é basicamente incompatível com outros argumentos já discutidos. Se os livros do Novo Testamento foram escritos por autores desconhecidos tarde demais para serem historicamente não confiáveis, e se escribas do sexto século alteraram o texto do Novo Testamento, qual o valor destes alegados "vestígios"? De qualquer forma, os reencarnacionistas não possuem nenhum direito de citar a Bíblia em defesa de suas crenças se ao mesmo tempo eles argumentam que a Bíblia não é confiável.
Um exame detalhado destes alegados textos-chave para a reencarnação não é possível neste artigo. Contudo, muitos estudos úteis sobre a questão foram publicados por Cristãos, mostrando que a Bíblia simplesmente não contém nem mesmo uma evidência em favor da reencarnação, enquanto que a maioria de seus ensinos principais a contradizem.14
Reencarnação e os primeiros pais da igreja
Reencarnacionistas do Oeste hoje tipicamente argumentam que a primeira igreja mantinha a crença na reencarnação até o sexto século, quando ela foi suprimida pelo imperador Romano através de um concílio da igreja. Para refutar este clamor, nós precisamos primeiro examinar os registros para ver se os primeiros pais da igreja ensinaram a reencarnação. Nosso exame vai revelar que reencarnação não era uma grande preocupação dos primeiros pais, que mantinham a esperança bíblica da ressurreição,15 mas que sempre que discutiam a reencarnação eles a condenavam completamente. Reencarnacionistas fabricaram uma falsa história da igreja primitiva baseada em 1) uma reconstrução deliberada das evidências que ignora a vasta maioria do testemunho dos pais; 2) citações parciais dos pais, geralmente fora de contexto; 3) interpolações nas citações dos pais; e 4) citações fabricadas.
Justino Mártir (c. 100-165)
Justino Mártir foi um dos primeiros pais da igreja. Ele é frequentemente chamado de "um primeiro reencarnacionista Cristão".16 Referindo ao capítulo IV do Diálogo com Trifo de Justino, reencarnacionistas clamam que "ele ensinou que almas humanas habitam mais de um corpo no curso de sua peregrinação terrena".17 O que Justino realmente diz? Ele apresenta um diálogo no qual ele discute com Trifo a questão da reencarnação; ao final desta discussão, o diálogo conclui como segue-se (note que "Eu" é Justino e "ele" é Trifo, o Judeu com quem ele está debatendo; Trifo fala primeiro):
"Então almas nem vêem Deus nem transmigram para outros corpos; pois eles devem saber que então eles são punidos, e eles teriam medo de cometer até mesmo o mais trivial pecado depois disto. Mas que elas podem perceber que Deus existe e que justiça e piedade são honoráveis, eu também concordo com você", disse ele."Você está certo," respondi.18
Clemente de Alexandria (c. 155-220)
Outro pai da igreja que alega-se frequentemente ter ensinado a reencarnação foi Clemente de Alexandria, com base em sua declaração no primeiro capítulo de sua Exortação aos Gentios que "antes da fundação do mundo éramos nós". 19 No máximo esta declaração deveria ser construída (fora de seu contexto) para ensinar a pré-existência das almas. De fato, no entanto, a declaração de Clemente no contexto nem chega tão longe. Ao contrário, ele está simplesmente estabelecendo a pré-existência de Jesus Cristo como o Verbo (ou Logos) e o pré-conhecimento de Deus e propósito de nos criar e nos amar antes da criação:
Mas antes da fundação do mundo éramos nós, quem, por ser destinados a estar n'Ele, pré-existimos nos olhos de Deus antes, - nós, as criaturas racionais do Verbo de Deus, da parte de quem somos datados do princípio; pois "no princípio era o Verbo".20
Note que Clemente cuidadosamente qualifica sua declaração que nós existimos no princípio com as palavras "nos olhos de Deus", significando, é claro, que nossa "pré-existência" era uma idéia na mente de Deus, não como entidades substanciais.
Orígenes (c. 185-254)
Orígenes foi admitidamente um dos mais brilhantes e inovadores teólogos da igreja primitiva. Ele foi também, contudo, infame por suas especulações teológicas. Ele é o pai da igreja mais frequentemente citado por reencarnacionistas como ensinando sua doutrina. Uma passagem frequentemente citada é a seguinte, de Contra Celso (I.32), exatamente como citado pelos reencarnacionistas Head e Cranston:
Ou não é mais em conformidade com a razão, que cada alma, por certas razões misteriosas (Eu falo agora de acordo com a opinião de Pitágoras, Platão e Empédocles, que Celso frequentemente cita), é introduzida em um corpo e introduzida de acordo com seus méritos e ações passadas? É provável, então, que esta alma também, que conferiu mais benefícios por sua [anterior] residência na carne que muitos homens (para evitar prejuízo, não não direi "todos"), ficou com a necessidade de um corpo não somente superior a outros, mas investido de todas as excelentes qualidades.21
Vários comentários a respeito desta passagem devem ser feitas. Primeiro, Orígenes qualifica esta declaração dizendo, "Eu falo agora de acordo com a opinião de Pitágoras, Platão e Empédocles, que Celso frequentemente cita". Esta qualificação indica que Orígenes está argumentando com base nas crenças de Celso, não de suas próprias crenças. Um reencarnacionista, Anthony J. Fisichella, omitiu esta cláusula inteira quando cita a passagem.22
Segundo, a inserção da palavra "anterior" em colchetes precedendo a frase "residência na carne" por Head e Cranston na citação como reproduzido acima muda completamente o significado. Orígenes não está falando sobre uma prévia reencarnação em distinção a uma subsequente reencarnação, mas sobre uma simples encarnação.
Terceiro, o ponto que Orígenes está tentando fazer no contexto foi completamente perdido. Orígenes não está falando sobre o nascimento natural de um ser humano comum, mas sobre a concepção miraculosa de Jesus no ventre de uma virgem. Na primeira metade do capítulo Orígenes refuta a lendária explicação do nascimento virginal que estava circulando entre os Judeus (e foi tomada por Celso) que Maria cometeu adultério com um soldado Romano. Ele então propõe a seguinte questão:
É conforme até mesmo à razão, que aquele que ousou fazer tanto pela raça humana... não deveria ter um nascimento miraculoso, mas o mais vil e infame de todos [ex., um nascimento ilegítimo]? E eu vou perguntar deles como Gregos, particularmente de Celso, que ou mantém ou não os sentimentos de Platão e que a qualquer hora os cita, se Aquele que envia almas para os corpos dos homens, degrada Aquele que ousa fazer tais atos, ensinar tantos homens, reformar tantos da massa de pecadores no mundo, a nascer de forma mais infame que qualquer outro, ao invés de introduzí-lO no mundo através de um matrimônio dentro da lei?23
Então segue-se imediatamente a citação original reproduzida acima, apelando para os filósofos gregos tão respeitados por Celso, para provar que de acordo com seu ensino alguém tão nobre como Jesus obviamente era, não poderia ter um nascimento tão ignóbil quanto Celso estava clamando. Com este contexto em mente, é evidente que Orígenes não está aqui argumentando a favor da reencarnação, o argumento sequer o implica. Ele argumenta com base na pré-existência das almas, uma opinião que ele mesmo mantinha, apesar de que mesmo aqui ele dá como fonte daquela opinião a filosofia grega pagã, não a doutrina cristã.
Mais tarde no mesmo tratado, Orígenes faz o seguinte comentário:
Mas sobre estes assuntos muito, de um tipo místico, pode-se dizer; em manter o seguinte: "é bom manter perto o segredo de um rei", - para que a doutrina da entrada das almas nos corpos (não, contudo, da transmigração de um corpo para outro) não seja colocada antes do entendimento comum, nem o quê é sagrado seja dado aos cães, nem pérolas sejam jogadas aos porcos.24
Esta declaração deixa claro que Orígenes mantinha a doutrina herética que almas humanas pré-existiam seus corpos físicos, mas não mantinha reencarnações.25
Cerca do mesmo tempo que ele escreveu Contra Celso, por volta do ano 247 (e então chegando ao fim de sua vida),26 Orígenes escreveu o comentário de Mateus no qual ele discute bastante se João Batista era a reencarnação de Elias. Sua resposta a esta questão era inequívoca:
Neste lugar [Mt. 17:10-13] não parece para mim que, por Elias, refere-se à alma, para que não caia no dogma da transmigração, que é estranha à igreja de Deus e não ensinada pelos Apóstolos, nem em qualquer lugar é estabelecido nas Escrituras27...
Orígenes então dá início a uma grande discussão da transmigração, argumentando que é contrária à doutrina bíblica de um julgamento no fim dos tempos, e que João não tinha a "alma" mas o "espírito e poder" de Elias (Lucas 1:17)28. Nenhuma declaração mais clara rejeitando a doutrina da reencarnação poderia ser imaginada.
É verdade que Jerônimo, um importante pai da igreja no quinto século, argumentou que Orígenes defendia a reencarnação. Escrevendo uma carta a Avitus cerca de 409 ou 410, Jerônimo acusou Orígenes de defender a "transmigração das almas", incluindo a idéia que espíritos tanto angélicos quanto humanos "podem em punição ou grande negligência ou loucura ser transformados em animais", ou seja, ser reencarnados em animais.29 Contudo, nesta mesma carta Jerônimo admite que Orígenes qualificou suas declarações a respeito do assunto:
Então, para que ele não seja culpado de manter com Pitágoras a transmigração das almas, ele resume a racionalização imoral com a qual ele feriu seu leitor, dizendo: "Eu não devo ser levado a fazer dogmas destas coisas; elas são apenas mencionadas como conjecturas para mostrar que elas não são completamente negligenciadas"30.
Desde que a crítica de Jerônimo a Orígenes está baseada nos primeiros escritos de Orígenes (particularmente "Dos primeiros princípios", escrito entre 212 e 215) e em seus escritos posteriores Orígenes rejeita explicitamente a transmigração das almas, e desde que mesmo Jerônimo admite que Orígenes queria parar rapidamente de manter aquela doutrina, nós podemos concluir com segurança que Orígenes não ensinou a reencarnação.
Jerônimo (c. 345-419)
Como nós acabamos de ver, Jerônimo condenou Orígenes como um herético parcialmente com base nas alegadas inclinações de Orígenes para a reencarnação. É contudo surpreendente saber que vários reencarnacionistas clamam que Jerônimo acreditava na reencarnação! Um reencarnacionista até mesmo cita a carta de Jerônimo a Avitus como prova31 - a mesma carta na qual Jerônimo condena Orígenes por ensinar reencarnação!
Outros reencarnacionistas tem atribuído a Jerônimo a seguinte declaração em sua carta a Demetrius: "A doutrina da transmigração tem sido secretamente ensinada de tempos antigos a pequenos números de pessoas, como uma verdade tradicional que não foi divulgada".32 Uma procura por esta carta, contudo, revela nenhuma declaração desta. Ao invés disto, nós encontramos mais uma vez Jerônimo condenando a doutrina como um "ensino imoral e não-divino" que "se arrasta secretamente como uma víbora em seu buraco".33
A rejeição da reencarnação pelos Pais
Não somente nenhum dos pais da igreja ensinou a reencarnação - nem mesmo Orígenes, que manteve a pré-existência das almas, mas eles rejeitaram explicitamente a noção como completamente contrária à fé Cristã. Nós já temos visto isto no caso de Justino Mártir, Orígenes e Jerônimo. Somente no período ante-niceno (ou seja, antes do Concílio de Nicéia em 325), pais da igreja que rejeitaram a reencarnação ao lado de Justino Mártir e Orígenes incluem Ireneu, Minúcio Félix, Tertuliano e Lactânio.34 Importantes pais da Igreja do quarto e quinto século além de Jerônimo que rejeitou a reencarnação incluíam Agostinho e Basílio.35 Apologistas da reencarnação admiritiram que muitos destes pais da igreja de fato opuseram-se à doutrina da reencarnação.36
Em adicão a esta evidência, todos os pais da igreja ensinaram doutrinas que eram incompatíveis com a crença na reencarnação. Os pais ensinaram que salvação era um dom ganho para nós por Cristo e que no final da era os corpos dos fiéis seriam levantados para a vida eterna e dos perdidos para o julgamento eterno. Os escritos dos pais da igreja são então impregnadamente anti-reencarnacionistas como a Bíblia.
O segundo concílio de Constantinopla
Até este ponto nós mostramos que nenhum dos pais da igreja comumente reconheceram como ortodoxa durante os cinco primeiros a reencarnação. Diante desta evidência, alguns reencarnacionistas apelaram a uma última trincheira de argumentação calculada para minar toda a evidência documental da Bíblia e dos pais da igreja contra sua doutrina. Este argumento é um clamor de que toda ou praticamente toda a evidência da crença na reencarnação foi eliminada da Bíblia e dos escritos dos pais pelo Segundo Concílio de Constantinopla (também chamado de Quinto Concílio Ecumênico) em 553. Leslie Weatherhead, por exemplo, clamou que a reencarnação "foi aceita pela igreja primitiva pelos primeiros cinco séculos de sua existência. Somente no ano 553 d.C. o Segundo Concílio de Constantinopla a rejeitou e somente então por uma limitada maioria".37 Muitos reencarnacionistas clamam que este concílio foi especificamente convocado pelo Imperador Romano Justiniano para condenar a reencarnação e apagar todas as referências a ela da Bíblia.38
Há numerosas objeções que podem ser levantadas contra estes clamores. Primeiro, o cânon do Novo Testamento como conhecemos hoje estava finalizado, no mais tardar, no século quarto, como já explicamos. De fato, nós temos numerosos manuscritos do Novo Testamento datados entre o segundo e o quinto século, tanto quanto manuscritos datados muito mais tarde. Os textos dos manuscritos do Novo Testamento datados de antes do sexto século não se diferenciam consideravelmente daqueles datados do sexto século em diante. Este fato sozinho prova que o concílio de 553 não alterou a Bíblia para suprimir a reencarnação nem qualquer outra crença.
Segundo, o Segundo Concílio de Constantinopla não teve relação nenhuma com reencarnação. O item principal na agenda era lidar com a heresia monofisita, que ensinava que o Cristo encarnado tinha apenas uma natureza (ao invés das duas naturezas de Deus e homem ensinadas pelo Novo Testamento e a igreja primitiva). Tanto naquele concílio ou cerca daquele tempo uma lista de "anátemas" ou condenações foram publicadas contra (entre outras coisas) a noção da pré-existência das almas (como encontrado em Orígenes e alguns de seus seguidores), mas não há qualquer menção feita da reencarnação, que era evidentemente nem mesmo um ponto controverso.39 De fato, outros reencarnacionistas têm argumentado que por causa da dúvida se o concílio em 553 teve alguma relevante coisa a dizer sobre a reencarnação, não há qualquer razão para considerar a reencarnação como oficialmente condenada pela igreja!40 Claro, o quê este argumento omite é o fato de que Cristãos não acreditam na reencarnação porque ela é antitética à cristandade bíblica, não porque eles acham (erroneamente ou não) que ela foi condenada em 553.
Em conclusão, reencarnação certamente não foi suprimida pela igreja no sexto século ou em qualquer outro tempo. Ela foi explicitamente rejeitada pelos líderes da igreja desde o meio do segundo século, e nunca foi tomada seriamente como uma crença que deveria ser adotada por Cristãos. As crenças de Orígenes na pré-existência das almas foi tratada como uma aberração pelos pais da igreja e concílios que vieram após ele. Advogados da reencarnação tiveram que inventar textos não-existentes, interpolar palavras em outros textos, citar passagens anti-reencarnacionistas como se elas suportassem a doutrina e geralmente apresentar uma reconstrução mítica da história da igreja primitiva, a fim de defender que a igreja primitiva já ensinou a reencarnação. Teorias requerendo tais defesas inseguras podem ser seguramente consideradas falsas.
Notas
1. Mark Albrecht, Reincarnation: A Christian Appraisal (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1982), 9.
2. E. D. Walker, Reincarnation: A Study of Forgotten Truth (New Hyde Park, NY: University Books, 1965), 14.
3. Walker, 11.
4. The Encyclopedia of Philosophy, s.v. "Reincarnation," por Ninian Smart.
5. Sobre como o monismo se relaciona com o movimento da Nova Era, veja Elliot Miller, "What Is the New Age Movement?" Forward 8 (1985), 16-23.
6. Shirley MacLaine, Out on a Limb (New York: Bantam Books, 1983), 279, 347.
7. Veja Norman L. Geisler e J. Yutaka Amano, The Reincarnation Sensation (Wheaton, IL: Tyndale House Publishers, 1986), para uma completa análise e crítica de várias formas de crença na reencarnação.
8. Para todos estes argumentos, veja, por exemplo, Joseph Head and S.L. Cranston (eds.), Reincarnation: The Phoenix Fire Mystery (New York: Julian Press, 1977), 134-40; Quincy Howe, Reincarnation for the Christian (Philadelphia: Westminster Press, 1974), 92-97; James Dillet Freeman, The Case for Reincarnation (Unity Village, MO: United School of Christianity, 1986), 75-77.
9. Uma discussão destas questões e como elas se relacionam à reencarnação é encontrada em Albrecht, 36-43.
10. Veja especialmente F. F.. Bruce, The New Testament Documents: Are They Reliable? (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing Co., 1960), Norman L. Geisler e William Nix, A General Introduction to the Bible, rev. ed. (Chicago, IL: Moody Press, 1986), e Donald Guthrie, New Testament Introduction (Downers Grove, IL: Intervarsity Press, 1970).
11. Por exemplo, R. Laird Harris, The Inspiration and Canonicity of the Bible (Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing Co., 1973).
12. Bruce M. Metzger, An Introduction to the Apocrypha (New York: Oxford University Press, 1957), 249.
13. Veja qualquer Bíblia padrão ou dicionário teológico ou enciclopédia sobre este ponto.
14. Por exemplo, Geisler e Amano, 133-54; veja também Albrecht, 36-40.
15. Sobre os pais da igreja e a ressurreição, veja especialmente Joanne E. McWilliam Dewart (ed.), Death and Resurrection, Message of the Fathers of the Church, Vol. 22 (Wilmington, DE: Michael Glazier, 1986).
16. Geddes MacGregor, Reincarnation in Christianity: A New Vision of the Role of Rebirth in Christian Thought (Wheaton, IL: Theosophical Publishing House, 1978), 25.
17. MacGregor, 36.
18. Justin Martyr, Diálogo com Trifo, IV. Todas as citações dos pais da igreja podem ser encontrados em The Ante-Nicene Fathers, eds. Alexander Roberts and James Donaldson, e A Select Library of Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church, eds. Philip Schaff and Henry Wace (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing Co., 1983 reprint).
19. Head e Cranston, 141-42; MacGregor, 48.
20. Clemente de Alexandria, Exortação aos Gentios, I.
21. Orígenes, Contra Celso, I.32, como citado em Head e Cranston, 147.
22. Anthony J. Fisichella, Metaphysics: The Science of Life (St. Paul, MN: Llewellyn Publications, 1986), 134.
23. Contra Celso, I.32.
24. Contra Celso, V.29.
25. Veja também Orígenes, De Principiis ("Do Princípio") III.5, citado em Head e Cranston, 147; esta passagem prova que Orígenes ensinou a pré-existência das almas, mas não a reencarnação.
26. Veja as notas editoriais no The Ante-Nicene Fathers, Vol. X, 411.
27. Orígenes, Comentário de Mateus, XIII.1.
28. Ibid., XIII.1-2.
29. Jerônimo, Carta CXXIV, a Avitus, 4, 15.
30. Ibid., 4.
31. David Christie-Murray, Reincarnation: Ancient Beliefs and Modern Evidence (London: David and Charles, 1981), 59, citado em Albrecht, 47.
32. Joseph Head and S. L. Cranston (eds.), Reincarnation: An East-West Anthology (Wheaton, IL: Theosophical Publishing House, 1968), 38.
33. Jerônimo, Carta CXXX, a Demetrius, 16.
34. Ireneu, Contra Heresias, II.33.1.5; Tertuliano, Apologia, 48; A Treatise on the Soul, 28-35; Minucius Felix, Octavius, 34; Lactantius, The Divine Institute, 18-19.
35. Agostinho, A cidade de Deus, X.30; Basílio, The Hexaemeron, VIII.2.
36. Head e Cranston, Phoenix Fire Mystery, 142-43, 149-51.
37. Leslie Weatherhead, The Christian Agnostic (Nashville, TN: Abingdon Press, 1972), 209-10, citado em John Hick, Death and Eternal Life (San Francisco, CA: Harper & Row, 1976), 392.
38. Noel Langley, Edgar Cayce on Reincarnation (New York: Warner Books, 1967), 179; Leoline L. Wright, Reincarnation: A Lost Chord in Modern Thought (Wheaton, IL: Theosophical Publishing House, 1975), 67; etc.
39. Veja, por exemplo, os artigos sobre "Constantinopla, Segundo concílio de," and "Origenismo", na The New International Dictionary of the Christian Church, ed. J.D. Douglas, 2d ed. (Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing Co., 1978): 257, 734.
40. Head e Cranston, Phoenix Fire Mystery, 158.
Referências bíblicas
Mateus 17:10-13
10 E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro? 11 E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas; 12 Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do homem. 13 Então entenderam os discípulos que lhes falara de João o Batista.
João 3:3, 7
3 Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. 7 Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.
João 9:1-3
1 E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. 2 E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? 3 Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus.
Efésios 1:4
Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;
Apocalipse 3:12
A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome.
Lucas 1:17
E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.
Traduzido do site: http://www.mtio.com/articles/aissar14.htm
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