Alvin Tofler, em seu livro A Terceira Onda, afirma que a família é a causa principal dos nossos problema.
A crise na família recua aos tempos mais remotos. No começo da história humana, Adão culpou Eva pela sua queda. Na família de Adão e Eva floresceu a erva daninha da inveja e da ira descontrolada, o que levou Caim a matar seu irmão Abel. O piedoso Noé ficou embriagado e o patriarca Abraão mentiu sobre sua mulher, para salvar a pele. Isaque acariciava sua esposa dentro do quarto, mas negava seu relacionamento com ela fora dos portões. Jacó enganou a seu pai e a seu irmão Esaú, usando o expediente da mentira. Os filhos do sacerdote Eli cresceram dentro da Casa de Deus, mas eram filhos de belial. Davi foi um homem de Deus, mas pôs sua vida, sua família e seu reino sob grande risco para satisfazer seus desejos lascivos. Ele cometeu adultério, mentiu, matou e colocou uma grossa máscara para esconder seu pecado. As famílias atualmente enfrentam esses mesmos problemas. Os tempos mudaram, mas nós não.
Vivemos grandes e profundas crises: econômica, social, política, moral e religiosa. O mundo está doente. Há angústia e perplexidade entre as nações.
A globalização enriquece alguns poucos e empobrece muitos. Os bolsões de pobreza crescem assustadoramente nas periferias das grandes cidades, enquanto os poderosos acumulam para si as riquezas das nações. Mais da metade da riqueza do mundo está concentrada nas mãos de algumas centenas de empresas.
As riquezas dos grandes impérios econômicos do mundo, contudo, não lhes garantem paz nem segurança. Os atentados terroristas deixam as nações mais poderosas absolutamente vulneráveis. A derrubada das duas torres gêmeas de Nova York em 11 de setembro de 2001 tornou-se um marco inesquecível na história da humanidade. A explosão de vários trens em Madri no dia 11 de março de 2004 sacudiu o mundo inteiro, alertando-nos que o terrorismo é mais do que um fantasma que ameaça as nações. Há tensões e guerras explodindo no mundo inteiro. A insegurança está presente tanto nos palácios como nas choupanas. A violência cresce entre pobres e ricos, indiscriminadamente. O mundo está de cabeça para baixo. Mas, nesse cenário de crise, nesse caldeirão fervente, nenhuma instituição é mais afetada que a família. Há uma orquestração de forças mortíferas contra a família. Esta vetusta instituição tem sido torpedeada com fúria indomável. A família tem sido vigorosamente atacada pela perigosa filosofia pós-moderna. Os fundamentos da nossa civilização têm sido destruídos (Sl 11.3).
Gene Edward Veith afirma que no mundo pós-moderno os valores absolutos não apenas têm deixado de ser observados, mas também têm sido escarnecidos. Inegavelmente, o pós-modernismo tem uma endêmica aversão pela questão da verdade. Os marcos antigos têm sido removidos (Pv 22.28).
Gene Veith faz o seguinte comentário:
O que nós temos hoje não é somente um comportamento imoral, mas uma perda dos critérios morais. Nós enfrentamos não apenas um colapso moral, mas um colapso de significado. Não existem absolutos e se não existem absolutos, se a verdade é relativa, então não haverá estabilidade nem significado na vida.
O inevitável resultado do relativismo desta era é a falência dos valores morais, a fraqueza da família e o aumento vertiginoso da infidelidade conjugal. Valores relativos são uma conseqüência inevitável do relativismo da verdade. Em 1969, no auge da revolução sexual, 68% dos americanos acreditavam que era errado manter relações sexuais antes do casamento. Por volta de 1987, um período supostamente conservador devido ao surgimento da AIDS, apenas 46% – menos da metade – acreditavam que o sexo pré-marital era errado. Em 1992, somente 33% rejeitavam o sexo pré-marital. A infidelidade conjugal tem sido uma triste marca da sociedade contemporânea.
Os dados são alarmantes e estarrecedores. Pesquisas realizadas entre pessoas de até quarenta anos revelaram que 50% a 65% dos homens casados e 45% a 55% das mulheres casadas têm sido infiéis aos seus respectivos cônjuges.
Outros dados identificam que 26% a 70% das mulheres casadas e 33% a 75% dos homens casados já se envolveram em casos extraconjugais. Os casos extraconjugais, além de serem desastrosamente comuns, têm conseqüências devastadores para os casais e para os filhos.
O divórcio tem sido estimulado como solução para os casamentos em crise ou relacionamentos partidos. Até 1960, 25% dos casamentos terminavam em divórcio. De lá para cá este índice tem aumentado consideravelmente. Comentaristas sociais declaram que 50% dos casamentos realizados nos Estados Unidos terminam em divórcio. Tragicamente, 70% dos novos casamentos surgidos entre os divorciados acabam num período de dez anos. John Stott, em seu livro Grandes Questões sobre Sexo, afirma que a taxa britânica de divórcio, que aumentou cerca de 600% nos últimos vinte e cinco anos, é atualmente uma das mais altas do mundo ocidental. No Reino Unido, um em cada três casamentos termina em divórcio. Nos Estados Unidos a situação é ainda pior, com mais da metade dos casamentos terminando em divórcio. No Brasil, a realidade não é muito diferente.
Mas, o divórcio não é uma solução sábia para a crise no casamento.
Pelo contrário, o divórcio tem demonstrado ser mais um problema do que uma solução, capaz de gerar mais sofrimento e frustração. A psicóloga Diane Medved afirma que alguns casais chegaram à conclusão de que o divórcio é mais perigoso e destrutivo do que tentar permanecer juntos.
A presença de casamentos quebrados e a quantidade de divórcios vêm aumentando cada dia mais, não apenas entre os não cristãos, mas também no meio evangélico. O número de pessoas divorciadas cresce a cada dia dentro das congregações evangélicas. Há também muitos líderes religiosos se divorciando. Charles Colson fez o seguinte comentário em relação a isso:
O índice de divórcio entre pastores está aumentando mais rápido do que entre outras profissões. Os números revelam que um em cada dez pastores já teve um envolvimento sexual com um membro de sua congregação, e 25% confessaram ter mantido relações sexuais ilícitas.
Como na Antiguidade, as pessoas hoje se casam para se divorciar, e se divorciam para casar novamente. Atualmente, muitas pessoas se casam por bem ou por mal, mas não por longo tempo. A Revista Veja de 27/11/2003 publicou um artigo revelando que nos últimos cinco anos o índice de divórcio entre pessoas da terceira idade no Brasil teve um aumento de 56%. O divórcio é uma realidade que não podemos negar. Muitas pessoas certamente preferem varrer o problema para debaixo do tapete. Alguns tentam se justificar, eximindo-se da responsabilidade. E outros buscam subterfúgios e escapes, que acabam prendendo-os ainda mais no cipoal da culpa. O mundo pós-moderno desvaloriza a instituição do casamento. As pessoas parecem sentir repulsa pelo compromisso. Querem viver juntas, mas não querem se casar. E quando casam, não se empenham em tentar superar as tensões e conflitos, desistindo do casamento ao sinal da primeira crise.
Jay Adams afirma que muitos autores “psicologizam” as Escrituras ao discutir a questão do divórcio, em vez de procurarem fazer uma análise profunda e séria do texto bíblico com o propósito de explicá-lo. Isso nos torna biblicamente iletrados nas questões que envolvem família, divórcio e novo casamento.
Neste livro, buscaremos examinar prioritariamente não o que os psicólogos, cientistas sociais ou teóricos do casamento ensinam, mas o que as Escrituras têm a nos dizer sobre isso. O que Deus diz sobre casamento e divórcio não é apenas uma opinião dentre tantas, mas a única palavra autorizada sobre o assunto, por isso devemos nos agarrar a ela. O mesmo Deus que instituiu o casamento deixou também os princípios infalíveis para o seu sucesso. Os valores do mundo mudam constantemente, mas Deus é imutável. Os céus e a terra podem passar, mas a Palavra de Deus jamais passará. Tenho me dedicado ao ministério de aconselhamento de casais há mais de vinte anos. Durante todo esse tempo tenho testificado as tristes e dramáticas conseqüências do divórcio na família, tanto para os filhos como para os cônjuges. Para alguns filhos, o efeito do divórcio é mais devastador do que a dor do luto pelos pais. Para muitos, a ferida provocada pelo divórcio dos pais jamais se cicatriza, transformando-se num trauma que eles carregam no peito por toda a vida, afetando outras gerações. O divórcio atinge mais os filhos do que os cônjuges. O divórcio produz lágrimas e sofrimento. Ele quebra vínculos e separa o que Deus uniu. Uma pesquisa de âmbito nacional entrevistou dezessete mil filhos de divorciados com até dezessete anos de idade, e chegou aos seguintes resultados:
1. Filhos que vivem com a mãe e o padrasto, ou com a mãe divorciada, têm um risco de 20% a 30% maior de sofrer acidentes graves.
2. Filhos que vivem apenas com a mãe como cabeça do lar, são 50% mais susceptíveis a doenças psicossomáticas.
3. Filhos que vivem com a mãe como cabeça do lar, ou com a mãe e o padrasto, têm uma tendência 40% a 70% maior de repetir de ano na escola.
4. Filhos oriundos de casamentos quebrados são responsáveis por mais de 70% dos casos de suspensão ou expulsão escolar.
Uma pesquisa feita pela psicóloga Judith Wallerstein revela que algumas feridas do divórcio não diminuem substancialmente com o tempo.
Ela afirma que “quase a metade dos filhos de pais divorciados entra na fase adulta como pessoas preocupadas, com menor rendimento nas suas atividades e baixa auto-estima; algumas vezes, tornam-se pessoas mais suceptíveis à ira” . Judith Wallerstein ilustra de maneira vívida a devastação provocada não só na vida dos adultos atingidos pelo divórcio, mas também na vida dos filhos:
1. De cada cinco filhos, três se sentem rejeitados por pelo menos um dos pais.
2. Cinco anos depois do divórcio dos pais, mais de um terço dos filhos se sente pior do que antes do divórcio.
3. A metade dos filhos percebe que os pais ainda se desgastam um com o outro, mesmo depois do divórcio.
4. Um terço das mulheres e um quarto dos homens sentem que a vida ficou pior, com mais desapontamento e solidão depois do divórcio.
Não há dúvida de que tanto o casamento como o divórcio são assuntos que merecem a nossa atenção e todo o nosso empenho na busca por respostas certas para as inquietações que atingem a maioria das famílias. Contudo, essas respostas não podem emanar da confusão conceitual e moral daqueles que desprezam o casamento e estimulam o divórcio. Precisamos buscar não a opinião dos homens, mas a direção de Deus. Assim, devemos nos voltar, prioritariamente, não para os manuais recheados de erudição e elucubração humana, mas para a eterna e infalível Palavra de Deus.
Social