Zuínglio preparou estes Artigos como pontos de disputa para a Primeira Disputa de Zurique. Esta Disputa ocorreria em 29 de janeiro de 1523. Dependendo da conclusão desta Disputa, o conselho da cidade decidiria ou não adotar o programa reformatório de Zuínglio, o que acabou de fato acontecendo. Para a disputa vieram 600 pessoas que se amontoaram no pequeno salão onde ocorreu. Zuínglio e seus aliados se sentaram diante do ajuntamento em uma mesa que possuía a Septuaginta, o Velho Testamento Hebraico e o Novo Testamento em grego juntamente com uma cópia da Vulgata Latina. Em 14 de julho de 1523 os 67 Artigos e suas explicações foram publicados em Zurique pelo impressor Froschauer.
- Todo que diz que o Evangelho é nada sem a sanção da Igreja, erra e blasfema contra Deus.
- O resumo do Evangelho é que nosso Senhor Cristo, verdadeiro Filho de Deus, nos fez conhecer a vontade de seu celestial Pai e nos redimiu da morte e nos reconciliou com Deus por sua inocência.
- Então, Cristo é o único caminho para salvação de todos que foram, estão agora ou serão salvos.
- Aquele que buscar ou apontar outras portas, erra. De fato, ele é um assassino da alma e um ladrão.
- Então, todos que consideram outros ensinos iguais ou maiores que o Evangelho, erram. Eles não sabem o que o Evangelho é.
- Pois Cristo Jesus é o guia e capitão, prometido por Deus e entregue para toda a raça humana.
- Que ele é uma salvação eterna e o cabeça de todos os crentes que são seu corpo, o qual é morto e incapaz de fazer algo fora dele.
- Disto se segue, antes de tudo, que todos que vivem na cabeça são membros e filhos de Deus. E esta é a igreja ou comunhão dos santos, a noiva de Cristo, ecclesia catholica.
- Se segue, em segundo lugar, que como os membros físicos são incapazes de fazer qualquer coisa sem a cabeça os gerenciando, assim também é impossível para qualquer um no corpo de Cristo fazer algo sem Cristo, o cabeça.
- Assim como uma pessoa é demente se os membros de seu corpo fazem algo sem a cabeça, se machucando, se ferindo e se prejudicando, assim são os membros de Cristo dementes, se espancando e se sobrecarregando com leis insensatas, sempre que eles empreendem algo sem Cristo, seu cabeça.
- Disto nós vemos que os estatutos dos chamados clérigos com toda sua pompa, riqueza, títulos e leis são a causa de toda loucura, pois eles de forma alguma correspondem ao cabeça.
- Assim, eles ainda agem loucamente, não por causa do cabeça (pois o último – pela graça de Deus – alguém ainda tenta restabelecer em nossa época), mas porque não se permite mais que eles sejam néscios, ao invés disto, são forçados a prestar a atenção apenas no cabeça.
- Sempre que dermos ouvidos à palavra, nós adquirimos puro e claro conhecimento da vontade de Deus e somos atraídos a ele por seu Espírito e transformados em sua semelhança.
- Portanto todos os cristãos devem fazer o máximo para que em todo lugar o evangelho de Cristo seja pregado.
- Pois a crença no evangelho constitui nossa salvação, e a descrença, nossa condenação, pois toda a verdade está clara nele.
- No evangelho nós aprendemos que o ensino e os estatutos humanos são de nenhuma utilidade para a salvação.
- Que Cristo é o único eterno sumo sacerdote; disto nós deduzimos que todo aquele que pretende ser sumo sacerdote se opõe à honra e poder de Cristo; de fato, ele o rejeita.
- Que Cristo que se ofereceu uma vez como sacrifício é um perpétuo e válido pagamento pelo pecado de todos os crentes; disto segue-se que a missa não é um sacrifício, mas um memorial do sacrifício e um selo da redenção que Cristo manifestou a nós.
- Que Cristo é o único mediador entre nós e Deus.
- Que Deus quer nos dar todas as coisas em seu nome. Segue-se disto que nós não precisamos fora do tempo presente de outro mediador senão ele.
- Quando oramos uns pelos outros aqui na terra, nós fazemos confiando que todas as coisas nos são dadas através de Cristo somente.
- Cristo é nossa justiça. Disto nós concluímos que nossas palavras são boas à medida que elas são as de Cristo, mas à medida que elas são nossas, elas não são nem justas nem boas.
- Cristo rejeita as riquezas e pompas deste mundo. Disto concluímos que aqueles que ajuntam riquezas para si mesmos em seu nome o difamam enormemente já que eles o usam para cobrir sua própria ganância e devassidão.
- Todo cristão é livre de qualquer uma das obras que Deus não ordenou e é permitido em todos os tempos a comer tudo. Disto nós aprendemos que as dispensações a respeito de queijo e manteiga são uma fraude romana.
- Tempos e lugares são sujeitos aos cristãos, não o contrário; disto nós aprendemos que aqueles que amarram tempos e lugares roubam os cristãos de sua liberdade.
- Nada desagrada mais a Deus que a hipocrisia. Disto nós aprendemos que tudo que simula a bondade aos olhos humanos é uma hipocrisia e infâmia total. Isto se aplica a vestimentas, insígnias, tonsuras, etc.
- Todos os cristãos são irmãos de Cristo e entre si, ninguém na terra deveria ser elevado e ser chamado Pai. Isto anula ordens religiosas, seitas e assembleias ilegais.
- Tudo que Deus permite ou que ele não proibiu é permitido. Disto nós aprendemos que é próprio para qualquer um se casar.
- Que todos aqueles que nós chamamos “espirituais” pecam quando, tendo descoberto que Deus não os deu a habilidade de se manter castos, ao contrário, não se protegem através do casamento.
- Aqueles que fazem voto de castidade se comprometem infantilmente ou tolamente demais. Nós aprendemos disto que qualquer um que aceite tais votos faz injustiça a boas pessoas.
- Nenhuma pessoa particular pode impor a exclusão sobre ninguém, exceto a igreja, ou seja, a comunidade daqueles entre os quais aquela pessoa a ser excomungada vive, juntamente com seu guardião, ou seja, o ministro.
- Somente a pessoa que causa ofensa pública pode ser banida.
- Possessões obtidas impiamente que não podem ser restituídas a seus donos por direito não devem ser dadas a templos, mosteiros, monges, sacerdotes e freiras, mas ao pobre.
- A chamada autoridade espiritual não pode justificar sua pompa com base no ensino de Cristo.
- Mas a autoridade temporal deriva força e afirmação do ensino e obra de Cristo.
- Toda autoridade judicial e a administração da justiça que a propriedade sacerdotal se apropria para si, realmente pertence à autoridade temporal na medida que ela busca ser cristã.
- Além do mais, todos os cristãos, sem exceção, devem obediência a eles.
- Todos os cristãos sem exceção devem obediência a eles, desde que eles não ordenem nada que é oposto a Deus.
- Então todas as suas leis devem se conformar com a vontade divina de forma que elas protejam a pessoa oprimida, mesmo que ele de fato não faça uma acusação.
- Apenas eles estão designados a impor a pena de morte e somente sobre aqueles que dão ofensa pública, sem com isto incorrer na ira de Deus, a menos que ele ordene outra coisa.
- Quando fornecem conselho e ajuda justa àqueles por quem devem dar conta perante Deus, estes por sua vez têm o dever de lhes dar suporte físico.
- Se eles se tornarem infiéis e não agirem de acordo com os preceitos de Cristo, eles podem ser depostos em nome de Deus.
- Em resumo, o domínio de alguém que rege com Deus apenas é o melhor e mais estável, mas o domínio de alguém que rege por seu próprio capricho é o pior e mais inseguro.
- Verdadeiros adoradores invocam a Deus em espírito e verdade, sem qualquer clamor perante o povo.
- Hipócritas fazem suas obras para serem vistos pelo povo, eles recebem sua recompensa neste mundo.
- Assim se segue que o salmodiar e o alto clamor, sem a devoção verdadeira e feito por dinheiro somente, busca ou o louvor humano ou o ganho material.
- Uma pessoa deveria sofrer morte física ao invés de ofender ou desgraçar um cristão.
- Alguém que, por causa de enfermidade ou ignorância, tende a se ofender sem qualquer causa, não deve ser deixado fraco ou ignorante. Ao invés disto, ele deveria ser fortalecido de forma que ele não considere como pecaminoso o que não é de nenhuma maneira pecaminoso.
- Eu não conheço maior ofensa que proibir sacerdotes a ter esposas, no entanto permitindo-lhes se relacionar com prostitutas.
- Somente Deus perdoa pecados através de Jesus Cristo seu Filho, nosso único Senhor.
- Quem quer que atribua isto a uma criatura rouba Deus de sua honra e dá ela a outro que não é Deus. Isto é uma completa idolatria.
- Então a confissão que é feita a um sacerdote ou a um próximo não pode ser tida como a remissão de pecados, mas simplesmente como uma busca por conselho.
- A imposição de atos de penitência deriva de conselho humano – com a exceção do banimento. As penitências não removem o pecado e são impostas meramente para dissuadir outros.
- Cristo suportou toda nossa dor e fadiga. Assim, quem quer que atribua a obras de penitência o que é de Cristo apenas, erra e blasfema a Deus.
- Quem se recusa a perdoar o pecado de uma pessoa arrependida não pode clamar estar agindo em nome de Deus ou Pedro, mas no do Diabo.
- Quem quer que perdoe certos pecados somente por dinheiro é companheiro de Simão e Balaão e o próprio mensageiro do Diabo.
- As verdadeiras Escrituras Sagradas nada sabem de um purgatório após esta vida.
- A sentença daqueles que morreram é conhecida apenas por Deus.
- E quanto menos Deus nos deixa saber sobre isto, menos deveríamos tentar saber sobre isto.
- Que uma pessoa, por preocupação pelos mortos, pede a Deus para lhes mostrar misericórdia, eu não desaprovo. Mas estipular um tempo para isto e mentir por causa de ganho, não é humano mas diabólico.
- De um caráter indelével que os sacerdotes se apropriaram para si em tempos recentes, as Escrituras nada sabem.
- As Escrituras não conhecem nenhum outro sacerdote senão aqueles que proclamam a Palavra de Deus.
- Àqueles que proclamam a Palavra de Deus, as Escrituras nos ordenam a mostrar respeito ao dar a eles sustento material.
- Todos aqueles que confessam seus erros, não devem ser forçados a se reconciliar, mas deve-se permitir que morram em paz, e sua herança deve então ser administrada em um espírito cristão.
- Aqueles que desejam confessar seu erro serão tratados por Deus. Então, nenhuma violência deve ser feita a seus corpos, a menos, é claro, que eles se comportem de uma forma tão indecorosa que ninguém possa fazer nada sem ela.
- Todos os superiores clericais devem se humilhar instantaneamente e levantar somente a cruz de Cristo, e não a caixa de dinheiro. Do contrário eles perecerão; o machado é deitado na raiz da árvore.
- Se alguém desejar discutir comigo taxas de juros, dízimo, crianças não batizadas ou a confirmação, eu me declaro desejoso de responder.
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